tag:blogger.com,1999:blog-52718639402214991002024-03-13T14:16:56.525-03:00CaminhançaPapo de caminhantesAntônio Carloshttp://www.blogger.com/profile/04606593310665815416noreply@blogger.comBlogger324125tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-16502324960332866572015-11-18T20:09:00.000-02:002015-11-18T22:00:09.057-02:00Whiplash: o gênio e a redenção<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhay4mZS9rzxJbia_yoZh_9FtFHQyv8cviKkN2w5VXhwYg-fCNO1xDSEjBXUeheWLuKlSekAhBe5FSM9nFT9GmgNBLrfPZX-C6IUbU-oUv-XMpRh-UyaFUmonDjIg14Stke5n62Mm6zo0Ez/s1600/Whiplash.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhay4mZS9rzxJbia_yoZh_9FtFHQyv8cviKkN2w5VXhwYg-fCNO1xDSEjBXUeheWLuKlSekAhBe5FSM9nFT9GmgNBLrfPZX-C6IUbU-oUv-XMpRh-UyaFUmonDjIg14Stke5n62Mm6zo0Ez/s320/Whiplash.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span>
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Se
<i>Whiplash</i> é uma obra de arte? Se pode
ser considerado um grande filme? Se deveria ter ganhado o Oscar? Se pretende
defender que os fins justificam os meios? Se o filme faz apologia do <i>bullying</i>? Essas perguntas não me
interessam. O que sei é que o filme foi para mim hipnotizante e conseguiu, na
minha visão, compor a história de modo maravilhoso, sem perder o ritmo, sem
cair em estereótipos ou forçar uma estética que tome o lugar da narrativa.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Como
hoje o direito de falar bobagem foi consagrado para todos pela internet, é
possível encontrar tantas opiniões sem ligação com a película que resolvi
escrever uma coisa ou outra, para partilhar um pouquinho de minhas experiências
e reflexões, a um só tempo dando vazão ao que guardei para mim e opondo-me aos
chavões do homem-massa contemporâneo.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">É
bastante evidente, creio eu, que o filme é a respeito da superação humana. Mas
não se trata de um elogio ao trabalho duro, numa espécie de exaltação do que
alguns dizem ser a ideologia americana. De maneira distinta, se trata da
história da superação do homem para que deixe de ser medíocre e venha a ser
sublime. Em apertada síntese: é a história do nascimento de um gênio.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Ora,
que os gênios nasçam com a criança, posso até concordar, desde que estejamos
falando da potência para a genialidade, que certamente existe em poucos. Mas
quem poderá sustentar que o gênio do homem sobrevém sozinho, independente de
qualquer esforço consciente, de uma persistência tenaz, de uma determinação
constante? Por acaso Mozart seria Mozart se o pai não o instruísse e guiasse
desde a tenra idade? Aristoteles seria Aristoteles se não tivesse bebido na fonte
de Platão e se esforçado por ser aluno e depois professor na academia antes de
se tornar o mestre do liceu? Enfim, é uma ilusão, uma fantasia, uma ideia
irrefletida acreditar que o gênio nasce assim, gênio por inteiro, sem tirar nem
por, tão logo tenha saído de sua mãe. Não, para mim, o gênio nasce podendo ser
gênio, e vem a sê-lo integralmente só depois, em seu segundo nascimento.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Justamente,
Whiplash fala do nascimento de um gênio. Sim, é verdade que estamos falando de um
gênio muito menor do que aqueles arquétipos citados no parágrafo anterior, um
gênio contemporâneo, da vida atual, um gênio de uma parcela menor da música, do
<i>jazz</i>, mas ainda assim, um gênio. Como
a história termina com o mero nascimento, nem ao menos sabemos ao certo o que
viria a partir de então, se a genialidade de Andrew seguirá e quais realizações
ele logrará. Porém, isto também não importa. O filme não quer nos falar das
grandes obras que o gênio fará, quer apenas que sejamos testemunhas de seu
surgimento.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Neste
caso, o nascimento é bastante interessante porque se dá em circunstâncias
específicas. Não é a pobreza, não são os inimigos, não é um problema amoroso ou uma condição pessoal difícil, nenhum destes é o tema do enredo. O conflito existe com alguém em particular: Terence
Fletcher, o professor do conservatório.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">A
personalidade de Fletcher é fascinante. Em primeiro plano, temos sua qualidade
inquestionável. Em momento algum é possível vislumbrar de quem quer que seja a
menor dúvida sobre a capacidade do maestro. Ele é o melhor professor, ponto
final. Fletcher, contudo, é sádico e impetuoso. Humilha, ameaça e chega a
agredir seus alunos se estes contrastam com a perfeição exigida. Ele pouco
explica. Faz uma demanda e espera ser atendido. Se for frustrado, atacará seu
aluno com toda força. Por outro lado, Fletcher também pode ser cativante,
quando se expressa de modo dúbio, pois não sabemos ao certo se consiste em
ironia ou em alguma humanidade que remanesce naquele inegável amor que ele tem
à música. Ah, sim, não duvidem que Fletcher ama. Ele ama a música e este é um
dos motivos para odiar o erro, que maculam seu campo sagrado. Como lidar com
este mestre, com sua inegável competência, seu ar misterioso atraente, suas
ironias e sua ira temível?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Andrew
nos é apresentado com certa inocência. É o garoto que deseja ser músico, mas
que apenas está sendo introduzido no mundo musical. Aos poucos, outros
caracteres de Andrew vão sendo revelados. Seu orgulho crescente, que o faz
desprezar seus pares e restar isolado, e que no início caminha ao lado de sua
insegurança. Depois, sua fraqueza inicial, quando sai demolido após o primeiro
ataque do mestre, seguida de uma súbita obstinação quase masoquista, em
treinamentos ininterruptos e uma vida reclusa.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">O
encontro com a garota Nicole é o ponto fraco do filme. Não teria certeza para
dizer que é desnecessário na história, mas nos momentos em que figura o
relacionamento entre eles o filme perde bastante de sua intensidade e chega até
mesmo a perder o fio de ansiedade que talvez fosse a costura da narrativa. De
qualquer modo, ali temos a lembrança de que Andrew é também um garoto qualquer,
com seus problemas e interesses corriqueiros, e vislumbramos seu ego inflamado,
que de modo equivocado pretende se afirmar imperturbável pelas trivialidades do
que é comum, no momento preciso em que anuncia tacitamente precisar do banal.
Todos podem perceber que Andrew está apaixonado pela garota e precisa de seu
amor e carinho, todavia, ele faz um discurso pleiteando afastamento, sob a
escusa de que seu projeto de vida acabará por machucar a pobre Nicole, que é
comum, e então por verdadeira caridade interrompe o namoro precocemente. Na
minha impressão, Andrew está agindo não por caridade e determinação, mas por
medo e imaturidade. Ele não quer que Nicole perceba suas fraquezas e a
incapacidade que ele tem de lidar com Fletcher e arruma uma desculpa para
preservar sua imagem, sendo insensível aos sentimentos da garota cujo amor
cultivara.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Olavo
de Carvalho já escreveu que o <i>ideal</i> é
a um só tempo fonte de força e de estrutura. O ideal nos motiva a seguir um
caminho e também traça o percurso que devemos seguir. Andrew tem para si o
ideal dos grandes músicos, estampados nos pôsteres de sua casa. Entretanto, ao
longo do filme não sabemos se Andrew é o gênio a ser revelado ou se não passa
de um jovem com <i>exaltação imaginativa</i>,
que pensa ter agora as qualidades que apenas almeja. Afinal, Andrew será um
grande músico realmente ou é somente um garoto orgulhoso que se vê muito maior
do que verdadeiramente é?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Esta
dúvida é acompanhada por outra, a respeito de Fletcher: o professor de fato
está buscando a grande música e por isto flagela seus alunos ou é apenas cruel
e aproveita as deficiências dos pupilos para desaguar seu ódio e quem sabe um
rancor advindo de suas próprias frustrações?<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">O
diretor acerta em cheio aqui. Quando estamos praticamente desistindo do
mistério, para confortavelmente nos fiarmos no sadismo de Fletcher, eis que
sobrevém a notícia da morte de um ex-aluno e a demonstração de uma ternura
muito bonita do mestre, ao exaltar seu pupilo agora falecido. Então, quem sabe,
Fletcher não é tão mau assim...<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">A
fúria do maestro, porém, retorna com toda força de imediato. O grupo vai participar
de uma competição em cidade próxima e na viagem o destino interpõe a Andrew agruras
inesperadas. O ônibus quebra e o deixa atrasado. Ele insiste. Corre. Chega ao
local ofegante e valente. Quer seu lugar. Fletcher o desafia uma vez mais. E
ele, uma vez mais, aceita o desafio. Quando está para retomar as rédeas, sofre
um acidente absolutamente não previsto por quem assiste. Nossa, o garoto se
machucou... Mas ele volta e sai correndo, meio cambaleante e meio insano.
Ensanguentado, ele pega suas baquetas e se senta na bateria. Não há tempo para
Fletcher reorganizar sua banda e a música começa ou pelo menos deveria começar.
Assistimos Andrew tentar e não conseguir, sua derrota inevitável se anuncia e
vai chegando aos poucos, olhamos atônitos sua persistência, que se antes era
admirável, agora nos parece incompreensível. Louco, Andrew parece louco. A atuação
do grupo cessa e Fletcher, após polidamente se desculpar com a plateia, numa
educação reservada apenas ao público, silenciosamente dá a Andrew o recado de
sua ruína. Enfurecido e pela primeira vez contra-atacando, Andrew investe
contra Fletcher e daí sabemos que tudo acabou e que o futuro de Andrew não mais
existe.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">A
historia do gênio que poderia ter sido parece terminar. Voltamos à mediocridade
contemporânea. As acusações jurídicas de aluno contra professor, tão banais,
quase mesquinhas, entram em cena, e Andrew consente em servir de testemunha da
brutalidade de Fletcher após ser informado de que o aluno que havia morrido
sofria de depressão, possivelmente ocasionada pelas humilhações que lhe
infligira o professor. Que Andrew não se preocupasse, pois seria testemunha
anônima.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">De
futura estrela ao anonimato. Adeus aos pôsteres, às aulas em conservatório, à
bateria, que é guardada no armário. Andrew deixa os sonhos de grandeza e se
contenta com a vida que todos levam. Serve em uma lanchonete e vê um pedinte
tocando uma bateria improvisada na rua, por alguns trocados. Num repente, um
cartaz informa que no bar de <i>jazz</i>
havia naquela noite um convidado especial: Terrence Fletcher.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Andrew
ingressa para ouvir seu antigo professor ao piano, tocando muito bem, nos
levando novamente a cogitar se Fletcher não fora incompreendido, tão bela e
delicada sua performance. O olhar do mestre quase perde Andrew por pouco, mas o
relance é suficiente para que o reconheça e, ao se dirigir à saída, Andrew é
chamado por Fletcher e ambos se sentam para tomar um drink e conversar.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Segue-se
um diálogo ameno e interessante. Fletcher finalmente confessa seu método e seu
objetivo, pois de fato queria encontrar um grande músico nos tempos atuais e
somente colocando à prova seus alunos, para que se superassem, poderia ter
alguma chance de descobrir um novo gênio. Fletcher não sabe que Andrew foi o
responsável por sua demissão e este aproveita para perguntar se não era
possível que alguém promissor desistisse diante de tamanha pressão. Negativo,
responde o mestre, um verdadeiro gênio jamais desistiria. Neste ponto, se
concordamos com a filosofia de Fletcher, temos que concluir que, afinal de
contas, Andrew não era o gênio que pensara inicialmente.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Quando
vão se despedir, Fletcher comenta que vai se apresentar como regente de um
conjunto em um festival de <i>jazz</i> e que
precisam de um baterista. Andrew aceita o convite insinuado e fica empolgado
com a ideia de voltar à música.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">No
dia do evento, os artistas estão reunidos nos bastidores e Fletcher dá um aviso:
todas as pessoas importantes do meio do <i>jazz</i>
estão ali, gravadoras, agentes, enfim, todos aqueles que detêm algum poder no
meio musical. Quem fizer uma boa exibição poderá obter um bom contrato, boas
ligações, fazer seu nome, em contrapartida, quem cometer um erro poderá
abandonar a carreira de músico, pois aquelas pessoas não se esquecem.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Andrew
se ajeita na bateria, está ansioso, mas sorridente (vejam a cena final aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Tkh5I9w4ySY).
Tocarão as obras que Andrew treinara no conservatório com Fletcher. Todos já
posicionados no palco, Fletcher se aproxima de Andrew e lhe diz baixinho: “você
pensa que sou idiota? Sei que foi você”. Fletcher vai ao microfone e anuncia
que vão começar com uma composição nova. A câmera dá um zoom em Andrew, revelando
seu desespero, e volta a Fletcher, que lhe lança um olhar maldoso. Os demais têm suas partituras, menos Andrew, que jamais ouvira aquela música.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">A
banda começa a tocar e Andrew não faz ideia do que fazer, tenta improvisar
alguma coisa, mas destoa terrivelmente do grupo. Os outros passam a olhar
atônitos para ele, e um até mesmo o interpela: o que você está fazendo? Andrew
acaba com a apresentação. Após deixar o fracasso de Andrew se arrastar por um
tempo para assegurar sua completa humilhação, Fletcher interrompe o grupo e se
desculpa com a plateia. As luzes iluminam Andrew, e todos agora sabem quem foi
o baterista lastimável. Fletcher se aproxima dele e diz que talvez ele
realmente não tenha o que é preciso.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Andrew
encara a plateia alquebrado, engole em seco e se retira. Corre para a saída,
onde seu pai o aguarda para consolá-lo. Pelo visto, Fletcher era muito pior do
que pensávamos, era um verdadeiro demônio que preparou a tortura final a Andrew
como vingança. Andrew abraça seu pai de olhos fechados, entretanto, de súbito
retorna ao palco. Senta à bateria novamente. Fletcher o olha e, quando ia
proclamar a próxima balada, quem sabe uma nova peça contra Andrew, este começa
a tocar sozinho. Andrew se vira para o instrumentista ao lado e diz que dará a deixa para
que este ingresse na melodia, e a banda então se vê obrigada a tocar <i>caravan</i>. Fletcher, a contragosto, tem
que reger o conjunto. Ele tenta ameaçar Andrew, mas este rebate tocando o prato
da bateria, quase um contragolpe. Andrew não vai desistir agora, está decido a
lutar até o fim, e vai mostrar todas suas armas. Não tem mais medo. Aceita sua
condição de hostilizado. Ele acredita em si. Ele sabe que é bom o bastante. O
desempenho do grupo e de Andrew é magnífico.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Durante
o espetáculo, vemos Fletcher se render aos talentos de Andrew, ele sorri e
orquestra o diálogo entre a banda e a bateria. Fletcher faz seu gesto típico,
punho cerrado da mão direita, para indicar o fim da música, mas Andrew não pára
de tocar... Fletcher olha consternado. Andrew segue numa exibição solo.
Fletcher vai até ele, mas agora é diferente. O mestre não vem para ameaçá-lo,
para acusá-lo, para puni-lo. Ele simplesmente não compreende, está surpreendido
e pergunta: “Andrew, o que você está fazendo, cara?”. Andrew responde que dará
a deixa para ele e segue tocando. Fletcher assente com a cabeça. Este ponto é
importantíssimo. É a primeira vez que Fletcher é desobedecido (pois Andrew não
parou de tocar com o restante), mas não reage negativamente, e se dobra à
vontade de Andrew, reconhecendo que a situação, portanto, é outra.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Por
um momento, o som que Andrew toca desaparece e ouvimos um barulho de vento
ou de mar, como se Andrew estivesse entrando em outra esfera, fora do tempo,
fora daquele lugar, algo está acontecendo, algo grandioso, quase místico.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">A
câmera corta para o pai de Andrew, que assiste a tudo por uma abertura na porta
dos bastidores. Sua expressão vai de incompreensão a atônita e depois a
deslumbramento, como se estivesse vendo seu filho se tornar algo diferente, que
inicialmente não entende, depois o assusta e finalmente o encanta.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">Fletcher
volta à bateria com Andrew, para ajudá-lo. Ajeita um dos pratos. Assente com a
cabeça, confirmando e incentivando. Sim, Andrew, muito bem, eu sei o que você
está fazendo. Ele orienta Andrew, que segue a direção indicada pelo mestre,
diminui o ritmo lentamente, depois o eleva, indicando o clímax. Fletcher faz um
gesto vibrante com as mãos, indicando a força do baterista, e também algo de
admiração; vai apontando a Andrew as variações, como que tocando junto com ele,
ambos em sintonia, o tempo todo Fletcher assentindo com a cabeça. A cena abre
para mostrar um dos instrumentistas, ao lado de Andrew, estupefato com a performance do surpreendente rapaz.
Fletcher volta ao centro para reger a orquestra e até mesmo se despe do casaco
para ficar com os braços livres, tamanha a excitação e a eletricidade daquele
instante. Ele prepara o conjunto para o <i>gran
finale</i>. Os olhares de Andrew e Fletcher se encontram. Andrew olha para o
mestre a aguarda uma reação. Fletcher está com o olhar maravilhado e sorri para
Andrew, que sorri de volta ante a aprovação. Fletcher dá o sinal para o final,
em <i>tutti </i>orquestral, e com sua mão
esquerda aponta para Andrew, mostrando a todos seu aluno, sua descoberta, que
agora nasceu.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "candara" , "sans-serif";">A
busca deu frutos. A tensão foi resolvida. Os contrários se dissolveram. É como
se o gênio de Andrew redimisse a brutalidade de Fletcher. É o sublime como
redenção do violento. Parece-me que de alguma forma Fletcher ansiava
desesperadamente por este instante de epifania. Toda sua sordidez, sua grosseria
enraizada, seus pecados, enfim, poderiam ser diluídos acaso lhe sobreviesse um
gênio, um pupilo exitoso, irrompendo a mediocridade e galgando as alturas do
que, na sua perfeição, torna irrelevantes as deformidades periféricas. No fim,
é Andrew que assume o papel de salvar Fletcher. Se olharmos para o início da
história, tudo isto fica claro, mas somente porque Andrew teve a força, a
coragem e a graça de rebentar as amarras do medo para encontrar o que é
ilustre. Se Andrew tivesse desistido, Fletcher teria mais uma vítima na sua
conta. Mas não. Andrew suportou o sofrimento que Fletcher lhe impôs e, por
assim fazer, conseguiu despertar naquele uma natureza que estava recôndita
muito profundamente. A entrega de Andrew é irresistível para Fletcher, que não
apenas se curva ao brilhantismo do aluno, mas recebe deste o perdão de que carecia,
e pode então retribuir o ato, formando um encontro que completa o quadro e
coroa a harmonia fugidia, agora presente, e que permite aos então combatentes
repousar e contemplar juntos, em triunfo e com amizade.<o:p></o:p></span></div>
Pedro Xavierhttp://www.blogger.com/profile/10036786300410960305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-81434226274719183962014-08-27T12:23:00.000-03:002014-08-27T15:10:53.664-03:00A arte de ser cristão<br />
<a href="http://www.ocampones.com/wp-content/uploads/2014/01/Rembrandt-Cristo-det-608x5652.png" style="background-color: #ecf6f8; border: 0px; color: #0099cc; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 14px; font-style: italic; line-height: 19px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;"><img alt="" class="size-medium wp-image-9964 alignleft" src="http://www.ocampones.com/wp-content/uploads/2014/01/Rembrandt-Cristo-det-608x5652-300x278.png" height="278" style="border: 4px solid rgb(238, 238, 238); display: inline; float: left; margin: 5px 20px 10px 0px; max-width: 100%; padding: 1px; text-align: center;" title="Rembrandt-Cristo-det-608x565" width="300" /></a><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: #ecf6f8; color: #35383d; font-style: italic; line-height: 19px;">“Posso estar enganado, mas a mim me parece que toda a arte de ser cristão repousa no equilíbrio tensional entre a fidelidade intransigente ao Credo dos apóstolos, à tradição, à Igreja, e aquela modéstia de pretensões que advém de uma compreensão realista das fraquezas humanas (as nossas próprias em primeiro lugar), da complexidade das situações concretas e da mutabilidade dos tempos. O cristão não é nem um reformador do Credo nem um doutrinário estufado de regras abstratas, disposto a impor ao outros, a ferro e fogo, um fardo que ele mesmo não suporta carregar. O mediador entre os dois extremos é o próprio Cristo, que pela ação do Espirito Santo guia sutilmente os nossos passos numa floresta de enigmas, perigos, tentações e ambiguidades.” (Olavo de Carvalho) (Fonte: </span><span style="color: #35383d;"><span style="line-height: 19px;"><i><a href="http://www.ocampones.com/?p=9960">http://www.ocampones.com/?p=9960</a><span style="font-size: 14px;">)</span></i></span></span></span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-40781719713881856382014-08-08T21:22:00.002-03:002014-08-08T21:25:01.804-03:00Fundação<div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqStG4NlAdUsmsrBQsH5S5pgvelKdBDs2cTBGui8Fn358zhxlXC_l_yBJQhthAKCS5mPRCq2gc1jW4oga7C8_SY9OkdLMUKM4tSPgIqcavVbM3wrdePTOXIpOtnxFDkOJUQjyEDURQmhE/s1600/2-feira-de-sorocaba-tropeiro-getulio-delphim.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqStG4NlAdUsmsrBQsH5S5pgvelKdBDs2cTBGui8Fn358zhxlXC_l_yBJQhthAKCS5mPRCq2gc1jW4oga7C8_SY9OkdLMUKM4tSPgIqcavVbM3wrdePTOXIpOtnxFDkOJUQjyEDURQmhE/s1600/2-feira-de-sorocaba-tropeiro-getulio-delphim.jpg" height="286" width="400" /></a></div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<div>
<table align="left" cellpadding="0" cellspacing="0" hspace="0" vspace="0">
<tbody>
<tr>
<td align="left" style="padding-bottom: 0cm; padding-left: 5.65pt; padding-right: 5.65pt; padding-top: 0cm;" valign="top"><div class="MsoNormal" style="line-height: 62.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-element-anchor-horizontal: column; mso-element-anchor-vertical: paragraph; mso-element-frame-hspace: 5.65pt; mso-element-linespan: 3; mso-element-wrap: around; mso-element: dropcap-dropped; mso-height-rule: exactly; mso-line-height-rule: exactly; page-break-after: avoid; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 77.0pt; mso-bidi-font-size: 16.0pt; mso-text-raise: -4.5pt;">O</span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"> muro que se estende sobre a paisagem que
avisto da janela me interroga. Um muro com curvas familiares. A janela também,
muito familiar. A ardósia escolhida como piso há alguns anos atrás, a vista do
armazém ao fundo, a Igreja em que fui batizado. Brotam destes prédios alicerces
invisíveis que rompem a linha do horizonte e do tempo. As horas continuam
incessantes, porém sigo em meu ritmo e descubro que tenho margem. Não me deixo
inundar pelo embalo indiferente dos segundos. Tenho a minha história, que corre
pelo leito rasgado no chão em que nasci. Longe da aparência agitada e
cosmopolita das grandes cidades, a vida se perfaz cotidiana, nos bairros, nas
ruas, nas casas, tomadas pelos passos dos que ali moram. Em nenhuma outra
estação pode um homem se reconciliar. Ainda que a inquietude o leve à aventura
de correr o mundo, muitas vezes a longa jornada só termina quando, finalmente,
ao encontrar uma terra amável em que decide ficar, surpreende-se ao reconhecer
tão-somente a sua pátria. Diz-me o muro: sulca o teu caminho, crava a tua
herança. Sem margem trasbordas no vazio. Marca, entalha, deixa rastro. Estes
são os vestígios que te reconduzirão, na confusão do espaço e do tempo, até as
raízes que te geraram. Para que sempre possas retornar a elas, como o tropeiro
no entroncamento de estradas. Para ti sempre haverá um porto seguro aonde
chegar e donde partir. Um misterioso lugar, a que os sábios dão o nome de lar.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
</div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-29265337919312086822014-07-01T10:17:00.000-03:002014-07-01T10:18:22.507-03:00Johan Huizinga, Jane Austen e eu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwPwpxv_t0t3D-9m-gIVyEYqY8X9mo1OrrKavNjxQz9TkEV3LjkpvC5OqLMieaERo2VlbDx7XBMfFI0MH4f6EAJNZ7lchiNodX9meKHp56l-y-rJhLDQpUeOsEtsxYjRSfPmfDspdSBefW/s1600/Orgulho+e+Preconceito.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwPwpxv_t0t3D-9m-gIVyEYqY8X9mo1OrrKavNjxQz9TkEV3LjkpvC5OqLMieaERo2VlbDx7XBMfFI0MH4f6EAJNZ7lchiNodX9meKHp56l-y-rJhLDQpUeOsEtsxYjRSfPmfDspdSBefW/s1600/Orgulho+e+Preconceito.png" height="135" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Quando
o mundo era cinco séculos mais jovem, tudo o que acontecia na vida era dotado
de contornos bem mais nítidos que os de hoje. Entre a dor e a alegria, o
infortúnio e a felicidade, a dist</i></span><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "MS Mincho";">â</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">ncia parecia maior do que para nós; tudo que
o homem vivia ainda possuía aquele teor imediato e absoluto que no mundo de
hoje só se observa nos arroubos infantis de felicidade e dor. Cada momento da
vida, cada feito era cercado de formas enfáticas e expressivas, real</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "MS Mincho";">ç</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">ado pela solenidade de um estilo de vida rígido e perene. Os grandes
fatos da vida – o nascimento, o matrim</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "MS Mincho";">ô</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">nio,
a morte – eram envoltos, por obra dos sacramentos, no esplendor do mistério
divino. Mas também os menores – uma viagem, uma tarefa, uma visita – eram acompanhados
de mil bên</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "MS Mincho";">çã</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">os, cerim</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "MS Mincho";">ô</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">nias,
ditos e conven</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "MS Mincho";">çõ</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">es”</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;"> <span style="font-variant: small-caps;">Johan
Huizinga</span> – <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O outono da idade média</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Este primeiro parágrafo do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Outono da idade média</i>, de Huizinga, soa
como uma grande verdade que, no fundo, já conhecíamos e que, quando expressa
pelo autor, acaba com uma ansiedade – embora esquecida, recôndita em algum
lugar – por não conseguirmos dizer aquela ideia ou aquele sentimento fugidios, os
quais passam por nosso ser sem que os possamos apreender.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Nenhuma novidade é dizer que a morte da forma
no cotidiano caracteriza nosso tempo. Todavia, Huizinga coloca esta questão
acentuando outros aspectos. Na verdade, o autor escreve no início do século XX,
tendo por objeto de estudo as sociedades na área dos Países Baixos e França,
aproximadamente, dos séculos XIV e XV. Isto torna a observação do autor ainda mais
interessante, vez que então somos inclinados à conclusão de que a perda da
forma no cotidiano vem desde tempos remotos, e já estava presente nas reflexões
dos homens no início do século passado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">O nascimento, o matrimônio, a morte, todos
aqueles fatos marcantes e significantes da vida possuem hoje em dia
características tão díspares às daquela época que acaba sendo difícil encarar
as solenidades então existentes com naturalidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Sem qualquer pretensão de examinar todo o
tema, ou de salientar o aspecto mais importante, queria apenas compartilhar uma
ou outra meditação que fiz sobre isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Chama-me a atenção que, nesta perda da forma,
os aspectos que distinguem as situações da vida vão sendo aplainados, de
maneira que tudo aquilo que marcava a diferença específica do momento é
extirpado, e por consequência uma equiparação empobrecedora vai tomando os
espaços. Daí porque, como já comentamos em outros textos, o casamento vira
carnaval, a formatura vira carnaval, as datas comemorativas viram carnaval e o
carnaval mesmo vira sei lá que misto de aberrações, promiscuidade e futilidades
pretensamente culturais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">De bloco a bloco, de batida em batida, os
acontecimentos biográficos perdem sentido, substituídos por entregas hedonistas
pueris, a troca de alianças perdeu lugar para o confete.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Ainda não li as obras de Jane Austen. Mas
assisti, com muito gosto, as produções da BBC que versaram em série <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Orgulho e preconceito</i>, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Emma</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Razão e Sensibilidade</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Essas histórias ilustraram de modo
contrastante a perda da forma. Diferentemente do que vemos atualmente, nenhum
acontecimento de proporções históricas, apocalípticas ou fatais existe naqueles
romances. É nos eventos considerados pequenos por nossa geração que surgem
narrativas maravilhosas, elegantes e sensíveis, que revelam dilemas morais
universais, resolvidos com inteligência e beleza pela escritora.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Os personagens amam e possuem intimidade, às
vezes até mais profunda do que se tem hoje, mas não abrem mão das formas de
tratamento, da cordialidade, dos minúsculos atos solenes que organizam os
relacionamentos humanos. O marido e a esposa se chamam por sra. e sr., sem que
isto signifique cumplicidade a menor. Pelo contrário, é justamente este
contorno estruturado pela educação que permite a tessitura de uma comunicação
altamente límpida e que avança no assunto, sem se perder em desencontros. A
forma, ao invés de aprisionar, liberta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Também não existe ali uma exaltação de todo e
qualquer costume. Trata-se com bastante ironia – uma ironia pura, se assim
pudermos qualificar – certas condutas equivocadas, realizando-se a crítica dos
costumes em bom-tom.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Vejamos o trecho inicial de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Orgulho e preconceito</i>:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">“<i style="mso-bidi-font-style: normal;">É uma verdade universalmente conhecida que
um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de uma
esposa.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">Por pouco que os sentimentos ou as opiniões de tal homem sejam
conhecidos ao se fixar numa nova localidade, essa verdade se encontra de tal modo
impressa nos espíritos das famílias vizinhas que o rapaz é desde logo
considerado a propriedade legítima de uma das suas filhas.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Caro Mr. Bennet – disse-lhe um dia a sua esposa –, já ouviu dizer
que Netherfield Park foi alugado, afinal?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">Mr. Bennet respondeu que não sabia.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Pois foi – assegurou ela. – Mrs. Long acabou de sair daqui e me
contou tudo.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">Mr. Bennet não respondeu.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Afinal, não deseja saber que é o locatário? – gritou a mulher,
impacientemente.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Você é quem está querendo me dizer e eu não faço nenhuma objeção a
isso.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">Esse convite foi suficiente”</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Em seguida, Mrs. Bennet conta que um rico
homem solteiro residirá na propriedade, e tenta dissuadir Mr. Bennet a
prestar-lhe uma visita, uma circunstância para abrir uma oportunidade, a fim de
que o novo morador conheça e, ao final, tome a mão de uma de suas filhas. Mr.
Bennet, entretanto, ironiza a ideia de sua esposa, mas diz que escreverá ao
cobiçado morador, adiantando que, de suas filhas, Lizzy mereceria que fosse
feito um elogio a mais em relação às irmãs.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">“_ Nenhuma delas tem muito o que as recomende – respondeu Mr. Bennet.
_ São tolas e ignorantes como as outras moças. Mas Lizzy é realmente um pouco
mais viva do que as irmãs.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Como pode falar mal assim dos próprios filhos, Mr. Bennet? Você se
compraz em aborrecer-me; não tem nenhuma pena dos meus pobres nervos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Está enganada, minha cara. Tenho muito respeito pelos seus nervos.
São meus velhos amigos. Venho escutando você falar a respeito deles com grande
consideração, pelo menos durante estes últimos vinte anos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Ah, você não sabe o que eu sofro!<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Espero que você se restabeleça e viva bastante tempo para ver
muitos rapazes com quatro mil libras anuais de rendimento se instalarem na
vizinhança.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Pouco nos adiantará que venham vinte deles se você se recusar a visitá-los.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">_ Pode ficar certa, minha querida, de que quando chegarem os vinte eu
os visitarei a todos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm 0pt; text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: FangSong;">Mr. Bennet era um misto tão curioso de vivacidade, humor sarcástico, reserva
e capricho que a experiência de vinte e três anos juntos tinha sido
insuficiente para que a sua esposa lhe conhecesse o caráter. O espírito dela era
menos difícil de compreender; tratava-se de uma senhora dotada de inteligência
medíocre, pouca cultura e gênio instável. Quando se aborrecia imaginava que
estava nervosa. A única preocupação de sua vida era casar as filhas. Seu
consolo, fazer visitas e saber das novidades”.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;"></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Um excerto maravilhoso, não é mesmo? A
crítica não é atenuada, mas é feita com elegância, em um diálogo que ilustra
praticamente toda a vida familiar naqueles tempos, naqueles lugares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: FangSong;">Eu não conseguiria, sem passar por ridículo e
ser comicamente artificial, chamar minha esposa de Sra. Xavier. Vou tentar
caprichar um pouco mais na minha educação, na elaboração completa dos
pensamentos e de minhas comunicações, não desleixar os cumprimentos, recordar-me
das distâncias impessoais volta e meia necessárias. Não posso ser um homem de
outro século, mas desejaria muito incorporar alguma coisa daquela sabedoria e
daquela beleza, daquela forma que se perdeu e que devemos encontrar.<o:p></o:p></span></div>
Pedro Xavierhttp://www.blogger.com/profile/10036786300410960305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-20055871076634120972014-05-21T23:14:00.000-03:002014-05-21T23:18:18.853-03:00<div style="color: #35383d; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-style: italic; line-height: 19px; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; padding: 5px 0px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #35383d; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-style: italic; line-height: 19px; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; padding: 5px 0px; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Z4yIMdYhKAUChIVRF1d7SNYJrHGxSeZhHSBfs2s5HUW4qSGXns2173zT3dg8IERnuQtQXhR1avlVR13IxkC85QMFvZvhC1BiomY2HXRCTkFjDirjncZyQAnr7tHjh1JXTmBqr7HemdE/s1600/filho-prodigo2%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5Z4yIMdYhKAUChIVRF1d7SNYJrHGxSeZhHSBfs2s5HUW4qSGXns2173zT3dg8IERnuQtQXhR1avlVR13IxkC85QMFvZvhC1BiomY2HXRCTkFjDirjncZyQAnr7tHjh1JXTmBqr7HemdE/s1600/filho-prodigo2%5B1%5D.jpg" height="292" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div style="color: #35383d; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-style: italic; line-height: 19px; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; padding: 5px 0px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="color: #35383d; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-style: italic; line-height: 19px; margin-bottom: 5px; margin-top: 5px; padding: 5px 0px; text-align: justify;">
“Uma das qualidades singulares e intransferíveis da religião cristã é poder conduzir e consolar quem quer que, em qualquer circunstância, sob qualquer pretexto, a ela recorra. Se há remédio para o passado, ela o prescreve e aplica, vivifica e ilumina, para colocá-lo em prática, custe o que custar; se não há, ela acha um jeito de tornar real e efetivo o que o provérbio diz, e ‘da necessidade faz virtude’. Ensina a continuar com sabedoria o que começou com leviandade; incita a abraçar livremente o que foi obra da tirania; e tolda uma escolha temerária, porém irrevogável, de toda a santidade, de toda a sensatez, e, digamo-lo francamente, de todas as alegrias da vocação. É um caminho tal que, se o homem passar por ele, e nele andar alguns passos, vindo de quaisquer labirintos, de precipícios quaisquer, pode caminhar com segurança e boa vontade doravante, e chegar ledo a um ledo fim.” (“Os noivos”, Alessandro Manzoni)<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/9y9yM53TowA?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br /></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-1739545259915495722014-04-22T13:34:00.000-03:002014-05-22T13:39:57.855-03:00Olavo de Carvalho, transcrição de trecho da aula IV do Curso Raízes da Modernidade<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">[...] </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Com
a progressiva formação da sociedade moderna, como sociedade técnica,
industrial, altamente burocratizada, na qual as relações naturais vão sendo
cada vez mais substituídas por relações legais, o sentimento de participação
comunitária das pessoas vai desaparecendo. [...] Na medida em que o conjunto
das relações sociais era [na Idade Média] ao mesmo tempo constituído de
relações pessoais diretas, então não existia um abismo entre o indivíduo e a
sociedade. Todas as emoções eram compreensíveis, todas as experiências humanas
eram transparentes, mesmo aquilo que você odiava não lhe era incompreensível.
[...] Ninguém é estranho, as pessoas são diferentes, mas não estranhas. [...] A
medida em que estas relações sociais baseadas na pessoa humana direta vão sendo
substituídas por relações legais e burocratizadas, tudo muda completamente. Por
exemplo, o funcionário que é obrigado a exercer a sua função implacavelmente a
despeito de todos os interesses e emoções pessoais envolvidas , não terá tempo
de participar das emoções das outras pessoas, pois senão ele não vai aguentar.
Isto significa que ele tem que tomar decisões cada vez mais impessoais. Como se
o regulamento burocrático fosse uma realidade e as pessoas envolvidas não
fossem realidades. Por exemplo, a cobrança de uma dívida. Se um sujeito fosse
cobrar uma dívida na Idade Média, ele até poderia ser implacável na sua
cobrança, mas ele entendia perfeitamente a situação do outro. Não lhe era
completamente alheio. Mas, numa situação já definida pela organização burocrática
da convivência, as emoções do outro já não interessam, porque não é uma pessoa,
é uma ficha, um número no computador. Isto quer dizer que você pode agir de
maneira brutal sobre as pessoas sem ter nenhum sentimento brutal. Na I. Média o
cobrador de uma dívida podia até bater ou matar o devedor, mas ele teria que
fazer isso pessoalmente. E ele não poderia fazer isso sem estar com raiva do
outro. Mas na situação moderna você pode destruir vidas inteiras por uma
providência administrativa, tomada com a maior neutralidade, com a maior
tranquilidade, sem pensar nas consequências. [...] Por exemplo, certas
operações bancárias como estas feitas por grandes investidores, que do dia para
noite desgraçam milhões de pessoas, que eles não conhecem, contra as quais ele
não têm absolutamente nada e que se pudessem, talvez até ajudariam. Isto quer
dizer que entre os seres humanos se interpõe toda uma estrutura de
determinações que não tem nada a ver com as pessoas envolvidas, que são
literalmente impessoais. Mas este elemento impessoal é o que constitui a nossa
experiência cotidiana quase que o tempo todo. Acontece que o mundo da
experiência direta humana, o mundo das emoções humanas diretas não tem lugar na
estrutura administrativa. E se não tem lugar não pode ser objeto de uma
discussão pública, não tem como ser discutido. Só é possível discutir aquilo
que está enquadrado nos conceitos gerais, nos dados estatísticos, etc. Então, na mesma medida em que a convivência na
sociedade moderna se despersonaliza, aparece como refúgio a convivência pessoal
direta. Mas vivida em termos que não podem corresponder inteiramente às
categorias sociais admitidas. Isso que dizer que não havendo mais aquele
sentimento de participação comunitário no qual as emoções dos personagens envolvidos
são translúcidas para todos e todos sabem o que todo mundo está sentindo, não
sendo possível isto, existe como compensação a necessidade de uma aproximação
maior entre as pessoas fora do quadro social admitido e legítimo. Então,
aparece, por exemplo, a busca do amor pessoal numa intensidade e quantidade que
as épocas anteriores desconheceram. Há necessidade de mais experiência amorosa,
mais vivência amorosa na situação moderna do que em qualquer outra época. E
isto explica “sexo livre”, adultérios, movimento gay, etc. [...] Se vermos o
tempo que o cidadão moderno dedica a pensar em sexo e comparar isso com o
cidadão da I. Média, chegaríamos a conclusão de que o cidadão é tarado, é
louco, só pensa nisso. Se pensarmos que oitenta por cento do movimento da
internet são sites de sacanagem, veremos que se criou um monstruoso aparato
técnico e ele é usado por pessoas desesperadas, que buscam ali um contato
carnal por via eletrônica. Isto é o extremo do desespero. Os indivíduos não
estão aguentando viver dentro daquele quadro de impessoalidade mecânica e
burocrática e elas querem um alívio para isso. É inteiramente compreensível.
Quando as pessoas imbuídas de um sistema moral mais antigo, por ex, são
cristãos, se voltam contra isso com uma linguagem condenatória, estão fazendo
buraco n´água. O que pregações morais podem fazer contra uma necessidade
premente criada pelo próprio artificialismo da situação? [...] De certo modo
isto se tornou um dos poucos canais onde as pessoas podem ter uma experiência
pessoal efetiva, real, podem se sentir vivas. As pessoas buscam refúgio na
convivência pessoal. Porque na sociedade, no trabalho, no exercício das funções
públicas, não são pessoas, são apenas funções. Por exemplo, vamos supor uma
empresa grande com 20.000 empregados. É possível dentro de uma circunstância dessas
prestar atenção nos problemas de cada um? [...] De fato, a tendência geral da
sociedade moderna é de tratar os indivíduos apenas pela sua função e não como
individualidades concretas e diferenciadas. A pressão das necessidades
emocionais humanas, não podendo ser descarregada na vida social pública
oficial, ela tem que encontrar outros canais. Um canal são as psicoterapias,
grupos de psicoterapias. Se você observar as psicoterapias de grupo você vai
observar que a maioria das pessoas não têm nenhum problema clínico, elas
simplesmente não tinham com quem conversar. [...] John Carrow, no seu livro
sobre o humanismo, mostra que em grande parte a vida real das pessoas fugiu
para o mundo dos sonhos. Ou seja, o indivíduo só é ele mesmo no instante em que
ele está dormindo. Ali ele diz o que realmente quer, se comporta como ele mesmo
e depois acorda, veste o uniforme e volta a ser o mesmo tipo impessoal que era
na véspera. Este refluxo da vida interior humana para o mundo dos sonhos já
começa no Século XIX e é anterior ao surgimento da psicanálise. Então me
pergunto se Dr Freud teria a idéia de procurar a realidade da alma no mundo dos
sonhos se ela não estivesse realmente lá? Ou seja, se ela não tivesse sido
empurrada para lá por fatores sociais que não tem nada a ver com a psicanálise?
Imaginemos a quantidade de tempo que se concedeu no século XX a análise de
sonhos. [...] Numa época anterior, ainda na Renascença ou na I. Média, se se
dissesse que apareceria uma profissão em que o sujeito fica o tempo todo
falando de sonhos, pareceria a coisa mais esquisita do mundo. Então vemos a
fuga para a intimidade, a fuga para os sonhos, a fuga para os contatos através
de internet, a fuga para a pornografia, a fuga para o sexo livre etc. [...].
Miguel Reale, em seu livro Introdução a Ciência do Direito, inventa um termo
horroroso mas que descreve bem, que é o da progressiva jurisfação da vida
social. Ou seja, tudo vai saindo do campo das relações naturais e entrando no
campo das relações legais. E este processo é absolutamente avassalador, não tem
limite. Um dos elementos fundamentais da democracia moderna é a existência de
um poder legislativo soberano em relação aos outros poderes e cujas decisões
literalmente tem poder de lei sobre os outros.
O que representa haver em cada nação uma corporação de quinhentas,
seiscentas pessoas que estão fazendo leis o tempo todo? Quantas leis são feitas
em um ano? Vinte, trinta mil? E estas leis vão regulando cada vez mais coisas
que antes não eram reguladas. [...] E nós nos acostumamos de tal modo a tantas
proibições que elas nos parecem, muitas vezes, a própria garantia de nossos
direitos e nossas liberdades, quando na verdade elas são uma tremenda
restrição. [...] A importância dos documentos, por exemplo, foi crescendo cada
vez mais, até chegar ao ponto de terem mais realidade do que a própria
realidade (lembrar o romance de Luigi Pirandello, O Falecido Matias Pascal).
Nos acostumamos te tal modo com isso que a posse dos documentos, de certo modo,
reforça a nossa identidade, mas é uma identidade que não existe evidentemente.
Como é possível o Estado me dizer quem eu sou? Se a identidade oficialmente
admitida começa a prevalecer sobre os dados da experiência direta, a
consequência disso é imediata. Começa-se a imaginar que a sua identidade é
aquela que a sociedade te deu e não aquela que você efetivamente tem por
natureza. Automaticamente, se torna difícil conceber que uma pessoa humana seja
algo por si mesma e sem o reconhecimento da sociedade. O indivíduo só adquire o
estatuto humano pela sociedade e a cultura que lhe conferiram a identidade
(este é, alías, o argumento do movimento abortista). É uma idéia falsa, mas se
tornou irresistível porque ela não traduz a natureza das coisas, mas traduz a
situação efetiva na qual nós vivemos na sociedade moderna. Por isso, é muito
difícil argumentar contra o aborto para pessoas que não enxergam a sua
identidade em si mesmas, mas naquela figura projetiva que a sociedade colou sobre
elas. [...] Por isso, um sentimento de revolta, de ódio contra essas aberrações
da sociedade moderna, frequentemente, não se justifica, porque as pessoas estão
pensando e acreditando não naquilo que elas deveriam pensar e acreditar, mas
naquilo que, de certo modo, são forçadas a acreditar. Não se pode dizer que
elas têm culpa disso. Elas não têm idéia de como entraram naquilo. Se uma
convicção do sujeito está baseada no próprio sentimento de identidade que ele
tem, não adiante eu mudar a ideia sem
mudar a identidade, e mudar a identidade de uma pessoa não é fácil. Fazer o
indivíduo perceber que ele tem uma identidade inerente, inata e, por assim
dizer, eterna, se ele está persuadido de que ele é um papel social determinado
pelo estado, é muito difícil. Este mundo, esta superestrutura burocrática que
se sobrepôs às individualidades concretas ela retroage sobre a individualidade
e cria novos tipos de individualidade que antes não existiam. Por exemplo, o funcionário impessoal, não
existe isso em parte alguma da história. [...] Os regimes totalitários, por
exemplo, não são senão o aperfeiçoamento extremo da burocratização, onde todas
as pessoas são conhecidas não por aquilo que elas são na realidade, mas por uma
posição social que os outros lhe atribuem, frequentemente, uma posição
imaginária. [...] O genocídio é a expressão natural da despersonalização. [...]
É sempre um crime de lógica e não de paixão (Albert Camus). Ninguém vai matar
70 milhões de pessoas por que está com raiva delas. Está matando apenas um
número, uma entidade abstrata. E isso vai se tornando cada vez mais fácil,
porque vai se criando os meios técnicos de se cometer violência sem que o
impacto dela retroaja sobre a sua alma. Por exemplo, é possível bombardear todo
um acampamento assistindo tudo por satélite. Onde aparecerão algumas figurinhas
sendo bombardeadas, como num vídeo game. Não parece realidade. É um efeito
desrealizante. Este efeito chega ao ponto em que alguns filmes de ficção, em
que assistimos batalhas, parecem mais reais do que um documentário sobre
batalhas. [...] Este processo de desrealização e de dessubstancialização da
individualidade humana e de substituição por uma entidade abstrata criada
legalmente é sem dúvida uma das raízes da modernidade. </span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-4391580317339366852014-03-01T18:55:00.000-03:002014-03-03T18:58:39.713-03:00Pedro Xavier é pai há seis meses!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgszFD8691A6j2tnjeun6w57y4lQo-P4AOhzlMVMTtKb3FKtXtTdNfMQGNUlOa0vWNkdpbKaHSf_kW7E80oodu6yL544BpjbyT2vJOzY0phyQMWx2MAl_pa3Tj6aJFaaXbZTfbopyMi5F0N/s1600/parenting-finalblog1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgszFD8691A6j2tnjeun6w57y4lQo-P4AOhzlMVMTtKb3FKtXtTdNfMQGNUlOa0vWNkdpbKaHSf_kW7E80oodu6yL544BpjbyT2vJOzY0phyQMWx2MAl_pa3Tj6aJFaaXbZTfbopyMi5F0N/s1600/parenting-finalblog1.jpg" height="640" width="370" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGSKeSEhxd4SuXKMok9yHgQw_KA5Br5KGaG1UONGUO6bLBiS0UlO6_Bt5pBwh82Vz_kBukxDfhIjDPU4SsVa0_n4HZJs23WoJP9WBMy5GoAUQk2o3c6B4Xt0s-angw_0De2dYfcAOGIyep/s1600/parenting-finalblog2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjGSKeSEhxd4SuXKMok9yHgQw_KA5Br5KGaG1UONGUO6bLBiS0UlO6_Bt5pBwh82Vz_kBukxDfhIjDPU4SsVa0_n4HZJs23WoJP9WBMy5GoAUQk2o3c6B4Xt0s-angw_0De2dYfcAOGIyep/s1600/parenting-finalblog2.jpg" height="400" width="386" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHTao10KsH4cLdElBRaKin2i9_O3FaT1yLPdLCVDmED3ie9Wc0l1fej2PYNpf_X54uRGssXk7mJaTxjvPPiVRoYGSA5CGR87OuFn_GqAH2jtsDfpByxPmT5h_iXgI6URx5dQGbruw34se1/s1600/parenting-finalblog3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHTao10KsH4cLdElBRaKin2i9_O3FaT1yLPdLCVDmED3ie9Wc0l1fej2PYNpf_X54uRGssXk7mJaTxjvPPiVRoYGSA5CGR87OuFn_GqAH2jtsDfpByxPmT5h_iXgI6URx5dQGbruw34se1/s1600/parenting-finalblog3.jpg" height="640" width="490" /></a></div>
<br />Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-68267462373239184562014-02-28T12:48:00.000-03:002014-08-20T15:25:08.525-03:00Fidelidade Intransigente<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O que um dia foi um casal entrou
pela porta da sala de audiências. Ele, o autor de uma ação de conversão de
separação judicial em divórcio, acompanhado de seu advogado. Ela, sozinha nesta
primeira tentativa de conciliação. Os dois aparentando estar perto dos setenta
anos. Documentos conferidos, na tela do computador o termo de acordo quase
pronto. Todos os bens já divididos, todos os filhos já maiores, mais de um ano desde a separação. Requisitos presentes,
caso fácil, acordo certo. Só homologar e “jogar” para a estatística. Havia,
porém, qualquer coisa no ar. Talvez algum resquício de remorso ou as lembranças
inevitáveis de uma vida passada juntos. O arrependimento insinuando-se entre
culpas, o rancor entre as feridas. Quando, então, coube-me perguntar: “há
possibilidade de reconciliação?”. Artificial e legalista. Mais de trinta anos...
Sob olhares quase mudos, conclui em voz alta dirigindo-me ao escrevente:
“reconciliação infrutífera”. A lei estava cumprida. A pior parte resolvida. Rumo
ao acordo. Acordo? Impossível. A senhora se negava a assinar, não queria o
divórcio. Instante inesperado. Expliquei-lhe a norma, o protocolo, o processo. Ante
a presença dos requisitos, a lei é a lei. Quando percebi que tremia, tremia
muito ao falar e mover os braços. Estava nervosa e sofria. Estranhei que, até
aquele momento, ignorava completamente este fato. Realmente eu ainda não os
havia notado. Pela primeira vez li os nomes na capa do processo. E os vi, os
dois, o casal e a sua tragédia. Li nos seus rostos a crise, as brigas, a dor da
separação, o desespero dos filhos. Pela primeira vez desde o início da
audiência, que parecia tão certa, tão óbvia. Qualquer coisa foi dita sobre
traição, outra mulher. A senhora tremia, insistindo que não queria o acordo.
Pouco importava a demora, pouco importava o fizesse o juiz depois de alguns
meses. “Eu não assinarei”. Perguntei-lhe, então, o por quê? Ela levou as mãos
trêmulas à bolsa e retirou uma Bíblia. Levantando-a em punho disse com firmeza:
“Por isso!”. O advogado da parte contrária disfarçou um riso sádico (talvez
mais tarde, na roda dos amigos...). O escrevente percebeu e também riu,
demonstrando certa impaciência ante a atitude tão descabida. O marido tinha os
olhos atentos e calados. Por um instante me surpreendi com a sua coragem. A
sensação de estar diante de um milagre ou, pelo menos, de uma manifestação do
Espírito. Agradeci. Mas, em seguida, uma grande angústia atropelou a surpresa.
A obrigação de ofício me levou a explicar a divisão das competências, a
diferenciar o civil do religioso. Em minha mente, pensava na laicidade do
Estado e na constituição laica clamando a proteção de Deus. Pensava na doutrina
social da Igreja, no reinado social de Cristo. Lembrava os crucifixos retirados
das repartições públicas. Ela sorriu para mim, com a Bíblia nas mãos (como um
mártir?). O livro todo num único versículo: “dai a César...”. Então, calei-me e
ela suspeitou que lhe dava razão. Compreendeu a explicação, mas insistiu em não
assinar. O juiz que o fizesse. Ela não, não podia. “O senhor compreende, eu não
posso, mesmo assim, não posso, minha consciência”. Guardou o livro sagrado novamente
na bolsa e teve a sua vontade atendida. O acordo infrutífero, a audiência
encerrada. Colhemos as assinaturas em silêncio e a ata foi afixada aos autos. Estávamos
livres do rito. No entanto, o diploma, o bacharelado parecia pesar-me sobre as
costas. Minha assinatura no papel, as minhas roupas, a faculdade, os livros
jurídicos, o prédio do Fórum. Sentia-me culpado, como um cúmplice. Por fim,
despedi-me das partes, interrompendo a divagação. Era necessário me recompor e prosseguir
com o restante das audiências do dia. </span><o:p></o:p></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-84973420285721477232014-02-27T17:57:00.000-03:002014-03-03T18:03:39.219-03:00Adélia Prado - O poder humanizador da poesia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/sisSlTXY6bM?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-53567027677377489972014-01-27T14:53:00.002-02:002014-01-27T14:53:12.033-02:00Sem Testemunhas (Olavo de Carvalho)<div style="background-color: #fefaef; color: navy; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: center;">
<i style="line-height: 18pt;"></i></div>
<div style="display: inline !important; text-align: justify;">
<i style="line-height: 18pt;">O Globo</i><span style="line-height: 18pt;">, 22 de julho de 2000</span></div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: right;">
</div>
<blockquote style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 10pt; text-align: justify;">
</blockquote>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: left;">
</div>
<blockquote style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 10pt;">
<div style="text-align: right;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">"Temos de nos desmascarar para alcançarmos aquela autenticidade interior de uma cultura em que poderemos, um dia, nos reconhecer e nos sentir realizados."</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: 10pt;">J. O. de Meira Penna, "Em berço esplêndido"</span></div>
</div>
</blockquote>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: left;">
<br /></div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Albert Schweitzer, em "Minha infância e mocidade", lembra o instante em que pela primeira vez sentiu vergonha de si. Ele tinha por volta de 3 anos e brincava no jardim. Veio uma abelha e picou-lhe o dedo. Aos prantos, o menino foi socorrido pelos pais e por alguns vizinhos. De súbito, o pequeno Albert percebeu que a dor já havia passado fazia vários minutos e que ele continuava a chorar só para obter a atenção da platéia. Ao relatar o caso, Schweitzer era um septuagenário. Tinha atrás de si uma vida realizada, uma grande vida de artista, de médico, de filósofo, de alma cristã devotada ao socorro dos pobres e doentes. Mas ainda sentia a vergonha dessa primeira trapaça. Esse sentimento atravessara os anos, no fundo da memória, dando-lhe repuxões na consciência a cada nova tentação de auto-engano.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Notem que, em volta, ninguém tinha percebido nada. Só o menino Schweitzer soube da sua vergonha, só ele teve de prestar contas de seu ato ante sua consciência e seu Deus. Estou persuadido de que as vivências desse tipo - os atos sem testemunha, como costumo chamá-los - são a única base possível sobre a qual um homem pode desenvolver uma consciência moral autêntica, rigorosa e autônoma. Só aquele que, na solidão, sabe ser rigoroso e justo consigo mesmo - e contra si mesmo - é capaz de julgar os outros com justiça, em vez de se deixar levar pelos gritos da multidão, pelos estereótipos da propaganda, pelo interesse próprio disfarçado em belos pretextos morais.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
A razão disso é auto-evidente: um homem tem de estar livre de toda fiscalização externa para ter a certeza de que olha para si mesmo e não para um papel social - e só então ele pode fazer um julgamento totalmente sincero. Somente aquele que é senhor de si é livre - e ninguém é senhor de si se não agüenta nem olhar, sozinho, para dentro de seu próprio coração.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Mesmo a conversa mais franca, a confissão mais espontânea não substituem esse exame interior, porque aliás só valem quando são expressões dele, não efusões passageiras, induzidas por uma atmosfera casualmente estimulante ou por um sincerismo vaidoso.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Mais ainda, não é apenas a dimensão moral da consciência que se desenvolve nesse confronto: é a consciência inteira - cognitiva, estética, prática. Pois ele é ao mesmo tempo aproximação e distanciamento: é o julgamento solitário que cria a verdadeira intimidade do homem consigo mesmo e é também ele que cria a distância, o espaço interior no qual as experiências vividas e os conhecimentos adquiridos são assimilados, aprofundados e personalizados. Sem esse espaço, sem esse "mundo" pessoal conquistado na solidão, o homem é apenas um tubo por onde as informações entram e saem - como os alimentos - transformadas em detritos.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Ora, nem todos os seres humanos foram brindados pela Providência com a percepção espontânea e o julgamento certeiro de seus pecados. Sem esses dons, o anseio de justiça se perverte em inculpação projetiva dos outros e em "racionalização" (no sentido psicanalítico do termo). Quem não os recebeu de nascença tem de adquiri-los pela educação. A educação moral, pois, consiste menos em dar a decorar listas do certo e do errado do que em criar um ambiente moral propício ao auto-exame, à seriedade interior, à responsabilidade de cada um saber o que fez quando não havia ninguém olhando.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Durante dois milênios, um ambiente assim foi criado e sustentado pela prática cristã do "exame de consciência". Há equivalentes dela em outras tradições religiosas e místicas, mas nenhum na cultura laica contemporânea. Há as psicanálises, as psicoterapias, mas só funcionam nesse sentido quando conservam a referência religiosa à culpa pessoal e ao seu resgate pela confissão diante de Deus. E, à medida que a sociedade se descristianiza (ou, mutatis mutandis, se desislamiza, se desjudaíza etc.), essa referência se dissolve e as técnicas clínicas tendem justamente a produzir o efeito oposto: a abolir o sentimento de culpa, trocando-o ora por um endurecimento egoísta confundido com "maturidade", ora por uma adaptatividade autocomplacente, desfibrada e cafajeste, confundida com "sanidade".</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
A diferença entre a técnica religiosa e seus sucedâneos modernos é que ela sintetizava numa mesma vivência dramática a dor da culpa e a alegria da completa libertação - e isto as "éticas leigas" não podem fazer, justamente porque falta nelas a dimensão do Juízo Final, da confrontação com um destino eterno que, dando a essa experiência uma significação metafísica, elevava o anseio de responsabilidade pessoal às alturas de uma nobreza de alma com o qual as exterioridades da "ética cidadã" não podem nem mesmo sonhar.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
Há dois séculos a cultura moderna vem fazendo o que pode para debilitar, sufocar e extinguir na alma de cada homem a capacidade para essa experiência suprema na qual a consciência de si é exigida ao máximo e na qual - somente na qual - alguém pode adquirir a autêntica medida das possibilidades e deveres da condição humana. A "ética laica", a "educação para a cidadania" é o que sobra no exterior quando a consciência interior se cala e quando as ações do homem já nada significam além de infrações ou obediências a um código de convencionalismos e de interesses casuais.</div>
<div style="background-color: #fefaef; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt; text-align: justify;">
"Ética", aí, é pura adaptação ao exterior, sem outra ressonância íntima senão aquela que se possa obter pela internalização forçada de slogans, frases feitas e palavras de ordem. "Ética", aí, é o sacrifício da consciência no altar da mentira oficial do dia.</div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-33630177623608270872014-01-25T23:29:00.000-02:002014-03-03T12:30:19.618-03:00Documentário Fernando Pessoa<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/ZL8bhv5DjQ8?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />João Augustohttp://www.blogger.com/profile/04727771409055623038noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-21309144013272098312013-12-25T17:02:00.002-02:002014-03-03T12:30:42.171-03:0012 homens e uma sentença<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_yKJnPy9USW72S6lUsMiGHDqqPvbv6Ee04WGro-BjnUGRokkPC7bEn_7ugaTHoRQkI5ZPQeCPzsdPR0a8lcIATPXOqD41WTw6dFN0A7lNQeELGIuCVJnoihfsteSJoTJE-dgw2myuLPeM/s1600/12+homens+e+uma+senten%25C3%25A7a.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_yKJnPy9USW72S6lUsMiGHDqqPvbv6Ee04WGro-BjnUGRokkPC7bEn_7ugaTHoRQkI5ZPQeCPzsdPR0a8lcIATPXOqD41WTw6dFN0A7lNQeELGIuCVJnoihfsteSJoTJE-dgw2myuLPeM/s1600/12+homens+e+uma+senten%25C3%25A7a.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Eu
gosto de assistir a filmes antigos. Não porque sejam antigos, mas porque
geralmente os filmes antigos que chegam ao nosso conhecimento são os bons filmes
antigos. Então, na verdade, corrigindo a frase inicial, eu gosto de filmes bons,
sejam eles antigos ou não. E como os filmes antigos que conheço são bons: eu
gosto de assistir a filmes antigos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Garamond","serif";">12 homens e uma sentença</span></i><span style="font-family: "Garamond","serif";"> ou, no original, <i>12 angry men</i>, é um desses filmes antigos, um bom filme antigo. O
filme tem algumas peculiaridades. A primeira: o nome do filme traduzido é bem
melhor do que o original. Está certo, esta não é uma nota sobre o filme, e sim
sobre seu nome. Mas o leitor há de convir que uma coisa rara é a tradução
brasileira ser melhor do que o nome dado ao filme pelo autor. Muitas vezes a
tradução tupiniquim confunde totalmente o tema do filme, em outras, antecipa o
desfecho do suspense e, em outras ainda, demonstra total incompreensão da
película. Vale a pena realçar, portanto, esta qualidade do filme ou, mais
propriamente, do tradutor do título.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Voltando,
então, ao filme mesmo, uma de suas peculiaridades, e que dá tom e ritmo às
filmagens, é que ele praticamente se passa em um único cenário. O filme trata
do julgamento de um jovem acusado de homicídio. Basicamente todo o enredo se
passa na sala dos jurados, onde estes discutem o caso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">A
cena inicial começa dando uma ideia de rotina forense, apenas mais um dia no tribunal.
A câmera adentra na sala de julgamento, onde o juiz, com semblante e voz que
atestam o tédio de mais um dentre inúmeros casos, profere a recomendação solene
e supostamente tantas vezes já pronunciada antes, embora não menos bela e
verdadeira: a vida de um homem foi tirada, a vida de outro está em jogo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Achei
interessante esta frase, a um só tempo sintética e profunda, ser falada por um
juiz que mal consegue balbuciá-la, desgastado pelo calor e pela repetição de
seu mister. Há algo de misterioso na desarmonia entre a forma e o conteúdo, que
já prenuncia a dialética dos debates que ocorrerão, a batalha entre a vontade
de carimbar a fórmula jurídica para encerrar mais um compromisso e o desejo de
buscar a justiça com detidão e prudência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">O
réu acusado de homicídio é um jovem, aparentemente pobre e de origem
estrangeira do terceiro mundo. A vítima, seu pai.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">O
magistrado deixa claro aos jurados que, devido à gravidade do crime, se o júri
concluir pela condenação, a única pena possível seria a de morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Os
jurados se retiram para a sala que lhes servirá ao exame do caso. Muito calor
naquele dia, e as janelas fechadas e difíceis de abrir. Um deles foi incumbido
de organizar a discussão e a votação e pede aos demais, já ansiosos, que
aguardem outro jurado, um senhor de idade avançada que foi ao banheiro,
apertado que estava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">A
composição do júri é variada. Mais jovens e mais velhos, mais humildes e mais
abastados, de pouco ou muito estudo, temperamento tranquilo ou de nervos à flor
da pele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">O
organizador toma a frente e, após chegaram a um rápido consenso sobre a forma
de votação, e considerando que o caso apresentava provas veementes e indubitáveis,
cada qual profere seu veredicto individual: culpado ou inocente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Não
sei se o sistema americano inteiro é assim, mas neste filme os jurados devem
chegar a uma sentença unânime. Eles podem discutir o tempo que for preciso, mas
não é permitida divergência entre eles. Se não conseguirem convencerem-se a
todos, o julgamento é anulado. A declaração de culpa é afastada se houver <i>dúvida razoável</i>, quando então o acusado
deve ser inocentado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Sucede
que todos os jurados votam, mesmo sem discussão alguma, pela condenação. Exceto
um. Um dos jurados vota pela inocência. Muitos ficam bravos, outros espantados
e curiosos. Ele não apresenta de forma direta um contra-argumento.
Simplesmente, quer conversar um pouco mais antes de condenarem um homem à
morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">O
leitor já pode adivinhar o resultado final, mas o que realmente torna este um
dos melhores filmes antigos a que já pude assistir é a dinâmica incrível que se
cria no decorrer do tempo. A ansiedade de um faz com que irrompa em raiva
desmedida, no momento mesmo em que pretendia chamar o desgarrado jurado à
razão. O senhor mais velho consente em ouvir mais e acaba sendo discriminado
por outros jurados. Alguns não gostam dos preconceitos que desembocam da boca
dos demais e mudam de lado. Outro quer sair dali e ir ao jogo para o qual tem
os ingressos na mão. Reviravoltas, surpresas, tudo aquilo que faz um bom
suspense encontramos neste filme, passado numa pequena sala, onde podemos antecipar
o final, mas adoramos degustar o enredo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">Muitos
moderninhos chamarão a atenção para teorias sobre criminalização de classes
sociais, para preconceitos da sociedade e todo aquele discurso de bom-mocismo
vitimista que domina hoje certas esferas. Porém, a beleza deste filme
esconde-se na forma com que um homem, inspirado por um amor à justiça ou pelo
menos pelo medo da injustiça, comove e, assim, move seus semelhantes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif";">O
tema, na minha leitura, é a velha e sempre atual batalha entre a fraqueza de
nossos vícios e a força de nossas virtudes. Quando um de nós é capaz de
incorporar em si a força do bom, do belo ou do justo, cedemos a este poder que
nos contagia, e nos libertamos da fraqueza que nos contamina. É assim que doze
homens são seduzidos a fazerem a coisa certa. Não são apóstolos, mas certamente
nos deixam a impressão do bem, e da luta que devemos empreender no tribunal que
trazemos conosco todos os dias, e perante o qual nos apresentaremos no final.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<o:p></o:p>Pedro Xavierhttp://www.blogger.com/profile/10036786300410960305noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-56129132663630192532013-12-24T12:30:00.000-02:002013-12-24T12:30:18.208-02:00O Holy Night: Kings College Choir, Cambridge<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/q5n6X9sUznI?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-4983152771058500582013-12-24T12:27:00.003-02:002013-12-24T12:27:44.861-02:00Mansagem do Natal de 1981 do Presidente Ronald Reagan<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/hCeuNUWJzmk?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-26519780174652387792013-12-23T15:45:00.001-02:002013-12-23T15:45:15.113-02:00O Verbo que se Vê<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9eCc583juAmlY1Y1-wyctrOxon-rcWgxdEFlPCn3NiJizeQwVLOzkrBdalTBe-M67LpNcecg5egp_27jTTHct8QNXgEOYb4sy96gl0rbpjyluKYh_CzIDfN9C3MdVQE9MgWdZqEq6OdY/s1600/spacca+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9eCc583juAmlY1Y1-wyctrOxon-rcWgxdEFlPCn3NiJizeQwVLOzkrBdalTBe-M67LpNcecg5egp_27jTTHct8QNXgEOYb4sy96gl0rbpjyluKYh_CzIDfN9C3MdVQE9MgWdZqEq6OdY/s640/spacca+1.jpg" width="507" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG67yqo6i-1MDwuLiEtKl5KFQP7rIEvwSf56EuTpHcpeDCVNwPNmeR5_ObA7qIV51jf1dLmraZkRzn29FUVPesJcubdyz5c5Pip6adN8b1eL9AcXFkAOEoJzaJJwT6x0nl1UuykrqGzQ4/s1600/spacca+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhG67yqo6i-1MDwuLiEtKl5KFQP7rIEvwSf56EuTpHcpeDCVNwPNmeR5_ObA7qIV51jf1dLmraZkRzn29FUVPesJcubdyz5c5Pip6adN8b1eL9AcXFkAOEoJzaJJwT6x0nl1UuykrqGzQ4/s640/spacca+2.jpg" width="506" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXoF8QlQpECTl2nAD-9QOlhaQgVEwlSjAnA9dsciVF8u-jZvoNPCWhbM8N29_dOLDJrOkoL3m0ZKNaEhf8ILgSLsxSFdZthD7MvK9bLe1G7Te-ihot8l2zaCwolHSfTIS-PLxDsF1Nt8s/s1600/spacca+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXoF8QlQpECTl2nAD-9QOlhaQgVEwlSjAnA9dsciVF8u-jZvoNPCWhbM8N29_dOLDJrOkoL3m0ZKNaEhf8ILgSLsxSFdZthD7MvK9bLe1G7Te-ihot8l2zaCwolHSfTIS-PLxDsF1Nt8s/s640/spacca+3.jpg" width="508" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3W_DmDXTHzgGEL71P1wwP8jBRlx-OFM2TVdwILpLFRz0TbbH7l5GxGPHTEmMB1_v7O8XzFExVzD18cc_ReukOA_5WnSYejR6OFjzjSMzj6VLxxaNumbnfgiv4ysDDuP3asU9XGqILvRc/s1600/spacca+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3W_DmDXTHzgGEL71P1wwP8jBRlx-OFM2TVdwILpLFRz0TbbH7l5GxGPHTEmMB1_v7O8XzFExVzD18cc_ReukOA_5WnSYejR6OFjzjSMzj6VLxxaNumbnfgiv4ysDDuP3asU9XGqILvRc/s640/spacca+4.jpg" width="508" /></a></div>
<br />Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-15360005171460687482013-12-02T18:59:00.003-02:002013-12-02T19:15:38.148-02:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><i>"Homens despretensiosos, de boa natureza, tornam-se covardes quando não têm religião. São dominados e explorados, não só por fracotes gananciosos, idiotas e meio mortos que fazem qualquer coisa por charutos, champagne, automóveis e os usos mais infantis e egoístas do dinheiro, mas também por gerente capazes e inteligentes, que nada podem fazer com eles a não ser dominá-los e explorá-los. Governo e exploração tornam-se sinônimos sob tais circunstâncias; e o mundo acaba sendo liderado pelos infantilizados, os bandidos e os canalhas. Aqueles que se recusam a lhes dar guarida são perseguidos, e ocasionalmente executados, quando causam problemas aos exploradores. Caem na pobreza, quando não apresentam nenhum talento específico para o lucro. [...] E a maioria, de boa índole, segue observando, num horror indefeso, ou deixando-se persuadir pelos jornais de seus exploradores, que o assalto não é apenas um bom investimento econômico, mas um ato de justiça divina, do qual ela é ardente instrumento." </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">(George Bernard Shaw<i>, em "A Volta a Matusalém", de 1922, </i>citado por Russell Kirk em <i>"A arte normativa e os vícios modernos", </i>com a seguinte consideração: <i>"pode-se reconhecer a acuidade deste insight sem subscrever à curiosa religião, ou quase-religião, pregada por Shaw"</i>).</span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-55172686408797681242013-11-21T17:25:00.001-02:002013-11-21T17:25:20.621-02:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><i>"A História apresenta duas linhas paralelas. Primeiro, os homens de ferro e de dinheiro, o político, o econômico, o social - ps conquistadores, os comerciantes, as crises de propriedade. Julgam que enchem o Mundo. Depois, os poetas, os artistas, os filósofos, os santos. Os primeiros esmagam os segundos. Mas os segundos ainda atuam mil anos depois da morte, quando se perdeu a pista dos primeiros. [...] Santo Agostinho vivia no tumulto da queda do Império Romano, mas já nada resta dos vândalos que cercavam Hipona, e nós ainda lemos as Confissões. Quando Agostinho morria na sua cidade cercada, toda a gente julgava, sem dúvida, que a guerra era o importante e os livros do Bispo um incidente acessório. [...] Eles só veem a História pela trama. A trama é o suporte material da vida humana; o desenho, que faz a beleza do humano, é o espírito que o traça sob a inspiração do sonho. Os homens de ferro e de dinheiro olham para o tapete do avesso e só veem a trama. Mas do outro lado é que está a beleza. [...] E quando se está lançado no caminho da beleza, sobe-se até Deus. Quando se alcançou a Deus, os conquistadores tornaram-se microscópicos." </i>(Jacques Leclercq, "Diálogo do Homem e de Deus")<i>. </i></span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-16618257439265098602013-11-20T15:54:00.002-02:002013-11-20T15:54:12.798-02:00O direito romano e sua atualidade<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><i>Alexandre Augusto de Castro Corrêa</i></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">28 de outubro de 1984</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">"Os estudantes das Faculdades de Direito do Brasil formam-se hoje em geral sem estudos de Direito Romano, considerados supérfluos para o exercício da profissão. Nada de mais, nesse modo de ver, salvo a circunstância de, sob a aparência de realismo, ele, na verdade, colocar o jurista num vazio ideológico facilmente preenchido pela propaganda esquerdista, principal adversária, aliás, dos estudos romanísticos.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>O vazio ao qual nos referimos e no qual são lançados os juristas sem cultura geral resulta do descaso inoculado nos jovens pela consideração das relações profundas existentes entre sociedade e direito. A profissão, sem dúvida, permitindo ganhar, na advocacia exerce atrativo imediato e poderoso sobre a mocidade.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Mas, se as bases mesmas da sociedade na qual vivemos forem solapadas, a profissão desaparecerá. Ora, só o estudo científico e não apenas utilitário do Direito permite dar ao jovem a consciência de sua situação num mundo em transformação econômica e social e ameaçado pela subversão comunista.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Examinar os fundamentos morais, políticos e religiosos da sociedade em que vivemos, comparando-a com outras sociedades geradas por princípios opostos aos nossos, torna-se, portanto, em época de contestação e guerra fria, tão urgente e essencial, quanto ganhar dinheiro e fazer carreira.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Nosso "modus vivendi" de homens livres, nossa maneira de pensar a vida e os valores que a dignificam são hoje atacados, de modo mais ou menos sutil, por propaganda incansável, visando a intoxicar a América Latina a fim de melhor escravizá-la.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>[...]</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Estas considerações parecem suficientes, como dissemos no início, para mostrar como em época de contestação e guerra fria, que desgraçadamente já atingiu a América Latina, a reflexão sobre as bases de nossas instituições e de nosso modo de vida seja, mais do que nunca, urgente, se quisermos preservar o que nos resta de liberdade frente à investida totalitária. Ora, tal reflexão leva-nos, fatalmente, ao Direito Romano e à avaliação da importância de seu legado para a edificação do Direito dos povos livres do mundo." </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">P.S. Naquele tempo (pouco menos de trinta anos) os estudantes de direito ainda eram capazes de considerar supérfluo o estudo do Direito Romano. Há pouco tempo, ainda eram capazes de um olhar perplexo, diante do desconhecido. Hoje, simplesmente ignoram: os melhores, estão muito ocupados com seus estágios, concursos públicos e prova da OAB; os piores estão bêbados, em algum dos bares ao redor da faculdade. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><br /></i></span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-61819210094452130942013-11-06T11:14:00.000-02:002013-11-06T11:14:03.806-02:00Poema "If" - Rudyard Kipiling<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<b>"Se"</b></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
(Rudyard Kipiling)</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<img alt="Poema – If – Rudyard Kipling" src="http://www.formacaopolitica.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2012/11/kipling.jpg" /></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Se és capaz de manter a tua calma quando<br />Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;<br />De crer em ti quando estão todos duvidando,<br />E para esses no entanto achar uma desculpa;<br />Se és capaz de esperar sem te desesperares,<br />Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,<br />Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,<br />E não parecer bom demais, nem pretensioso;</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Se és capaz de pensar –sem que a isso só te atires,<br />De sonhar –sem fazer dos sonhos teus senhores.<br />Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires<br />Tratar da mesma forma a esses dois impostores;<br />Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas<br />Em armadilhas as verdades que disseste,<br />E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,<br />E refazê-las com o bem pouco que te reste;</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Se és capaz de arriscar numa única parada<br />Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,<br />E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,<br />Resignado, tornar ao ponto de partida;<br />De forçar coração, nervos, músculos, tudo<br />A dar seja o que for que neles ainda existe,<br />E a persistir assim quando, exaustos, contudo<br />Resta a vontade em ti que ainda ordena: “Persiste!”;</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes<br />E, entre reis, não perder a naturalidade,<br />E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,<br />Se a todos podes ser de alguma utilidade,<br />E se és capaz de dar, segundo por segundo,<br />Ao minuto fatal todo o valor e brilho,<br />Tua é a terra com tudo o que existe no mundo<br />E o que mais –tu serás um homem, ó meu filho!</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
<strong style="border: 0px; font-family: inherit; font-size: inherit; font-style: inherit; font-variant: inherit; line-height: inherit; margin: 0px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">If</strong></div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
If you can keep your head when all about you<br />Are losing theirs and blaming it on you,<br />If you can trust yourself when all men doubt you<br />But make allowance for their doubting too,<br />If you can wait and not be tired by waiting,<br />Or being lied about, don’t deal in lies,<br />Or being hated, don’t give way to hating,<br />And yet don’t look too good, nor talk too wise;</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
If you can dream–and not make dreams your master,<br />If you can think–and not make thoughts your aim;<br />If you can meet with Triumph and Disaster<br />And treat those two impostors just the same;<br />If you can bear to hear the truth you’ve spoken<br />Twisted by knaves to make a trap for fools,<br />Or watch the things you gave your life to, broken,<br />And stoop and build ‘em up with worn-out tools;</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
If you can make one heap of all your winnings<br />And risk it all on one turn of pitch-and-toss,<br />And lose, and start again at your beginnings<br />And never breath a word about your loss;<br />If you can force your heart and nerve and sinew<br />To serve your turn long after they are gone,<br />And so hold on when there is nothing in you<br />Except the Will which says to them: “Hold on!”</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; margin-bottom: 20px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
If you can talk with crowds and keep your virtue,<br />Or walk with kings –nor lose the common touch,<br />If neither foes nor loving friends can hurt you;<br />If all men count with you, but none too much,<br />If you can fill the unforgiving minute<br />With sixty seconds’ worth of distance run,<br />Yours is the Earth and everything that’s in it,<br />And –which is more– you’ll be a Man, my son!</div>
<div style="background-color: white; border: 0px; color: #444444; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 21px; padding: 0px; vertical-align: baseline;">
(tradução de Guilherme de Almeida da Folha de São Paulo)</div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-39826769417159834172013-11-01T20:01:00.000-02:002013-11-01T20:42:30.167-02:00Sobre Caminhança II<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não vou dar conta de desenvolver aqui tudo o que tenho a dizer. Faço umas pinceladas apenas. Talvez mais tarde, com um pouco mais de tempo. Fica o bate-papo. Uma centelha! Confio na nossa intimidade... às vezes meias palavras bastam. É uma tentativa de diálogo com o o texto "sobre a caminhança" do caminhante João Augusto (por isso tive a ousadia de intitular este meu texto de nº II). A vocação é um dos temas mais importantes deste espaço. E é bom que seja assim, afinal de contas deve mesmo ser o tema mais importante das nossas vidas (vocação em seu sentido mais amplo). Apenas gostaria de dizer que tive uma reaproximação recente com o universo do Olavo, o que me permitiu alguns <i>insights </i>importantes (interessante como o afastamento e retorno a um grande autor pode ampliar a percepção da sua obra de forma inimaginável... o que parecia ter-se esgotado ressurge como uma fonte vigorosa - não que alguma vez tivesse a pretensão de esgotar os ensinamentos do Prof., é claro, mas falo no sentido da minha experiência pessoal com a obra dele)<i>. </i>Difícil escrever sobre minhas conclusões por enquanto. Sinto que ainda não sou capaz de articular tudo. O processo ainda se destila dentro de mim. Mas arrisco algumas observações, em consideração, inclusive, à carta partilhada pelo João há alguns posts atrás.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A questão sobre a vocação e as decisões de vida envolvem uma questão anterior e com elas intimamente ligada, a autoconsciência. Não é possível compreender a própria vocação, nem corresponder à ela por uma decisão, se antes não tomarmos consciência da nossa própria condição existencial, seja internamente, seja exteriormente. É preciso, antes de tudo, conhecer estas condições, para em seguida iniciar um processo de compreensão e absorção destas circunstâncias, para que elas possam nos impulsionar à nossa verdadeira vocação. Mesmo aquelas que aparentemente parecem hostis, devem se integrar neste plano maior de nossas vidas. Estas circunstâncias envolvem desde questões de caráter e temperamento, a personalidade, história familiar, até o contexto histórico e social em que vivemos. Tudo isso compõe a nossa existência neste mundo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Enfim, não digo nenhuma novidade. E pior! Digo de uma forma improvisada, pobre, muito distante do original. Por isso, convido a que leiam e assistam o Prof. Olavo tratando destes assuntos: é simplesmente maravilhoso! Desculpem, fiz apenas para criar o contexto para dizer que grande parte da nossa crise, do nosso sofrimento, não é apenas nosso, mas diz respeito a algumas condições em que estamos vivendo. Gostaria com isso apenas de complementar as reflexões da carta do João, acrescentando este aspecto que considero essencial: o fato de vivermos no contexto de um declínio cultural, de uma crise civilizacional. Boa parte da obra do Olavo é dedicada a entender justamente esta crise. Mas vejam bem. Não é por acaso que ele se dedica a isto. É porque esta é a sua condição existencial. Ele, enquanto filósofo jamais poderia partir de outro lugar. Ele só pode conhecer filosoficamente qualquer coisa, da mais simples bactéria até o universo, a partir de si mesmo. O ponto de partida é sempre este. Puxa! Isto muda completamente a forma de compreender o seu pensamento (e a sua vida). Não sei se consigo me fazer entender. Demorei para perceber isto com profundidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pois bem. Conosco se dá o mesmo. Boa parte da nossa crise está ligada ao fato de que vivemos todos os dias caminhando por uma cultura que esta desmoronando. Esta desintegração está diante de nossos olhos e sofremos com isso. As reações são as mais diversas, mas a dor é a mesma. Pode ser um insolente cinismo, pode ser um humor escarrado, pode ser a depressão ou o esculacho, ou um utilitarismo materialista... Essas são algumas reações comuns hoje em dia. Porque ainda que não saibam, as pessoas estão reagindo a seu modo, mesmo que não o façam com toda a consciência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ser juízes, defensores, promotores? Sim. Mas nesta Justiça? Quem é capaz de esconder as pilhas de processo, o descompromisso generalizado, o comodismo do funcionalismo, a burocracia, as leis injustas, o caos legislativo... E, pior do que isso, toda a crise do pensamento jurídico, moral, filosófico que está por trás. Por isso sofremos. Esta é a verdade. Portanto o problema é anterior à própria vocação. E não temos como fugir. Esta é a nossa condição, e a condição que teremos que enfrentar. Abraçar (como não lembrar de Jesus pedindo para que abracemos a Cruz).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A imagem do náufrago é perfeita. Terrivelmente perfeita. Não adianta ficarmos fingindo que não. Temos que conhecer, compreender e absolver esta circunstância. Mesmo no naufrágio, há muito o que ser feito. Só encontraremos o sentido de nossas vidas se considerarmos realmente esta condição. Sem resistir, sem lamentar. Senão nos frustraremos. Vamos desanimar sempre. Não! Coragem e enfrentamento! Sem fugas... para salários, comodidades, viagens, títulos, poder... Sem o cinismo e a gozação tão presentes... (lembro de um juiz que conversei...). É possível sim encontrarmos o verdadeiro sentido de nossas vidas em meio ao naufrágio. Mas para isso temos que aceitá-lo. Se não seremos absorvidos, seremos mais uns burocratas tristes e infiéis. A resposta à nossa vocação dependerá disso. Sofrer sim. Mas com sentido, com magnanimidade! Fazer a vida valer a pena! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O Olavo é um exemplo vivo disso. Vocação de professor, de filósofo. Circunstância: universidade brasileira, carreirismo, desonestidade intelectual etc etc etc...(sem falar nas outras inúmeras circunstâncias, pessoais, inclusive...se não me engano passou um longo período da juventude doente). Podem imaginar o sofrimento dele para encontrar um caminho de realização da sua vocação em meio a tantas circunstâncias hostis, a sua luta para encontrar o sentido da sua vida? Este é apenas um exemplo. Sobre isso ele escreveu (trecho do texto que postei antes deste):</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><span style="background-color: #fefaef; color: navy; line-height: 24px;">"Mas nada proíbe um escritor de dirigir-se, em suas obras, aos sobreviventes do naufrágio espiritual do século XX, na esperança de que existam e não sejam demasiado poucos. Acossados pelo assédio conjunto da banalidade e da brutalidade, esses podem conservar ainda uma vaga suspeita de que em seus sonhos e esperanças ocultos há uma verdade mais certa do que em tudo quanto o mundo de hoje nos impõe com o rótulo de "realidade", garantido pelo aval da comunidade acadêmica e da </span><span style="background-color: #fefaef; color: navy; line-height: 24px;">Food and Drug Administration.</span></i><span style="background-color: #fefaef; color: navy; line-height: 24px;"><i> É a tais pessoas que me dirijo exclusivamente, ciente de que não se encontram com mais freqüência entre as classes letradas do que entre os pobres e os desvalidos</i>".</span> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para concluir, penso que o sentido de nossas vidas sempre estará no amor, na caridade, como ensinava Viktor Frankl, outro grande exemplo. Do nosso "holocausto", do nosso naufrágio, só sobreviveremos por amor. No fundo, trata-se de darmos uma resposta amorosa ao dom da vida que recebemos, seja como juízes, como professores, como pais, cada um segundo a sua vocação especial. O Prof. Olavo tem dito muitas vezes que ele está chamando os seus alunos para uma obra de caridade. Pensem na profundidade do que isto significa...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para finalizar, sugiro um grande filme: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=PazIt256aNw" target="_blank">CLIQUE AQUI - "DETACHMENT" </a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Foi sugerido por um aluno do Olavo que está coordenando o IFE-Curitiba, Francisco Escorsim, nesta palestra bastante interessante: <a href="http://www.formacaopolitica.com.br/portfolio/quando-a-educacao-se-torna-questao-de-saude-publica/" target="_blank">CLIQUE AQUI</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Na verdade ele sugeriu que o pessoal assistisse o filme antes da palestra. (lá pelas tantas, inclusive, o professor personagem do filme sugere aos alunos o exercício do necrológio...) </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com isso termino minhas colocações. Espero que tenham algum proveito. </span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-42903678153165271292013-11-01T19:00:00.001-02:002013-11-01T20:08:04.837-02:00Apeirokalia (Olavo de Carvalho)<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><i style="line-height: normal; text-align: -webkit-center;">Bravo!,</i><span style="line-height: normal; text-align: -webkit-center;"> Ano I, n<sup><sup>o</sup></sup>1, novembro de 1997 e<br /><i>A Longa Marcha da Vaca para o Brejo: O Imbecil Coletivo II. </i>Rio, Topbooks, 1998.</span></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Como geralmente se entende por<i> educação superior </i>o simples adestramento para as profissões melhores, conclui-se, com acerto, que toda pessoa normal é apta a recebê-la e que, na seleção dos candidatos, qualquer elitismo é injusto, mesmo quando não resulte de uma discriminação intencional e sim apenas de uma desigual distribuição da sorte. Mas se por essa expressão se designa a superação dos limites intelectuais do meio, o acesso a uma visão universal das coisas, a realização das mais altas qualidades espirituais humanas, então existe dentro de muitos postulantes um impedimento pessoal que, mais dia menos dia, terminará por excluí-los e por fazer com que a educação superior, no sentido forte e não administrativo do termo, continue a ser de fato e de direito um privilégio de poucos.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Esse impedimento, graças a Deus, não é de ordem econômica, social, étnica ou biológica. É um daqueles males humanos que, como o câncer e as brigas conjugais, se distribuem de maneira mais ou menos justa e eqüitativa entre classes, raças e sexos. É o único tipo de imperfeição que poderia, com justiça, ser invocado como fundamento de uma seleção elitista, mas que de fato não precisa sê-lo, pois opera essa seleção por si, de maneira tão natural e espontânea que os excluídos não dão pela falta do que perderam e chegam mesmo a sentir-se bastante satisfeitos com o seu estado, reinando assim entre os poucos felizes e os muitos infelizes uma perfeita harmonia, salvaguardada pela distância intransponível que os separa.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">O impedimento a que me refiro não é material ou quantificável. O IBGE não o inclui em seus cálculos e o Ministério da Educação o ignora por completo. No entanto ele existe, tem nome e é conhecido há mais de dois milênios. A mente treinada reconhece sua presença de imediato, numa percepção intuitiva tão simples quanto a da diferença entre o dia e a noite.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Os gregos chamavam-no <i>apeirokalia.</i> Quer dizer simplesmente "falta de experiência das coisas mais belas". Sob esse termo, entendia-se que o indivíduo que fosse privado, durante as etapas decisivas de sua formação, de certas experiências interiores que despertassem nele a ânsia do belo, do bem e do verdadeiro, jamais poderia compreender as conversações dos sábios, por mais que se adestrasse nas ciências, nas letras e na retórica. Platão diria que esse homem é o prisioneiro da caverna. Aristóteles, em linguagem mais técnica, dizia que os ritos não têm por finalidade transmitir aos homens um ensinamento definido, mas deixar em suas almas <i>uma profunda impressão.</i> Quem conhece a importância decisiva que Aristóteles atribui às impressões imaginativas, entende a gravidade extrema do que ele quer dizer: essas impressões profundas exercem na alma um impacto iluminante e estruturador. Na ausência delas, a inteligência fica patinando em falso sobre a multidão dos dados sensíveis, sem captar neles o nexo simbólico que, fazendo a ponte entre as abstrações e a realidade, não deixa que nossos raciocínios se dispersem numa combinatória alucinante de silogismos vazios, expressões pedantes da impotência de conhecer.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Mas é claro que as experiências interiores a que Aristóteles se refere não são fornecidas apenas pelos "ritos", no sentido técnico e estrito do termo. O teatro e a poesia também podem abrir as almas a um influxo do alto. À música — a certas músicas — não se pode negar o poder de gerar efeito semelhante. A simples contemplação da natureza, um acaso providencial, ou mesmo, nas almas sensíveis, certos estados de arrebatamento amoroso, quando associados a um forte apelo moral (lembrem-se de Raskolnikov diante de Sônia, em <i>Crime e Castigo</i>), podem colocar a alma numa espécie de êxtase que a liberte da caverna e da <i>apeirokalia.</i></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<i style="background-color: white;"><br /></i></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Porém, com mais probabilidade, as experiências mais intensas que um homem tenha tido ao longo de sua vida serão de índole a desviá-lo do tipo de coisa que Aristóteles tem em vista. Pois o que caracteriza a impressão vivificante que o filósofo menciona é justamente a impossibilidade de separar, no seu conteúdo, a verdade, o bem e a beleza. De Platão a Leibniz, não houve um só filósofo digno do nome que não proclamasse da maneira mais enfática a unidade desses três aspectos do Ser. E aí começa o problema: muitos homens não tiveram jamais alguma experiência na qual o belo, o bem e o verdadeiro não aparecessem separados por abismos intransponíveis. Esses homens são vítimas da <i>apeirokalia</i> — e entre eles contam-se alguns dos mais notórios intelectuais que hoje fazem a cabeça do mundo.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Infelizmente, o número dessas vítimas parece destinado a crescer. Já em 1918, Max Weber assinalava, como um dos traços proeminentes da época que nascia, a perda de unidade dos valores ético-religiosos, estéticos e cognitivos. O bem, o belo e a verdade afastavam-se velozmente, num movimento centrífugo, e em decorrência</span></div>
<blockquote style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 10pt;">
<div align="left" style="line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><i>"os valores mais sublimes retiraram-se da vida pública, seja para o reino transcendental da vida mística, seja para a fraternidade das relações humanas diretas e pessoais... Não é por acaso que hoje somente nos círculos menores e mais íntimos, em situações humanas pessoais, é que pulsa alguma coisa que corresponda ao pneuma profético, que nos tempos antigos varria as grandes comunidades como um incêndio".</i><a href="http://www.olavodecarvalho.org/livros/apeirokalia.htm#Nota 1" name="1"><sup><span class="nota" style="font-size: 9pt; line-height: normal;">1</span></sup></a></span></div>
</blockquote>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">As duas fortalezas do sublime, que Weber menciona, não demoraram a ceder: a vida mística, assediada pela maré de pseudo-esoterismo que se apropriou de sua linguagem e de seu prestígio, acabou por se recolher à marginalidade e ao silêncio para não se contaminar da tagarelice profana. A intimidade, vasculhada pela mídia, violada pela intromissão do Estado, tornada objeto de exibicionismo histérico e de bisbilhotices sádicas, desapropriada de sua linguagem pela exploração comercial e ideológica de seus símbolos, simplesmente não existe mais.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Toda a literatura do século XX reflete esse estado de coisas: primeiro a "incomunicabilidade" dos egos, depois a supressão do próprio ego: a "dissolução do personagem". Mas, desde Weber, muita água rolou. Nas proximidades do fim do milênio, o que se entende por <i>mística</i> é um cerebralismo de filólogos; por<i>intimidade,</i> o contato carnal entre desconhecidos, através de uma película de borracha. Os três valores supremos já não são apenas autônomos, mas antagônicos. O belo já não é apenas alheio ao bem: é decididamente mau; o bem é hipócrita, pseudo-sentimental e tolo; a verdade, feia, estúpida e deprimente. A estética celebra os vampiros, a morte da alma, a crueldade, o macho que mete o braço até o cotovelo no ânus de outro macho. A ética reduz-se a um discurso acusatório de cada um contra seus desafetos, aliado à mais cínica auto-indulgência. A verdade nada mais é o consenso estatístico de uma comunidade acadêmica corrompida até à medula.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Nessas condições, é um verdadeiro milagre que um indivíduo possa escapar por instantes da redoma de chumbo da<i>apeirokalia,</i> e outro milagre que, ao retornar ao pesadelo que ele denomina "vida real", esses instantes não lhe pareçam apenas um sonho, que não se deve mencionar em público.</span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div align="left" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; line-height: 18pt;">
<span style="background-color: white;">Mas nada proíbe um escritor de dirigir-se, em suas obras, aos sobreviventes do naufrágio espiritual do século XX, na esperança de que existam e não sejam demasiado poucos. Acossados pelo assédio conjunto da banalidade e da brutalidade, esses podem conservar ainda uma vaga suspeita de que em seus sonhos e esperanças ocultos há uma verdade mais certa do que em tudo quanto o mundo de hoje nos impõe com o rótulo de "realidade", garantido pelo aval da comunidade acadêmica e da<i>Food and Drug Administration.</i> É a tais pessoas que me dirijo exclusivamente, ciente de que não se encontram com mais freqüência entre as classes letradas do que entre os pobres e os desvalidos.</span></div>
Miguel Távolahttp://www.blogger.com/profile/13554972114341733472noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-82623645032284424102013-10-15T23:19:00.002-03:002013-11-01T20:01:50.627-02:00Residências criativas na Casa do Sol - Vamos, Miguel? - http://www.hildahilst.com.br/site/
Em 2012 o Instituo Hilda Hilst retomou seu projeto de Residências Artísticas. O objetivo é promover o intercâmbio entre artistas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento e o desenvolvimento da criação artística. Não é condição sine qua non que o objeto de estudo/pesquisa seja a obra e/ou a vida de Hilda Hilst, nem que seja a literatura seu eixo central. O IHH abriga não só escritores, poetas, filósofos, dramaturgos e atores, como também artistas visuais, músicos, estilistas, físicos e matemáticos. O que é fundamental é que haja trocas de ideias, compartilhamento de conhecimentos e experiências.
O IHH acredita que é justamente na confrontação com outras realidades e na experimentação de novos conceitos que a criatividade é potencializada, e possa agir não só como uma ferramenta de desenvolvimento artístico mas também, e principalmente, pessoal.
O IHH abriga por enquanto apenas dois residentes por período. O pré-requisito básico da residência é que o interessado tenha lido ou conheça a obra de Hilda Hilst e que goste de cachorros, também moradores da Casa do Sol. Os períodos de residência podem variar de uma ou duas semanas a até três meses. Estadias mais longas dependem do projeto do residente e tem outras especificidades. A presença do residente no instituto normalmente é ininterrupta. Quando se trata de uma duração mais longa, ele poderá estar autorizado a deixar a residência por um período e depois retornar. Visitas somente quando notificadas com antecedência e com permissão dos administradores da casa.
O residente tem um quarto individual, banheiro ao lado, wi-fi, acesso acompanhado para pesquisa e/ou consulta à biblioteca da casa que soma cerca de 5 mil livros; além de conviver com os moradores e administradores da casa, Olga Bilenky, artista plástica e grande amiga de Hilda Hilst; e Jurandy Valença, artista plástico, jornalista e diretor de projetos do IHH.
Os projetos enviados devem conter trechos e/ou imagens de trabalhos realizados, currículo atualizado e, sobretudo uma proposta de trabalho, com descrição do que o artista pretende desenvolver durante a residência.
Contate-nos para maiores informações e custos.
João Augustohttp://www.blogger.com/profile/04727771409055623038noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-50642958382242093072013-10-15T22:41:00.002-03:002013-11-01T20:01:56.858-02:00Sobre meu último contato com o TeatroQuerida professora,
Bom, o curso básico de teatro marcou minha vida. Comecei-o em um momento de crise (em que repensava minha profissão de homem das leis, homem da justiça) e ajudou-me a retomar com mais amor tudo o que já fazia antes, auxiliou-me a lembrar que sempre preciso brincar e jogar para que continue fazendo arte em meu trabalho, nunca posso deixar de ser a criança feliz que sempre fui. Sempre classifiquei-me como artista, talvez por pretensão e arrogância, típicos de minha profissão jurídica, talvez por talento e sensibilidade, verdadeiras características do artista, provavelmente pelas duas razões. Mas a verdade é que sempre esforcei-me por ser um artista. Sempre que percebo estar caindo em soluções produzidas em série, lembro que <i>I need to play and I need to play</i> e o milagre sempre se faz, volto a ser aquela criança feliz e arteira! Sempre tive uma queda pelo teatro, provavelmente foi isso que sempre me encantou no Direito, talvez o encantamento que nos maravilha, provavelmente o encantamento que nos enfeitiça, para não perder a ironia... Piadas à parte, também amo muitíssimo o teatro, provavelmente um dia vou encará-lo de forma mais sistemática, sinto tal necessidade em meu interior, mas o Curso Básico ajudou-me a conhecer o teatro real e vivo, o teatro de nossas relações humanas, de todo nosso cotidiano, e recuperou-me para que voltasse a atuar recuperado, renovado da crise que minha vida me propunha. Poderia falar muito mais, tenho a convicção de que nem sei ao certo tudo o que recebi no curso, também sei que dei muito de mim - as semanas eram curtas para dar e receber tudo o que o curso exigia, não conseguia fazer mais nada, tudo girava em torno das aulas. Poderia falar das peças a que me dirigi, dos livros que li, dos amigos que fiz, tudo movido por aquelas semanas mágicas. Por que não continuei com tudo aquilo? Eis uma pergunta que ainda não respondi. Creio que não suportaria tanta Luz. Penso que não parei com tudo aquilo, só não estou preparado para a forma como tudo aquilo se apresentou, se mantivesse naquela esteira não seria algo verdadeiro, não seria de dentro para fora, mas de fora para dentro. A forma que busco hoje é a forma que melhor se adapta àquilo que levo em meu interior, uma enorme sede de Justiça, de lutar por aqueles que são injustiçados. Quer drama maior? A Luz posta em tal forma não ofusca meus olhos, assim sei que sou capaz...
Satisfação em poder contribuir! Espero que você sempre continue sendo a professora e artista brilhante e generosa que sempre foi. Também aceito palpites felizes para minha caminhada!
João Augusto!!!João Augustohttp://www.blogger.com/profile/04727771409055623038noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-20042719549028306772013-10-15T22:27:00.000-03:002013-11-01T20:02:02.462-02:00Sobre CaminhançaBom dia, João Augusto,
Sou obcecada por terminar tudo o que começo. Por isso, comecei a ler seus textos e terminei, mesmo que isso tenha me custado grande parte da noite de sono. Aliás, não só por isso, mas também porque a leitura estava bastante agradável.
Resolvi escrever minhas impressões para que elas não se dispersassem.
Essa leitura apenas ratificou todos os meus pensamentos a seu respeito. Você é uma pessoa tão íntegra, humilde, honesta, culta... e principalmente, você é tão honesto consigo mesmo. Você nem imagina o quanto eu o admiro.
Aliás, acho que essa é a fonte de tantas crises com o Direito e com o concurso para a magistratura: sua honestidade. Você se recusa a se render às fórmulas prontas... a ser um “concurseiro padrão”.
Por outro lado, dessa forma você prolonga os anos de reprovações e, consequentemente, o tempo de estudo e as crises (que você acha que são relacionadas à sua vocação, mas, no meu modo de ver, não são).
Para mim, sua vocação é muito nítida. Acho que você seria um ótimo advogado, você é um servidor exemplar, pelo que tenho acompanhado, mas você nasceu para a magistratura. É evidente também que você tem alma de artista e que seria um escritor fabuloso. Porém, você não precisa optar entre ser juiz ou ser artista. Você tem duas vocações conciliáveis.
Especificamente, em relação ao concurso, você está em um círculo vicioso, na minha opinião: se recusa a ser um “concurseiro padrão”, ainda que, dessa forma, demore mais para ser aprovado, o que, de fato, vem ocorrendo; em razão dessa demora e das sucessivas reprovações, você questiona sua vocação e entra em crise, o que faz com que, momentaneamente, você se distancie de seu objetivo (o concurso, que, por algum tempo, deixa até de ser o objetivo); durante a crise, sua veia artística se aflora e você se aproxima da literatura ou do teatro; mas, por fim, sua outra vocação (a magistratura) te chama à razão e você retoma os estudos com afinco, mas, ainda assim, sem se render às formulas prontas...e assim sucessivamente.
Apesar de concordar com você, apesar de achar medíocre esse estudo “decoreba” que os examinadores normalmente esperam dos candidatos, do jeito que as coisas caminham você só faz com que suas angústias se prolonguem.
Acredite: você tem vocação para ser juiz. Você é uma grande fonte de inspiração para mim. É uma pessoa coerente e com um imenso senso de justiça. Não duvide disso em nenhum momento. As reprovações não devem gerar tal questionamento, até mesmo porque foi você quem escolheu o caminho mais longo conscientemente. E se não o fez conscientemente, tome agora consciência disso.
Você é uma pessoa tão inteligente e erudita. Merece muito ser aprovado. Mas, se você quiser passar logo, vai ter de sacrificar-se por um estudo medíocre. É triste, mas é a realidade...são essas as regras do jogo. Para minimizar essas crises e as dúvidas quanto à sua própria vocação, recomendo que você seja menos honesto consigo mesmo, apenas por algum tempo. Assim, você será provavelmente aprovado mais rapidamente, e essa angústia terminará.
Duvido que você concorde comigo, pois você é uma pessoa fiel aos seus ideais. Nada mudará. Você se recusará a ser uma pessoa medíocre, que faz leituras medíocres...então, só me resta pedir a você que não duvide mais da sua vocação, encare com naturalidade as batalhas perdidas, e espere pacientemente o seu momento.
Vou continuar refletindo sobre o que li. A propósito, suas poesias são lindas e eu adorei os textos sobre os planos para a aposentadoria. Você é genial.
Enfim... quero te ver feliz.
Magistrada amiga, recém-empossada.João Augustohttp://www.blogger.com/profile/04727771409055623038noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5271863940221499100.post-23965889944036973442013-10-15T19:46:00.002-03:002013-11-01T20:02:08.962-02:00Fatos e mais fatosFinalmente, consegui ficar menos de dez horas no trabalho, e recebi um presente, como aquela aspiração após mais de minuto debaixo d’água. Não posso negar que andei de soslaio com a Adélia hoje cedo. Eta mulherzinha atrevida! Andava distraído, cá com as caraminholas de sempre. De repente, uma placa me intriga, “Mina do Machado”, nossa, que isso aqui no meio da cidade? Um pouco à frente uma senhora distinta volta com dois galões. Fico curioso: - Moça, essa água é boa? Pode beber? Ela, solene e espantada com minha ignorância: - Claro. Vem gente até de outras cidades pegar água aí! – Ah, brigado. Adiante está um bosque, no meio dele a festejada mina d’água. Um filme antigo passa em minha cabeça, rodado na minha infância, quando ainda buscávamos água em bicas lá no interior de São Paulo. Há muitos anos isso acabou, a última vez que tinha visto isso, os ladrões ainda tinham cara de pau – como dizia o Poeta. Minas Gerais ainda é assim, o fato poético está em toda esquina, basta estar disposto a ele. E eis que acordo à poesia, a antiga Musa retorna, e uma sucessão de fatos mostram que todos os fatos poéticos sempre estiveram ali, rindo de minha vida patética. Noto um homem sentado no chão defronte à sua casa: - Ôpa! - Ôpa! Um outro está observando o chuvisqueiro: - Mudou o tempo, hein! - É, vem mais lá do leste. Outros dois senhores conversam despreocupados bem no meio da rua. As plantas desajeitadas de meus tênis ferem o trabalho de toda a tarde de um pobre pedreiro, ainda estava fresco o cimento: - Vixe! Notando minha compenetração de quem tem licença poética: - Não tem problema! Vejo um pé de romãs no jardim de uma casinha (essa poetisa...). Poderia continuar a descrever todas as imaginações e desvarios que se seguiram, mas basta, a vida é assim mesmo, só é preciso estar aberto para que a Luz volte e ilumine-nos com clareza solar, ainda que debaixo de chuva. O bom senso-loucura das letras jurídicas me chama de novo, enfim, nem só de rosas (e romãs) é feita a vida... Esses os fatos de hoje...João Augustohttp://www.blogger.com/profile/04727771409055623038noreply@blogger.com1