terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um corvo preto no céu branco

Um corvo preto no céu branco. Uma nuvem sem fim faz do céu branco. E um corvo preto voando...
Corvo preto não é coisa boa. Dizem que os corvos estão ligados à morte. Quando um corvo chora, alguém morre. CORVO, palavra estranha, lembra cova e lembra corpo. CORVO, palavra muito estranha.
O grunhido que o corvo faz nada tem de canto. Parece um engasgo, uma afronta, uma expressão de desprezo. O pio do corvo é muito estranho.
As asas do corvo são pretas, todas as suas penas são pretas. São pretas as suas pernas e também as suas patas. Os olhos do corvo são inteiramente pretos e seu bico, mais preto ainda. O corvo é inteiro preto. CORVO: palavra estranha, muito estranha.
Tem dias que faz um frio triste e que o céu é todo branco. Parece que uma nuvem dominou o mundo, roubou o Sol e se espalhou por toda parte, uma nuvem branca, mas sem luz, um branco sem felicidade. É mais gelado quando o dia é assim, de céu branco, de nuvem branca pairando sobre todas as cabeças. Tudo fica sem cor, tudo fica igual.
Coisa estranha, coisa mais estranha o que me aconteceu. Estava sem vida , perambulando no dia frio, quando ele surgiu tão belo! Lembrei da poesia, da música e do amor, daquele contraste gostoso, que transforma nosso sorriso, nosso sabor. Nada extravagante, nem foi preciso cor. Um corvo preto no céu branco.

Um comentário:

  1. Gostei da homenagem ao corvo. Bem diferente do famoso poema do Poe. Assim como nas putas do Vinícius, ou nos tomates da Adélia, a poesia repousa mesmo no mais inusitado: mesmo no feio e preto corvo!

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