quinta-feira, 24 de setembro de 2009

À procura dos sábios

Para onde foram os sábios, aqueles tranqüilos senhores imunes à perturbação, assentados na paz do saber, no trono de um conhecimento suave e sem tremores? Por que diabos extinguimos tais anciãos, estes seres em quem podíamos confiar, estes homens que nos revelavam um mistério de paz e doçura?
Ia-se até o oráculo com perguntas, mas não se viam rugas em sua testa, não se via acelerar a respiração, nem roer de unhas ou mexer de pernas. Nada disso. O santo apenas balançava lentamente a cabeça, num gesto de compreensão, matutava um pouco, e, como sem movimentar músculos e quase sem agitar o ar, balbuciava verbos magníficos, palavras caídas do céu, que eriçavam a beleza dos enigmas mundanos até o mais longínquo altiplano, onde nosso sorriso não passa de mais um verso na poesia de uma terra feita de pura verdade.
Ai, mas que sonho bom, que dias tão ensolarados, nem sei mesmo se os sábios existiram, se são mitos, história ou estória, ilusão ou paixão, esperança ou tempo perdido. Sinto falta deles, sem os ter conhecido.
Às vezes fico cansado desta gente verborrágica, que não segura a matraca para disparar disparates. Queria perguntar ao sábio o que fazer diante de tão besta gente, que tudo culpa aos outros, ao capitalismo, às elites, ao neoliberalismo (se alguém souber o que é, por favor, mande um telegrama), à discriminação, ao plano econômico, blá blá blá. Quanta falta de imaginação e de pudor!
Ouvi uma mãe contar a triste história dela e de seu filho, que veio a entrar para as drogas e descambar para o crime e ser aprisionado, em prisões e no desespero. Chorei com ela e com sua sofrida luta. Depois de suas palavras, nada ouvi sobre o descaminhar da juventude, a falta de rigor na educação, sobre os malefícios das drogas, a irresponsabilidade da família e dos amigos, a falta de amor. Nada, absolutamente nada, a não ser que o governo isto, a escola aquilo, a polícia também aquilo outro e a sociedade mais um tanto.
Depois, um juiz de toga antiga contou de sua vida fora dos tribunais. Aprendeu a amar desde cedo e conseguiu ser amigo dos negros, dos pobres e dos doentes, das crianças abandonadas e dos que dormem nas praças. A todo momento, apontava o dedo para o próprio peito e alertava para sua imperfeição, contando como foi desbravar o cipoal de sua alma.
Mas o juiz não estava tranqüilo, não estava em paz. Sim, parecia até ser feliz, mais do que a média, talvez. Só que não era o sábio, não, não se parecia com aquele senhor imperturbável, de serenidade sólida e coração macio. Gostei de conhecer seu exemplo, de compartilhar seus sentimentos. Porém, nada de grande encantamento, de procurar seguir, nenhum ímpeto de discípulo. Aquele sujeito era como eu, quem sabe melhor do que eu, mas não deixava de ser assim miserável, como sou e somos.
Parece que estamos esperando algo acontecer e este algo não aparece. Teima em ficar na espreita, atrapalhando nosso sossego, não vem nem vai, não chega nem sai. Deve ser a pós-modernidade... Piada sem graça. Coisa mais desnecessária inventar palavras para dizer que simplesmente não sabemos o que está havendo. Os sábios fazem muita falta.

2 comentários:

  1. Vamos à procura deles! Eles estão por ai, talvez escondidos... Os espertos e tolos é que surgem facilmente, porque correm depressa atrás de tudo, estão por ai, querendo conquistar todos os espaços... Os sábios trabalham quietos, lutam quietos, afastam-se da gritaria e da idiotice do mundo. Vamos encontrá-los! Que o Bruno nos ajude, talvez o último sábio que encontramos.

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