METACAMINHANÇA

Há algum tempo os caminhantes têm pensado a respeito da identidade disto a que chamam caminhança, bem como sobre a compreensão do itinerário percorrido até agora. Eis algumas destas reflexões inconclusas...






Para mim, a caminhança é o caminho de minha vida. Não qualquer caminho, nem somente minha história até aqui. Mais do que isso tudo, é o centro de minha alma, que já viveu muitas experiências e que projeta no futuro suas intenções e seu ser, tudo em vista de um chamado, uma voz que, hodierna e misteriosamente, nos fala em um ouvido muito íntimo, que às vezes só temos em sonho... Essa voz, para mim, é Deus. Nosso Senhor nos chama cada um a cumprir seu papel, que coincide exatamente com o que há de melhor em nós, e que significa a realização máxima do que poderíamos querer e ter nessa vida. Mas é difícil afinar o ouvido e ouvir a Sua voz. Às vezes nos perdemos nos barulhos da vida. Pois é. Mas, se exercermos a memória, lembraremos de momentos de luz, de momentos em que essa voz se torna clara, tão translúcida que é impossível não a reconhecer. Muitas vezes esquecemo-nos da verdade, em outras ela se insinua, sem se mostrar, em outras ainda quase a tocamos, num resvalar; sim, tudo isso acontece, mas há certas ocasiões preciosas em que ela se mostra toda para nós, mesmo que ainda não tenhamos palavras para dizer o que vimos, nem para os outros, e nem para nós mesmos. Quem nunca viveu momentos assim? A caminhança é o percurso que fazemos para seguir esta voz, para buscar aquela verdade fugidia. Sei que isso não é lá muita coisa, que é obscuro demais, vago demais, mas é o melhor que posso fazer até aqui.

Só acrescento que a caminhança de cada um de nós, ao que me parece, toca a dos outros, ainda que cada um tenha sua própria. Lembro do remoto início dela: o chão de uma velha academia e três moleques conversando sobre o mundo, Deus e o homem, lá pelos idos de 2005, é pessoal, já se foram quatro anos... Depois, a peregrinação lusitana de Miguel e, nesse momento, a aparição do Tolentino na vida do Pedro e na minha. Em seguida, volta Miguel e, novamente, ele e eu vamos atrás do poeta. Por fim, a aproximação de Antonio Carlos, a caminhança, muitas mudanças, experiências, a visita à Adélia Prado, a estadia na terra do Guimarães e muitos outros episódios vividos individual e coletivamente... Cá estamos e tenho certeza de que nada disso vai dar no precipício, coragem, vamos adiante!

Sinceramente, não vejo tristeza rondando no ar, só vejo amigos lutando para carregar os fardos que a vida vai trazendo. Claro que em um momento ou outro pode haver lágrimas, pois a batalha é dura e as circunstâncias mudam e até nos esmagam, mas o importante me parece lutar para mantermos a alegria interior, ou seja, a certeza de que se está agindo de acordo com o que é bom. Gosto de pensar nos mártires da Igreja dos primeiros tempos, morriam felizes, embora seja difícil crer que estivessem com um belo sorriso estampado no rosto.

Também não acho que estejamos fugindo de nossa vocação, basta lembrar que o caminho se faz ao caminhar, como muito bem lembramos de nosso blog. Ao longo de nossa caminhada, descubriremos novas portas, novos rumos e novos atalhos que sequer tínhamos imaginado anteriormente que existiam (será assim ao longo de toda a vida, a não ser que nos acomodemos, desistamos de crescer e nos contentemos com o que já conquistamos). Diz a atropologia que o homem é um ser in fieri, por fazer, inacabado, que se transforma à medida que atua de modo bom ou de modo mau, tornando-se melhor ou pior. Claro que agora falo da dimensão ética/moral de nossos atos.

No tempo que cheguei a estudar diariamente assuntos filosóficos, às vezes, teológicos, uma das minhas maiores conclusões é que todos esses estudos são obra para a vida toda, assim como o direito. Não será do dia pra noite que dominaremos tudo isso. Além disso, penso que nossa caminhança não quer dizer necessariamente que todos devem se dedicar ao estudo da filosofia... Há muitos caminhos a serem desbravados nessa caminhança...

Porém, como disse antes, é tempo de despertar, tempo de arregaçar as mangas e partir para a guerra. Eu me acredito corajoso, nada de especial, mas sempre pensei ser capaz de correr atrás de bandidos e coisas assim. Todavia, quando me surgia um desafio intelectual de grande envergadura, me acovardava. Já pensou aprender latim, quem sabe grego? Estas coisas me parecem aterrorizantes. Ora, meus caros, deixemos a covardia de lado, e partamos para a batalha. Pois é, meus amigos, façamos nosso exame de consciência e, em confissão, vejamos se não estamos nos escondendo, por medo, por fuga de nossa vocação.

Vejo que em todos nós há uma constância: uma fome e uma sede muito grandes, por algo que ainda não sabemos bem o que é. Sabedoria, ideal, vocação, santidade, Deus. Mas qual o caminho que nos levará a isso tudo? Por onde ir? Que decisão tomar?
Até pouco tempo estávamos bem acomodados na faculdade... Uma aventura ou outra, mas tinhamos um porto seguro para retornar. E um porto seguro importante e valioso (por imperfeta que fosse). Perdemos este porto, esta referência. Assim, num estalo. O aquário tombou e fomos lançados no mar (ou será apenas um tanque um pouco maior?).
Por isso o tempo é de angústia, de dúvida. Porque novas decisões precisam ser tomadas. Porque um homem não é nada sem ter um rumo, um objetivo. Mas qual será o nosso rumo? Que caminhos tomaremos na encruzilhada? Afinal, a vida precisa continuar.
A decisão, definitivamente, não é simples. Já não somos moleques. Avistamos melhor a realidade, enxergamos um pouco mais longe. Vemos a seriedade da vida, o peso das decisões. Sentimos na pele a nossa responsabilidade (imaginamos que sim...). Nos conhecemos melhor, reconhecemos melhor nossos dons, nossos gostos, nossas afinidades. Tudo se torna mais difícil (e mais belo, talvez?).
Mas não nos esqueçamos que não vamos realizar a vida toda num único passo. Não será agora a última dor. Nem a última decisão. Nem serão as nossas últimas ilusões. A vida só começa. E tudo se constrói na caminhança. Tenhamos calma... Na esperança... Na paciência. Sem medo de errar, de retomar, de reconstruir. Não queiramos abraçar o mundo. De fato, a tarefa que nos propomos é para uma vida. Cada um de nós achará o seu caminho particular. Mas com calma, vivendo cada coisa a seu tempo.
No mais meus amigos, o que mais quero é tê-los por perto. E rezo muito para sempre contar com meus amigos ao meu lado. A caminhança é muito melhor tendo os amigos de verdade por perto. E a vida é muito perigosa, o caminho cheio de meandros, para se confiar apenas no próprio taco. Precisamos de boas armas e os amigos são as melhores. Vamos seguindo, juntos... Com calma, pacientes, com o coração cheio de esperança.


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Meus caros, é urgente o que tenho a dizer-lhes. É que o blog, a caminhança virtual, está insuficiente! É curto demais, é impróprio, é pouco. A sede aumenta, aumenta, dia-a-dia. O que fazer? Vou morrer de sede? Porque o pacto está se prolongando demais... Cada instante uma nova concessão... Até quando? Esta nossa distância, os dias passando... Desculpem se não comungam do mesmo sentimento. Mas a nossa escola, viva, forte, real, é urgente. Não posso mais esperar. Ah! Basta! Vamos nos refugiar até quando? Ficar escondidos? Cansei de estar calado, de a tudo pactuar, de tudo conceder! Quero ser inadimplente! Dar o calote! Deixar que venha! Quero arregaçar minhas mangas, comprar tijolos, argamassa, andaimes. A escola vai nascer! Quero suar sangue, construir cada parede, fazer o reboco, o telhado. Fazer o cimento, usar a pá, ser pedreiro do nosso monumento. Da nossa casa. Quero construir a minha morada, com meu suor, com a minha carne. O nosso lugar, o lugar do encontro, da vivência. A nossa Ipanema do Tom e Vinícius, o nosso ateliê, a nossa Paris dos pintores, a nossa Itália renascentista! Chega! Eu não posso mais. Não mais o sorriso disfarçado no canto do lábio, não mais fingir que não vejo, não mais ficar calado diante do absurdo, não! Por que as víboras podem desfilar de cabeça erguida enquanto nós recuamos? Não! Não vou acabar no porão da burocracia, caladinho! Não vou virar o funcionário público do seguro de saúde e férias anuais! Não vou! Não agüento mais esta ladainha... Não agüento mais participar disso tudo, deste discurso vazio, deste politicamente correto, desta futilidade! Não agüento mais essa diversão tosca, esta gargalhada insuportável de todos os lados! Meus amigos! O blog é pequeno demais. Precisamos de mais, muito mais. Quero pôr a boca no mundo! Quero despactuar expressamente e desfilar o contrato rasgado! Basta! O pacto me sufoca, cala-me. Até quando? Sinto que é preciso romper, ou ele nos tomará... É preciso rompê-lo! Sem medo. Quero ser apontado na rua. Quero ser o que ficou louco, o que se perdeu! Quero ser o desacreditado, o maluco, o doido de pedra. Lembro da passagem em que Francisco atira todas as roupas do seu armário pela janela, na pequena cidade de Assis. Tido por louco, expulso de casa. Depois se despe em praça pública e entrega tudo o que lhe resta ao pai, e sai perambulando sem nada pelas ruas. Louco! Certamente um louco! Quanto a nós? Covardes? Tudo em nome de um pacto! Uma merda de um pacto! Até quando? Até quando?










Também sou louco de pedra. Meu Deus, meu Deus, quantos sinais já enviaste!
Fico com medo, com medo de que Deus me compare com Francisco. Não, não posso com isso tudo, sou fraco demais, sou pequeno demais, sou rico demais para me fazer como Francisco. Que dor, que dor, meus amigos, que dor é ver esses exemplos, essa beleza cheia de grandeza, que nos escancara nossa covardia.
E aí o grito amigo, um grito que vem num segundo e que me assusta aqui na selva de pedra, neste edifício de pedra, cheio de ternos e gravatas, e mendigos e loucos na praça.
Não sei meus caros. E nem sei se tenho a força para saber. Que o amigo me ajude, porque não sou Francesco. Talvez até pudesse, em visita ao amigo, começar a construir a igrejinha também e acabaria por ficar ali. Mas sozinho não vou, talvez até precise ir amarrado. Que diabo, sou capaz de reclamar do calor nesta sala com ar condicionado...




Bom, então vamos começar a construir a nossa casa, a casa real, vamos reunir toda a explicação sobre a caminhança (o projeto) e botar a mão na (arga)massa. Mas ainda acho que podemos ir meditando melhor no assunto, refletindo, dando voltas, eu também tenho muitos impulsos (Que bom! Sem eles não saímos do lugar), mas precisamos olhar todos os prismas dessa caminhança, saber o que ela é em todos os seus ângulos, ter tudo milimetricamente calculado, tudo sob controle (ou não queremos que ela saia perfeita?). Olha que a contradição está por aqui, a caminhança não se faz caminhando? Então, vamos! Não importa pra onde, mas precisamos dar passos! Vamos rumo à caminhança! Vamos erguer essa castelo! Vamos!








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Meus caros, acho que precisamos repensar nossa Caminhança. Um novo ano começa... Sei que não é nada seríssimo, mas quando nos propusemos a começar a escrever o blog, nossa idéia estava mais forte do que hoje. Tenho visto vários blogs e sites interessantes por ai... As pessoas divulgam, escrevem com assiduidade, tem leitores... É uma fonte interessante de troca de idéias, um espaço que pode ser bem aproveitado. Lembro que no início nossa idéia era esta... Mas o blog está completamente à míngua. Talvez fosse o caso de pensarmos se vale mesmo a pena mantê-lo, se estamos disposto e se o queremos de fato. Porque é um tanto frustrante vê-lo abandonado como está... Acho que não haveria problema de chegarmos à conclusão de que, por hora, este projeto não tem como continuar... Ou de que não estamos com vontade de construí-lo agora... Sei lá... Mas deixá-lo assim "às traças", acho pior. Dá a impressão de que já a abandonamos sem assumirmos isto claramente...

Eu tenho um apreço pela nossa idéia e acredito realmente que dela podem surgir bons frutos. Mas para isso precisamos querer de fato investir nela. Senão se torna, de fato, uma perda de tempo. Para o próximo ano, por exemplo. Eu o penso como uma espécie de "jornal", sei lá. Não é de hoje que grupos de amigos fundam meios de comunicação como este. Por que não? O blog pode ser um meio de contribuirmos com a divulgação de verdadeiros ideais, através dele podemos nos aproximar de pessoas, podemos pensar o nosso tempo, divulgar nossas idéias. Outro dia falávamos em como ajudar as pessoas, em como fazer o bem. Então... Quem sabe no futuro não se torna um site... Acho que todos nós gostamos de ler, discutir, trocar idéias... Temos certa vocação para o estudo, para a reflexão... Por que não utilizarmos esta ferramenta, mesmo informal? Pode ser o começo de algo maior... Da nosa escola de humanidades... Enfim, meus caros. É uma indagação e um convite. A caminhança vai continuar? Queremos de fato que ela continue? Se sim, por que não levá-la mais a sério? Por que não investirmos o nosso tempo nela e fazermos algo no capricho?

É impossível que a caminhança deixe de existir. Se deixo de caminhar, seja para onde for, estou fadado à morte, perambular é meu destino de aventureiro e explorador de todas as realidades terrenas e imaginárias. Ainda que me estirpem as pernas, continuarei com a caminhança, nem que para isso precise rastejar!
Claro que estamos em uma fase da vida extremamente complexa: início de um ofício, descobertas ininterruptas, mudanças sem fim, constituição de família, esponsabilidades, dramas humanos que se nos apresentam, enfim, o início da vida adulta sem ainda estarmos completamente maduros para enfrentá-la.
Mas já vivemos uns bons anos e sabemos muito do que queremos e do que repudiamos. Certamente, o convívio de verdadeiros amigos é uma das coisas que não desejamos abandonar. Amigos que tem a coragem de dizer o que realmente pensam, que não deixam de dizer uma palavra mais dura quando notam que estamos no caminho errado, que estão ao nosso lado nos momentos bons e ruins, que compartilham de ideais semelhantes sem deixar de perder o contato com o chão que sustenta nossos pés, que querem viver e pensar conforme a verdade. Não acho que a caminhança esteja morrendo, ela está criando forma, ainda que lentamente... Não num mero blog, mas no íntimo de cada um de nós... Claro que o blog é uma das manifestações concretas dessa caminhança mais profunda que aflora cada vez que nos encontramos e falamos de nossas coisas, mas a caminhança não é esse blog (também gosto dele, mas Deus me livre...). A caminhança é muito melhor e mais importante que o blog e está cada vez mais bem preparada, criando contornos mais nítidos, densidade, profundidade... Ainda que por vezes nos desanimemos, tudo isso faz parte da formação de nossa vida intelectual, certamente uma vocação que, em certa medida, cada um de nós tem e que, com os anos, tende a ir se delineando. Não podemos deixar que nosso ofício e demais afazeres tomem conta de tudo, de modo que abandonemos a vocação, seria simplesmente absurdo. Não! Essas tarefas devem ser aproveitadas em nossa vocação, servir de descanso, de contato com o real, de especialidade para que não nos distanciemos da verdade em abstrações absolutamente mentirosas como muitos "intelectuais" universitários costumam fazer, chegando a ter conhecimentos, porém completamente irreais, mentirosos, falaciosos... Estamos em um momento que nos desgasta, precisamos nos dedicar "menos" à vida intelectual para ir atrás dessas obrigações... Não encaremos assim! Em cada uma dessas obrigações continuamos a viver a vida real sem deixar de ter esta vocação, de modo que devemos aproveitar tudo para esse crescimento e para que cheguemos a ser o que devemos ser. A verdade e a bondade, se procuradas vão nos ajudando a ser cada vez melhores, independentemente do que estejamos fazendo, o progresso é inevitável. Mas chegará o momento, se tiver que chegar, em que nos dedicaremos com mais afinco a coisas que nos instigam mais, mas para isso precisamos ser fiéis no pouco, no aparentemente pouco, pois a vida se faz de pequenas coisas, a vida é um somatório de pequenas coisas, só é fiel no muito quem é no pouco.

Não nos afastamos da caminhança... Não mesmo... Eu nunca pensei que a caminhança estivesse morrendo... (às vezes a gente tem medo, desanima, é verdade, mas passa logo...), nem muito menos que a caminhança fosse apenas o blog... Claro que não! Acho que foi um momento como aqueles em que olhamos para a mulher amada e precisamos ouvi-la dizer "Eu te amo". Porque o amor, assim como a vocação e a amizade, precisa deste cultivo, desta água diária (principalmente com esse verão brabo que anda fazendo...). A caminhança é muito mais que o blog, mas é claro que o blog ajuda a cultivá-la... Vê-lo "abandonado" tem um significado. Por isso, preferia esquecê-lo, se fosse o caso. Exatamente porque a caminhança não depende dele. Mas se ele existe, então devemos bem tratá-lo, claro...

Estou acabando de ler "Vida Intelectual" do Sertillanges. Ele fala da importância de escrever para criarmos um estilo, ainda que a escrita deva ser simples, retratar as coisas como são, não ser uma forma de imprimir nossa vaidade às coisas, ainda que tenhamos nossa marca pessoal. Incentivou-me a criar o hábito. Tudo o que pensamos, lemos, vivemos não pode morrer conosco, escrever é uma forma de compartilhar, de ter os frutos da maturação de tudo em nosso interior. Eu não deixo de ter momentos de inspiração, sempre tenho, como todos... Mas vou deixando para depois o momento da escrita e pode ser que aquela visão única morra comigo, talvez uma verdadeira descoberta... Cada pessoa é única, insubstituível e não pode deixar de dar sua contribuição... E o exercício da escrita vai fazer com que melhoremos e mais, a escrita é virtude prática, melhora na medida em que exercitamos mais, ainda que as bases todos nós tenhamos. Escrever certo simplesmente quer dizer que aprendemos a pensar, a linguagem está umbilicalmente ligada ao pensamento, as pessoas não sabem mais escrever porque não sabem mais pensar. Só receberam informações, não foram formadas de verdade, aí ficam com aquele amontoado de coisas na cabeça sem saber trabalhar com cada uma delas, sem saber a origem delas, etc. Certamente, mais para frente não vamos gostar de muito que escrevemos lá atrás, mas é assim mesmo, se não escrevermos hoje, "mais para frente" nem vai existir... Defendo que o blog ainda deve ser um espaço de exercício, de encontro, é uma criança, ainda não tem nem dois anos! Já pensaram o nível que ele terá se chegar aos dez anos com um texto semanal de cada um? Nossa!!! Já será um legado que teremos deixado à posteridade, um verdadeiro "Núcleo Artístico e Cultural Caminhança"... Afinal, não é todo dia que quatro pessoas se unem e decidem levar um projeto adiante!

Percebo que o silêncio é apenas aparente... Cada um de nós, sozinho, cultiva a sua pequena caminhança... Mas é preciso compartilhar, caminhar juntos, incentivar... Porque, às vezes, esquecemos que não estamos sós... E a solidão escura pode nos enfraquecer, pode trazer desânimo (como de fato enfraquece, muitas vezes...).
Que beleza este pensamento sobre o exercício da escrita... Acho que foi isto mesmo que sempre nos motivou a escrever o blog... Há uma necessidade de criar este verbo a que o autor se refere... Também acredito neste nosso legado e tenho grande confiança neste "grupo"... O próprio Olavo alerta para importância de formar estes "grupos" fundados na amizade e na vocação... Não subestimemos a nossa pequena caminhança...


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Falo novamente da caminhança. Puxa vida, que preciosa é nossa amizade, que precioso é este espaço que construímos entre nós, corporificado hoje em dia pelo nosso blog. São tempos difíceis mesmo... Este sentimento de isolamento que nós todos tantas vezes sentimos, não é mesmo por acaso... Quanto mais nos aprofundamos nesta nossa "missão", mais vemos o quanto o terreno está lodoso... É verdade. Mas não estamos sós! A internet nos salva do isolamento... Falta aquela convivência diária, é verdade. Faz muita falta. Mas saibamos aproveitar o que temos. Mais uma vez sinto que nosso pequeno blog tem uma importância verdadeira, porque é um espaço para expressarmos livremente nossas idéias, nossas angústias e de reforçarmos um no outro a verdade, a retidão, num mundo que fica a todo momento nos empurrando para o erro. Quando sento para escrever algo no blog, é um sentimento único, de liberdade, de compreensão, de amizade. Ali é certeza que encontrarei com quem conversar, gente que pensa, que é sincera, que sabe o que diz... Sei que não serei julgado, analisado... E isto é muito, muito raro. Pensem, por ex, em publicar um artigo com o próprio nome em um jornal da cidade. Tentem. Não saberia nem por onde começar... A chance de ser mal compreendido, de ser esculachado, de tudo sair mal... A verdade é que não estamos muito preparados ainda para enfrentarmos certas coisas. Então é aqui, no nosso pequeno blog, que vamos ensaiando, vamos nos preparando, vamos maturando... E cultivamos nossa Amizade, com "a" maiúsculo.

Não vou voltar a falar da canseira, dos vermes, da preguiça... Falta é querer, ir tomando gosto, ter mais disciplina, sei lá, ir cativando a inspiração... Mas acho que nem é preciso tanto, basta ser mais espontâneo, conviver mais com o mundo de Fantasia... Acho que o direito, com suas pecúnias, vai nos deixando desconfiados do mundo imaginário (e do próprio mundo real), vamos acreditando que ele nem mais existe ou, não deixamos de acreditar, mas o deixamos bem afastado, não queremos amolação. Eu até que me esforço, mas sou fraco... O estímulo dos outros certamente nos ajuda, acabamos por virar elos de uma mesma corrente, com as mãos dadas de uma bela roda em ciranda - como é bom entrar no blog e encontrar um texto novo, umas linhas autênticas, confidentes e cordiais, pra mim é sempre uma enorme alegria! Obrigado caminhantes, por não abandonarem esses ideais por tanto tempo!

                                                                         
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"Mais uma vez metacaminhança"

Sabem que ficou bem bonita esta nossa metacaminhança... ao reler fiquei comovido com esta nossa bonita história juntos! Obrigado meus amigos!

Achei que ficou excelente. Também tive a mesma sensação que vc e também agradeço.
Esses dias, ouvi de um professor uma frase que me soou verdadeira - sabe aquelas coisas que a gente ouve e percebe que não foi dito à toa, que a pessoa meditou muito naquilo antes de soltar? Então, ele disse o seguinte: as coisas que realmente são importantes na vida geralmente são de graça. Pareceu-me que isso se aplica muito bem à caminhança, por isso resolvi botar aqui...









Olha só que coincidência este trecho de Saint-Exupéry que descobri lendo "Terra dos Homens":
 "Esta a moral que Mermoz e tantos outros me ensinaram. A grandeza de uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens; só há um luxo verdadeiro, o das relações humanas.
Trabalhando só pelos bens materiais construímos nós mesmos nossa prisão. Encerramo-nos lá dentro, solitários, com nossa moeda de cinza que não pode ser trocada por coisa alguma que valha a pena viver.
Se procuro entre minhas lembranças as que me deixaram um gosto durável, se faço o balanço das horas que valeram a pena, certamente só encontro aquelas que nenhuma fortuna do mundo ter-me-ia presenteado. Não se compra a amizade de um Mermoz, de um companheiro a quem estamos ligados para sempre pelas provas sofridas juntos.(...)"


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 Caminhança - I  
Não cansa, avança
é a nossa caminhança,
não mera andança.




Caminhança - II
Dança, dança, dança,
ó menina caminhança,
na tenra infância.


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Ôoooo, meus amigos, como diria alguém...

quanto tempo que não fazemos algo bom... Esta semana estava bem pesada para mim, estou estudando para a segunda fase da magistratura, faço a prova no domingo e conto com as orações de todos, sempre benvindas... O peso vem mais da ansiedade do que da exigência dos estudos... Mas sabem que parece que dei uma acalmada de ontem para hoje? Ontem à noite, parei de estudar um pouco mais cedo e decidi assistir ao "The kid" do Chaplin no youtube, já nem lembrava mais... Uma obra-prima, fantástico, lindo, comovente... Fiquei tranquilo justamente por pensar como essas competições vão nos deixando mesquinhos: afinal, estou querendo ser juiz para ter uma vida cômoda ou para ser um ponto de referência a todos os que precisarem? Deus sabe o que se passa no interior de todos os nossos corações, e se já estivermos prontos para assumir tal serviço (para servir bem e melhor do que os outros...) seremos aprovados. Nessa perspectiva, não há razão para inquietações, basta viver cada dia, aperfeiçoando-se mais e mais, e se tiver que ser, será! Caso contrário, vamos servir de outra forma, como já procuramos fazer no presente...

Quando vamos nos ver de novo? Sinto um distanciamento, claro que são as ocupações, mas vamos marcar algo para colocarmos os assuntos em dia e desabafarmos um pouco.

Abraço e assistam ao Chaplin, queria ser um comunista igual a ele...rs Notem a frase que aparece em um momento do filme: "Alguns ficam em dúvida diante da caridade, outros ficam felizes." Mais para santo do que para comedor de criancinhas...rs.


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[...] Tem sido difícil parar aqui. Não por falta de assunto, que a fonte é inesgotável... Quem sabe outra hora... Talvez por preguiça mesmo. Talvez por preferir a vida vivida à vida escrita, em tempos de acelerada vivência. Caramba! Como cansa! Quando pára, melhor olhar os olhos da mulher amada, ouvir canção, ler, abraçar os amigos, estar à mesa em conversas longas à beira do prato. Mas, ainda assim, vale a pena sentar e escrever. Como escrever é bom! Arranjar as palavras, tecer o texto... Como é bom existir este lugar, que é uma grande mesa em que estão sempre sentados quatro amigos e o resto do planeta espiando. Saber que não se escreve a esmo, mas para pelo menos três olhos e ouvidos singulares. Escrever não é um capricho, como o blog também não é. É, na verdade, um presente, um refúgio, um modo de viver. É por isso que, apesar de tudo, ele sobrevive, prestes a completar três anos. Mas, pensando bem, ele é bem mais velho que isso. E estará vivo mesmo que a internet acabe e que a moda do blog acabe (talvez já tenha acabado, nunca se sabe...). Porque na verdade pouco importa a fôrma, a caminhança sempre permanece. Faltava falar dela, a própria. E, sem querer, volto à esquecida metacaminhança. Serão os ares de ano novo pedindo um balanço anual e os projetos futuros? Por enquanto, basta anunciá-la, quem sabe os rumos que virão?

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