sábado, 31 de dezembro de 2011


Com esta Carta quero resistir aos tempos. Como os grandes homens de outrora, em suas grandes batalhas, assim mando notícias, em uma carta que levará meses a chegar. Demora que não se faz caprichosa, porém necessária ao depósito lento dos acontecimentos. Precisamos recuperar a linha própria do Tempo, que supere a frívola aceleração de eventos fúteis em que estamos mergulhados. Fora das horas, no tempo em que habitam as notas de Mozart, as pedras de Michelangelo, os versos do poeta e as grandes conquistas. Nesta página sem pretensões, mergulhada na imensidão virtual, a que chamamos “caminhança”, abraçamos convictos a alegoria da vida como um grande caminho trilhado, unidos a uma tradição que remonta à Homero, à Virgílio, à Bíblia, à Dante, à Cervantes, à Tolkien. A história épica, a saga peregrina de nossas vidas, da vida de todos nós, de todos os homens.

Quero com esta Carta anunciar este desafio e esta alegria de estar vivo, de abraçar a vida desde o chão, a partir do céu, com liberdade e entusiasmo. Nosso tempo clama à guerra, ao compromisso, à Aliança! Escrevo a meus Amigos de Coração, com um espírito de exortação. Para que jamais deixemos que a lição dos Grandes Mestres, que tivemos a graça de receber, perca-se na escuridão sem memória. Em uma época de homens que vagam a esmo, recebemos a Missão de perpetuar a sabedoria dos antigos e de fazê-la prevalecer. No bastião de nosso Pai, iluminados pela Sua Esperança, tenhamos a coragem de enfrentar esta guerra silenciosa. Vamos juntos, fiéis ao numeroso exército dos Santos e com o coração de Mártires. Sem esmorecer. Sem dar ouvidos ao canto perigoso e sedutor que inunda as cidades. Com a certeza de que a vitória já pertence ao general bondoso que nos convocou desde o princípio.

Que a modernidade não nos torne frios e insensíveis aos acontecimentos mais iminentes. Que não estejamos presos aos afazeres deste mundo, nem a glória de nossos pares. Que a Eternidade sempre brilhe diante de nossos olhos, para que não nos entreguemos ao tempo. Ao frívolo tempo em que estamos mergulhados. Às tolas horas. Que os nossos anos não sejam marcados apenas pela vil comemoração dos porcos. Que sejamos dignos de nossa missão de verdadeiros Homens, pois nascemos para a plenitude. E é para Plenitude que devemos guiar nosso caminho.

Senhores Cavaleiros da Távola! É com este espírito que nos despedimos deste ano, fazendo as honrarias da casa. Foi um grande prazer lutar tendo-os ao meu lado, meus caros caminhantes. Assim espero continuar no próximo ano, que já desponta no horizonte como um Sol promissor. Sigo perseverante e fiel, abençoado por essas raras amizades e com o coração transbordando de esperança. Que Deus esteja conosco! Um forte abraço, Miguel.              

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Giana Jessen

Simplesmente assistam!


PARTE I




PARTE II



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mensagem de Natal - 2011


Mistério. A Igreja nos ensina que o mistério é como uma porta que abrimos; ao passarmos por ela, passamos a compreender algo mais, porém, do outro lado existem mais e mais portas, aguardando para serem abertas.
O Deus Trino, um só Deus em três Pessoas, é um mistério muito grande. Aprendemos com este mistério que Deus se fez carne e habitou entre nós, se fez menino Jesus, nascido em uma manjedoura, em Belém; Deus se fez Espírito Santo, amor do Pai pelo Filho.
O menino Jesus, acolhido no seio da sagrada família, nos revela o valor da humildade. Olhando um presépio, nosso coração é amainado, cresce nosso amor na prece que fazemos com os olhos, recebendo de peito aberto a mensagem que veio na noite de natal.
E como cantamos na noite feliz, possamos rezar neste natal: Ó Jesus, Deus da luz, quão afável é Teu coração, que quiseste nascer nosso irmão e a nós todos salvar.
Amén.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

"Ero Cras" (Eu estarei aí amanhã)

(Transcrição do trecho final da aula ao vivo do Padre Paulo Ricardo: http://padrepauloricardo.org/audio/14aula-ao-vivo-o-emmanuel/)

"[...] Meus queridos, como pai espiritual de muito de vocês, eu queria colocar a importância de nós vivermos espiritualmente este tempo de preparação para o Natal. Não existe mais solidão para nós cristãos. Emmanuel! Ele é o Deus que está conosco! Esta presença, esta encarnação que está ai desde a eternidade, nesta gestação desde o começo dos séculos, está conosco. É importante nós lembrarmos o quanto a Virgem Maria nos gera nesta realidade [...]. Existe um título típico da tradição portuguesa que nos chegou ao Brasil também: Nossa Senhora do Ó (em referência as antífonas do ó, que são as antífonas do advento). É a Nossa Senhora da expectação, que é Nossa Senhora grávida de Jesus, a Virgem do apocalipse que aparece em dores do parto esperando o seu filho. Então, acompanhamos esta expectação, esta geração, esta gestação no ventre de Maria. O advento está ligado, especialmente, à Virgem Santíssima, porque ela é quem gera, quem gesta, quem carrega Jesus. Nós queremos que ela traga para nós esta grande graça. Ela que é a medianeira de todas as graças. Ela vem nos trazer Jesus, vem trazer Deus, ela é a portadora de Deus, a teófora, que vem e trás.

Meus irmãos, vamos nos colocar em sintonia com a Virgem Maria nesses dias de Natal. Nestes dias de Natal prepare seu coração, porque ela vai bater à sua porta. Assim como na porta dos habitantes de Belém, Maria com São José irão bater na porta do seu coração e eles querem entrar. Que triste seria se vocês não tivessem o seu coração aberto para receber esta visita. Que triste seria se nós não tivéssemos o nosso coração preparado para esta vinda do filho. [...] Então faça isso. Reze com Nossa Senhora do Ó, Nossa Senhora da Admiração, Nossa Senhora do Magnificat. Sim, este “ó” de Maria é expresso no canto do Magnificat: “a minha alma engrandece o Senhor”. Esta admiração, esta abertura da alma, do estupor de quem vê como Deus é grandioso apesar da nossa miséria. [...] As duas coisas, este contraste: Deus que vem grandioso e o homem que diz salvai-me, pequenino, mas confiante. É esta confiança que nos ensina a Virgem Maira. Esta confiança de sabermos que não estamos sozinhos.

Veja, meus irmãos, tantas más notícias. Tantas coisas ruins experimentamos no nosso dia-a-dia. É necessário viver bem este tempo do advento. Se vivermos isto com intensidade, estaremos sim gerando a esperança no nosso coração. Uma das coisas mais difíceis para nós, que somos católicos e vivemos a fidelidade à Igreja e ao Papa, é que temos uma tendência de sermos pessimistas. Só vemos as más notícias, que circulam rápido na internet. O tempo do advento vem para alargar o nosso coração, para recebermos a boa notícia, a boa nova: Deus está conosco! E que esta maldade, a maldade do mundo, é só uma pequena sombra que passa. Estas trevas profundas, imensas, nas quais nós estamos imersos, que não conseguimos enxergar um palmo na frente do nariz, nada mais é do que uma nuvenzinha, simplesmente um nada, uma sombrazinha de um sol imenso que brilha acima de todas as nuvens, um sol nascente que veio nos visitar. Que na noite de Natal este sol brilhe. A estrela de Natal é muito mais do que a estrela dos magos. A estrela do Natal é um sol nascente, um sol brilhante, um sol resplandecente, que vem para afugentar todas as trevas.

Meus irmãos, creiam nisso! Creiam que atrás destas trevas, deste momento terrível que estamos passando, deste momento em que nós, de alguma forma, estamos acabrunhados, desanimados, de baixo dos pesos não somente das perseguições, mas do peso do nosso pecado, da nossa miséria, vem um Salvador nos libertar. Ele vem e nos liberta, para que libertos das mãos dos nossos inimigos, nós o sirvamos em santidade e justiça. Libertos! Este nosso pedido, este nosso clamor! Esta nossa admiração pela potência Dele e este pedido confiante da nossa miséria. Grandeza de Deus, miséria do homem, mas certeza, certeza esperançosa. Desespere de você e espere em Deus! Desespere dos homens! Sim, nós estamos num momento dramático da história, em que praticamente nós não temos o que esperar dos seres humanos, mas Ele vem. Ele vem e está presente atrás destas nuvens tenebrosas, destas trevas. O povo que andava nas trevas viu uma grande luz! Emmanuel! Deus conosco! Que Deus abençoe vocês e lhes dêem um Santo Natal, o Natal abençoado de Nosso Senhor Jesus Cristo [...]."

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Veni, Veni, Emmanuel



Veni, veni Emmanuel;
Captivum solve Israel,
Qui gemit in exilio,
Privatus Dei Filio.

Gaude! Gaude! Emmanuel,
Nascetur pro te, Israel!

Veni, O Jesse Virgula,
Ex hostis tuos ungula,
De specu tuos tartari
Educ et antro barathri.

Gaude! Gaude! Emmanuel,
Nascetur pro te, Israel!

Veni, veni, O Oriens;
Solare nos adveniens,
Noctis depelle nebulas,
Dirasque noctis tenebras.

Gaude! Gaude! Emmanuel,
Nascetur pro te, Israel!

Veni, Clavis Davidica!
Regna reclude caelica;
Fac iter tutum superum,
Et claude vias inferum.

Gaude! Gaude! Emmanuel,
Nascetur pro te, Israel!

Veni, veni Adonai!
Qui populo in Sinai,
Legem dedisti vertice,
In maiestate gloriae.

Gaude! Gaude! Emmanuel,
Nascetur pro te, Israel!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Antífonas do Ó

O imenso desejo da vinda de Cristo que caracteriza todo o Advento, exprime na liturgia com uma impaciência tanto maior quanto se aproxima do Santo Natal. "O Senhor vem de longe" (Intróito do 1º Domingo Advento). "O Senhor virá" (Intróito do 2º Domingo do Advento). "O Senhor está próximo" (Intróito do 3º Domingo do Advento). E esta gradação acentua-se cada vez mais. Assim começam no dia 17 de Dezembro as antífonas Maiores, também chamadas de "Antífonas do Ó", que são um apelo vibrante ao Messias cujas prerrogativas e títulos gloriosos nos declaram.

As Antífonas do Ó são sete antífonas especiais, cantadas no Tempo do Advento, especialmente de 17 a 23 de dezembro antes e depois do Magnificat, na hora canônica das Vésperas. São assim chamadas porque tem início com esse vocativo e foram compostas entre o século VII e o século VIII, sendo um compêndio de cristologia da antiga Igreja, um resumo expressivo do desejo de salvação, tanto de Israel no Antigo Testamento, como da Igreja no Novo Testamento. São orações curtas, dirigidas a Cristo, que resumem o espírito do Advento e do Natal. Expressam a admiração da Igreja diante do mistério de Deus feito Homem, buscando a compreensão cada vez mais profunda de seu mistério e a súplica final urgente: «Vem, não tardes mais!». Todas as sete antífonas são súplicas a Cristo, em cada dia, invocado com um título diferente, um título messiânico tomado do Antigo Testamento (Antífonas do Ó: O antigo e o novo na oração litúrgica do advento. - São Paulo: Paulinas, 1997. ISBN 85-356-0021-3).

Ó Emanuel!

Sendo o Ano Litúrgico uma escola de santidade, Padre Paulo Ricardo propõe uma meditação sobre as Antífonas Maiores, consideradas “a medula da liturgia do Advento” (Dom Guéranger). A Igreja suplica ao Senhor que venha com poder e nos salve, permanecendo, para sempre, o Deus-conosco. A admiração, o canto e a súplica são as atitudes que as “Antífonas do Ó” nos fazem viver intensamente nos últimos dias do Advento. No site ainda são disponibilizados a letra e a partitura do canto:

3º Sermão para o natal - São Leão Magno

»Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo [...]
n'Ele nos escolheu antes da criação do mundo» (Ef 1, 3-4)

A Encarnação do Verbo, a Palavra de Deus, diz respeito ao passado e ao futuro; nenhum tempo, por mais recuado que seja, foi privado do sacramento da salvação dos homens. O que os apóstolos pregaram é o que os profetas tinham anunciado, e não se pode dizer que o que se acreditou desde sempre se tivesse cumprido tardiamente. Adiando a obra da salvação, Deus tornou-nos, na Sua sabedoria e na Sua bondade, mais aptos para responder ao Seu apelo [...], graças a estes anúncios antigos e frequentes.

Não é pois verdade que Deus tenha providenciado às questões humanas mudando de intenção e movido por uma misericórdia tardia: desde a criação do mundo, Ele decretou para todos um único e mesmo caminho de salvação. Com efeito, a graça de Deus, pela qual todos os Seus santos sempre foram justificados, não se iniciou com o nascimento de Cristo, antes cresceu com ele. Este mistério de um grande amor, que agora preencheu o mundo inteiro, já era igualmente poderoso em seus avisos; os que acreditaram quando lhes foi prometido não tiveram menos benefícios do que os que o receberam quando lhes foi dado.

Meus caros, foi pois com uma bondade evidente que as riquezas da graça de Deus foram derramadas sobre nós. Chamados à eternidade, não somos apenas sustentados pelo exemplo do passado, mas vimos aparecer a própria verdade sob uma forma visível e corporal. Devemos pois celebrar o dia do nascimento do Senhor com uma alegria fervorosa que não é deste mundo. [...] Graças à luz do Espírito Santo, saibamos reconhecer Aquele que nos recebeu n'Ele e que nós recebemos em nós: porque, tal como o Senhor Jesus tomou a nossa carne nascendo, também nós tomamos o Seu corpo renascendo. [...] Deus propôs-nos o exemplo da Sua generosidade e humildade [...]: sejamos semelhantes ao Senhor na Sua humildade, se queremos ser como Ele na Sua glória. Ele próprio nos ajudará e nos conduzirá à realização do que prometeu.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Na pândega

Resolvi esculhambar... Peço licença pra relaxar! (pra quem quer relaxar comecei muito mal com esse negócio de pedir licença... mas vamo lá...). Que esse negócio tá ficando sério demais pra mundo sociopatapósmoderno... É pessoal, eu confesso. Preciso exorcizar certas conversas... Primeiro, haja paciência com o conversê socioambientalpoliticamentecertinho! Falo “conversê” porque agora está na moda o português achado na rua e sem preconceito lingüístico. Que maravilha, por que não inventaram isso antes? É só escrever como fala... Sem complicação ou regras a seguir... É a revolução da língua! Abaixo a ditadura gramatical! (essa nem Marx esperava...). Hoje eu to assim, com o saco no limite da encheção, desse jeito mesmo, como eu acho que devo escrever “encheção”. Em tempos de todo mundo pode tudo, parece piada olhar de corretor... Eu quero é que se esploda a pedagogia e a sua mania de ensinar. Bem, voltando ao assunto. Bacana esse pessoal ambientar... Trocaram a foice e o martelo pelas folhinhas verdes da árvore... Que lindo! Comove ver as atrizes americanas vindo fazer bonitinho no país da moda (o Brasil, segundo a Dilma) no SWU, que significa nada mais, nada menos, do que “Start with you”...huhuhu... É de chorar, chorar de emoção... Quem será o supremo inventor dessa mistura de festival Wood Stock com Greenpeace... É genial! Outro dia vieram me dizer que o estado solidário, a última palavra em termos de filosofia política, baseado na ética sócio-ambiental, na responsabilidade social e na... ual, cuidado agora, esta é a palavra chave... sustentabilidade... é a realização máxima do ensinamento evangélico... basicamente: "O reino chegou” (por essa nem o Frei Baboff esperava...). Puta que pariu! É o fim da picada! Já viram o movimento gota d’água? Puta que pariu! Olha, desse jeito a cruz vai ficando pesada demais... Tá berando o insuportável... (assim, bem informal...). Haha! Tem também aquela moda de tudo curtir... essa é irritante! Acabaram com o momento cerveja... banalizaram as viagens... acabou a diversão! Tem gosto pegar avião? Tem? Mas pra fazer bonito mesmo vc tem que ser um cara descolado, falar palavrão, só pensar besteira, ir a muitas festas, fazer muitas viagens, viver aventuras, mas, principalmente, não esqueça, vc tem, tem, tem, tem, eu insisto, tem de estar no face, que é o modo carinhoso como chamam o facebook. Nunca ouviu falar? Morra! O que não está no face não está no mundo. Portanto, desista. Você será esquecido se não integrar o face. E no direito? Assunto técnico, eu sei... Mas deixa eu entrar um pouquinho, vai? Deixa? Todo mundo só fala em princípio, né, isso todo mundo já sabe... É princípio pra cá, princípio pra lá, princípio pra todo lado... lá rá rá... Mas bunitinho mesmo é o princípio da afetividade no direito de família... É fofo, entende... (sem querer parodiar as bibas... quer dizer, os boiolas... ops, os gays...). Mas é tudo tão lindo, tão cor-de-rosa no mundo sócio-afetivo... Todo mundo ama todo mundo... Santa Berenice... para quem não conhece, vale a pena... A dama do divórcio já! Eu sei, acordei irritadinho... Mas não sejam preconceituosos... Eu tenho o direito de estar irritadinho, não tenho? Vocês tem que tolerar... O mau humor não é uma escolha... o que podemos fazer... ingulam essa, suas megeras! É que na noite passada eu tive um sonho. Estávamos todos na rua, numa grande passiata. Todos de branco e verde. Organizados pelas ONG´s íamos pelas ruas, captando o encentivo das empresas responsáveis e sustentáveis, rumo a um mundo melhor. E com o apoio do Ministério! Ao som do melhor roquenrrou, circulávamos pelas avenidas, brindano a liberação da canabis e a alegria de estarmos num mundo tão bom. O Lula ia à frente, a Berenice, a Dilma, a Marina, o Caetano, o Chico, aquela atriz americana do SWU, o John Lennon, o Bob, o Che, todo movimento estudantil... Muito lindo! Gente! O que estamos fazendo com o nosso planeta? Precisamos cuidar dele, gente! Essa é a mensagem! Depois acordei. E deu nisso aqui. Agrade a quem agradar... Esse é o mal da internet. Aqui foda-se o politicazinho correto! Tem espaço pra louco... pra quem quiser ouvir... De resto... Vamo em frente! Concursar... Comprar carro, arranjar sucesso, contar tudinho no face e ser popular, fortinhos e lindos... irresitivelmente sensual... comê todas, morô?! Hoje nem dá tanto trabalho. Você espera... Tem sempre uma vaquinha sedenta querendo te chupar... mamar... entendeu? Aos ouvidinhos sensíveis, o tampão! Por aqui é baxaria, meu irmão! Não é pra arregaçar os limites? a gente vai fazendo...vai entrando na onda... na vibe (se lê vaibe, oh ignorância!)! Importante é ser feliz... dizer o que pensa e ter opinião... Tudo light! Tudo na paz! Então, resolvi descê o nível, entendeu? Porque eu quis! Tem algo contra! Processa... quero ver qual juizinho neoconstitucionalista do direito alternativo achado na rua que vai dar ganho de causa a repressão da expressão genuína da minha mente brilhante... O mundo moderno é assim... se acostuma aí, ô! Rsrsrsrsrs... entende quem quisé! Sô mais eu! Tem MSN? Me adiciona ai! Depois a gente tecla... rola até sexo virtual... quem sabe? Olha a baxaria! Tabão! Deixa eu acabá... Porque no mais... vou seguindo e sorrindo... o que vale é a experiência... Ui, ui... vale tudo pra experimentá! Até isso aí vale... Ah, vale! Agora é deitá, puxar um banza e sonhar, sonhar, nos braços da ONU, o planeta verdinho, sem policial pra incomodar, sem regragem chatíssima... deixa de ser ambicioso... o mundo sem dinheiro, sem desigualdade social... já pensô? Todo mundo no melhor estilo favela, mas vivendo de frente pro mar... já pensou? O sertão vai virar mar... Oh, diaxo! Tinha que entrar o sertão e um sotaquinho nordestino, senão não ia ser candidatável ao Jabuti... nem a Academia... Viva a Academia! Viva o lula! A Dilma! Viva o Brasil e a copa! Viva as UPP´s que vão transformar o Rio numa grande Zona Sul... Viva a garota de Ipanema! E da rocinha, também, sem preconceito! Viva, viva, viva! Viva o movimento gay, sucessor do movimento feminista no depósito moral da sociedade nacional! Ficou sério demais... Viva a cerveja, gente! Viva a festança! Viva! Chega de viva! Chega! Só mais um... Viva a sustentabilidade! Uh, uh, rururu! Acabei com chave de ouro (porque é chique ser demodè às vezes... falar bacana, chave de ouro, onda, usar roupa do brechô, ser hippie na oscar freire, ler fucô e sartre)! Chama o Zé Celso! O consultor número um do novo mundo... Cuidado com a mania que ele tem... vá brincando... que ele mostra o c... e ainda põe tudo no face, no face! Depois quero ver... vai sobrar pra vc explicar pra todos os seus contatos de quem era aquele c... Ah! E se puder... cultive um ódio viceral (ééé... assim mesmo... sem “s”... oh CDF chato! Não percebeu que aqui a gte escrevinha como qué... saco!) pelos americanos, mas ame NY! É lindo chorar as vítimas do Iraque... e adote um bebê africano! A Angelina Jolie vai encher você de beijos... Imagina, véio! Você e a boca da Jolie? Nada? Põe no google que vc vai entender, oh animal!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Alísios*

À beira de desistir,
já não resta a mesma força
às coisas cotidianas.
A técnica e o papel
martelam o fôlego.
Já não erguemos os olhos
à janela próxima.
E já não há janelas próximas.

Mas a misericórdia cuida
de atrasar o tempo.
Sentamo-nos impacientes,
forçados à espera,
recobertos de uma dureza
eficiente e útil.
Presos às horas,
distraídos notamos o ar.

Envolvidos pelo tempo
que se espraia lento e denso,
vamos aquecidos,
pouco a pouco, ressurgindo.
Até um suspiro que traga
a antiga suspeita
de que tudo está como deve
de que não vagamos à toa.

Sentimos novamente o frescor.
Porque todo teatro, toda letra,
toda perturbação triste,
obrigação cívica, tragédia,
vitória equívoca,
todos os equívocos, a ciência,
tudo, absolutamente tudo
está subordinado ao vento.

Então, entregamo-nos ao vento.
Sopro de mistério,
Em que somos sim!
capazes e livres.
À esperar, com alegria,
À amar, cotidianamente.
E esperamos, e amamos,
abençoados pelo vento.

*Ventos alísios são ventos quentes e úmidos que sopram regularmente nas regiões tropicais trazendo chuva.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Madre Teresa de Calcutá



"Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba. Não ame por admiracão, pois um dia você se decepciona. Ame apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação."

"O dever é uma coisa muito pessoal; decorre da necessidade de se entrar em ação, e não da necessidade de insistir com os outros para que façam qualquer coisa."

"Não sou nada; sou apenas um instrumento, um pequeno lápis nas mãos do Senhor, com o qual Ele escreve aquilo que deseja. Por mais imperfeitos que sejamos, Ele escreve magnificamente."

"Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz."

"A falta de amor é a maior de todas as pobrezas."

"Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor."
 
"Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota."

"Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão."

"Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas. Perdoe-as assim mesmo! Se você é gentil, podem acusá-lo de egoísta, interesseiro. Seja gentil assim mesmo! Se você é um vencedor terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros. Vença assim mesmo! Se você é bondoso e franco poderão enganá-lo. Seja bondoso e franco assim mesmo! O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para a outra. Construa assim mesmo! Se você tem paz e é feliz, poderão sentir inveja. Seja feliz assim mesmo! O bem que você faz hoje, poderão esquecê-lo amanhã. Faça o bem assim mesmo! Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo! Veja você que, no final das contas é entre você e Deus. Nunca foi entre você e os outros!"


A vida

A vida é uma oportunidade, aproveita-a.
A vida é beleza, admira-a.
A vida é beatificação, saborei-a.
A vida é sonho, torna-o realidade.
A vida é um desafio, enfrenta-o.
A vida é um dever, cumpre-o.
A vida é um jogo, joga-o.
A vida é preciosa, cuida-a.
A vida é riqueza, conserva-a.
A vida é amor, goza-a.
A vida é um mistério, desvela-o.
A vida é promessa, cumpre-a.
A vida é tristeza, supera-a.
A vida é um hino, canta-o.
A vida é um combate, aceita-o.
A vida é tragédia, domina-a.
A vida é aventura, afronta-a.
A vida é felicidade, merece-a.
A vida é a VIDA, defende-a.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

José e o labirinto

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?

Para onde?
E agora?

Parece que não tem fim...
Fiz, desfiz...
Montei, desmontei...
Fui e já voltei! Repito: Já voltei!

Não sei, mas acho que o problema é que ultimamente só quero desfazer, desmontar, voltar...
Chego à loucura de desfazer o desfeito, desmontar o desmontado, ficar atordoado.
Já nem sei mais qual a finalidade, só quero ter o prazer de estragar tudo!

Mas será isso mesmo? E agora, José?
Nada me satisfaz! Não, não, não me venha falar que o homem é insaciável e blá, blá, blá... Quero encontrar qualquer coisa que eu faça com liberdade, seja lá o que isso queira dizer... Quero poder fazer, nem que seja só por uma vez, um só gesto, mas totalmente desejado, plenamente consentido, gratuito, inconseqüente e com toda a força do coração! Será possível? Será possível!? Será possível!? E agora, José?

O pássaro continua enjaulado
é o carcará domesticado...
Esqueceu-se que não tem o mapa
não lhe ensinaram o caminho
soltaram-lhe no mundo
com um coração
e mais nada...

E agora, José?
E agora, você?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Filme “180″ tenta mudar a opinião de todos sobre o aborto

O Ministério Living Waters, dos Estados Unidos, produziu recentemente um documentário impactante e fantástico sobre o aborto. O filme traz como título ‘180’ e instiga as pessoas a mudarem de opinião sobre o aborto e outras questões bíblicas. São 33 minutos que farão você pensar sobre o assunto. O produtor do filme, o ministro cristão Ray Comfort, faz um paralelo entre o aborto e o Holocausto dos judeus na Alemanha.

O que você diria se em minutos uma pessoa mudasse de opinião ou, em outros termos, desse um giro de 180º sobre sua escolha em relação ao aborto? Esse documentário livre pró-vida lançado recentemente mostra sucesso nesse desafio. Seus criadores mostram conversas extraordinárias com os jovens e como eles são convidados a reconsiderar sua posição sobre o polêmico tema.

Nesta semana, um pequeno exército de mil trabalhadores doou 200 mil cópias do premiado filme “180″ às cem melhores universidades em todo o país. Para evitar a oposição, o dia e a localização de cada uma das universidades ficaram em segredo. O vídeo mostra a controversa vida de oito pessoas que são inflexivelmente pró-aborto e mudam suas mentes e tornam-se pró-vida em questão de minutos, porque eles foram convidados a refletir ética e moralmente sobre o tema por meio de perguntas.

No primeiro mês no YouTube, o vídeo www.180movie.com teve 1,2 milhão de acessos e mais de 19 mil comentários, e tem sido considerado “o melhor filme na Internet.”

O produtor do filme, Ray Comfort, disse: “As pessoas estão mudando a mente sobre a polêmica questão do aborto. Não apenas assistem on-line, mas compram para dar de presente. Já vendemos mais de 150 mil cópias em questão de semanas. Uma pequena igreja comprou 16,8 mil DVDs. Mas essa doação da universidade foi muito especial, porque agora o DVD está nas mãos dos jovens da América, e de muitos engajados no diálogo saudável”, festeja Comfort.

“Eu ganhei este DVD enquanto caminhava para a aula. Cheguei em casa, vi e isso mudou meu coração. Eu comecei a pensar sobre cada pergunta que foi feita. Eu ficava sempre indeciso sobre o aborto, mas agora eu sou anti-aborto”, disse um estudante.

Uma jovem americana também viu o filme e foi impactada pela mensagem. “O filme é poderoso. Eu sempre disse a mim mesma que nunca faria um aborto, mas não era contra o que outras mulheres faziam. Mas, eu mudei completamente minha mente agora. O aborto é assassinato, que deveria ser ilegal”, admite a estudante.

Comfort conta que estava na calçada de uma clínica de aborto com o seu laptop e duas jovens senhoras pararam e assistiram ao trailer. “Depois disso, assistiram ao DVD ’180′. Uma estava grávida de quatro meses. Ambas estavam a caminho de fazer um aborto, estavam em lágrimas, abraçaram meu pescoço e decidiram dar os bebês à adoção. Eu chorei também.”

O autor de best-sellers e produtor de cinema Ray Comfort concluiu: “Não vou descansar enquanto o horror do assassinato de crianças for uma realidade jurídica em nossa nação. Mas, a mudança política só virá se aqueles que se preocupam com os não-nascidos falarem. Nós criamos o Curso de ’180 ‘para ajudar aqueles que se preocupam de forma confidencial e querem falar sobre o assunto, de uma maneira que faça sentido. Qualquer um pode mudar a mente de alguém sobre o aborto como eu fiz em ’180′, se têm um coração amoroso e se estão dispostos a aprender alguns princípios simples. Conhecidos líderes cristãos também contribuíram para o curso, que está disponível em www.heartchanger.com”, explica Comfort . Assista ao filme na íntegra, com legendas em português, clicando no vídeo abaixo.(Fonte: http://www.evangelizai.com.br/filme-%E2%80%9C180%E2%80%B3-tenta-mudar-a-opiniao-de-todos-sobre-o-aborto/)




quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Voltando à Metacaminhança

Este texto ia começar lamentando a impossibilidade do João, que queria escrever um texto novo, e o desabafo de Pedro, refém de sua vida. Mas acontece que é novembro e, por alguma razão, estas linhas foram tomadas de intensa esperança. Ah! Às favas com lamentos e choromingos... Viver é isto mesmo e é preciso saber resistir aos vôos baixos, sabendo que é o pouso que prepara a nova partida, rumo ao um novo céu, sabe-se lá para onde (para lembrar de um certo carcará...). Além disso, ora, ora, este poema do João foi escolhido a dedo, não está aí por acaso. Comove, é belo e fala ao coração. Que importa seja de cinco anos? Ele é de agora! Nasce e revive nesta hora em que é posto aqui, apresentado ao mundo. Poema-liberdade, que faz lembrar as penas que ainda existem no amigo pássaro estudador, que não é só de vademecum e etecetera e tal. No mais, vejamos... O Pedro ainda não obteve as palavras certas, mas anda a procura, afinal está entregue à música e em breve surgirá por aqui. Alegria de ver o velho amigo ainda forte, de enxada no braço, cavando na pedra seca da cidade grande, insistente na arte, na água, superando o só processador burocrático da carreira. Lembro também certo Toninho desaparecido. Dessas bandas é verdade, mas muito presente, lutador, sonhador... Cá entre nós, ocupado com afazeres importantes e vitais, casamento à vista, lua de mel, festejo... Muito, muito além da secura besta das execuções fiscais. Então, meus caros, o que há para lamentar? Não, este texto teria começado todo errado. Agora assim como está, sim, comedido, é verdade, mas celebrante... Um textinho à toa para inventar o que dizer e para dar vida ao blog. Tem sido difícil parar aqui. Não por falta de assunto, que a fonte é inesgotável. Eu queria, por exemplo, comentar a invasão da USP, o aniversário do Drummond, escrever sobre a Avenida Paulista, o princípio da afetividade no direito de família, além de outras descobertas recentes. Também escrevi um novo poema, há algumas semanas, mas não quis postá-lo. Quem sabe outra hora... Talvez por preguiça mesmo. Talvez por preferir a vida vivida à vida escrita, em tempos de acelerada vivência. Caramba! Como cansa! Quando pára, melhor olhar os olhos da mulher amada, ouvir canção, ler, abraçar os amigos, estar à mesa em conversas longas à beira do prato. Mas, ainda assim, vale a pena sentar e escrever. Como escrever é bom! Arranjar as palavras, tecer o texto... Como é bom existir este lugar, que é uma grande mesa em que estão sempre sentados quatro amigos e o resto do planeta espiando. Saber que não se escreve a esmo, mas para pelo menos três olhos e ouvidos singulares. Escrever não é um capricho, como o blog também não é. É, na verdade, um presente, um refúgio, um modo de viver. É por isso que, apesar de tudo, ele sobrevive, prestes a completar três anos. Mas, pensando bem, ele é bem mais velho que isso. E estará vivo mesmo que a internet acabe e que a moda do blog acabe (talvez já tenha acabado, nunca se sabe...). Porque na verdade pouco importa a fôrma, a caminhança sempre permanece. Faltava falar dela, a própria. E, sem querer, volto à esquecida metacaminhança. Serão os ares de ano novo pedindo um balanço anual e os projetos futuros? Por enquanto, basta anunciá-la, quem sabe os rumos que virão? Esperemos dezembro e a sua benção. Desafio poder viver sem pressa o longo período que é o Natal. Perdoem, mas não posso evitar este sentimento. Já houve um tempo em que eu achei o Natal triste. Foi logo depois de perder aquele encanto de criança, quando o Papai Noel ainda estava vivo. Durou bastante e estava quase se encostando à idéia de que seria uma data como qualquer outra, um motivo para o comércio vender (como me convenciam os professores politicamente engajados). Hoje, graças à Deus (e não falo por força de expressão) o Natal renasceu. E o aguardo como quem espera uma grata visita, na esperança de suas graças e de sua renovação. Tempo bom, tempo santo, queira o mundo ou não. Aliás, nem comecemos a falar do “mundo”. Fiquemos com o Natal, a caminhança e a alegria de ver um texto novo, pronto para ser posto à prova na mesa do blog. Eita fôlego! Finalmente chegamos em Novembro! Finalmente saiu, João! Finalmente, Pedro! Toninho! Este foi suado! Abraço apertado!

domingo, 30 de outubro de 2011

Labirinto

Para onde?
E agora?

Parece que não tem fim...
Fiz, desfiz...
Montei, desmontei...
Fui e já voltei! Repito: Já voltei!

Não sei, mas acho que o problema é que ultimamente só quero desfazer, desmontar, voltar...
Chego à loucura de desfazer o desfeito, desmontar o desmontado, ficar atordoado.
Já nem sei mais qual a finalidade, só quero ter o prazer de estragar tudo!

Mas será isso mesmo?
Nada me satisfaz! Não, não, não me venha falar que o homem é insaciável e blá, blá, blá... Quero encontrar qualquer coisa que eu faça com liberdade, seja lá o que isso queira dizer... Quero poder fazer, nem que seja só por uma vez, um só gesto, mas totalmente desejado, plenamente consentido, gratuito, inconseqüente e com toda a força do coração! Será possível? Será possível!? Será possível!?

O pássaro continua enjaulado
é o carcará domesticado...
Esqueceu-se que não tem o mapa
não lhe ensinaram o caminho
soltaram-lhe no mundo
com um coração
e mais nada...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bravo, maestro!

Muito se fala e se escreve sobre o pianista e maestro João Carlos Martins. Assim, fica difícil conter expectativas. E a grande expectativa cria o risco de uma frustração que pode ocultar o verdadeiro valor de um acontecimento. Como quando vamos a um livro “clássico” esperando algo que ele não é. Às vezes, ele é até mais do que se esperava, mas a sensação de desapontamento acaba prejudicando a leitura. O presente caso, porém, foi daqueles raros em que uma grande expectativa (inevitável ante a fama do maestro) correspondeu à realidade dos fatos (e até mesmo foi surpreendida pelos fatos).

Foi uma noite bastante especial, afinal não é sempre que uma cidade do interior recebe uma filarmônica com seu famoso maestro. Porém, à parte o “burburinho” do acontecimento cultural e a bela apresentação, foi, talvez, no silêncio que se perfez o grande concerto da noite: nas pausas, no intervalo entre as notas, nos segundos que antecederam a entrada, naqueles logo após o final, para além do sujeito bonachão e de sua biografia incrível, por trás da orquestra, por baixo do piano e das cortinas, no piscar dos olhos do público. Naquele espaço entre mundos em que a graça vagueia e dança, toca a história dos homens e transfigura a música numa grande prece.

Assim fez sua visita, trazendo consigo a lembrança de que a perfeição já é vitoriosa e a força da verdade se impõe por si mesma, submetendo todo orgulho e prepotência, toda ignorância, toda rebeldia. Em meio à barulhenta e confusa realidade fomos conduzidos para muito além da pobre experiência de nossos dias. E a grande arte comoveu, imensamente, a todos. Sob os olhos frustrados dos que subestimam o coração humano e relativizam o absoluto valor da beleza, todos, todos se comoveram. Porque no silêncio se deixaram levar pela inocente esperança que soou das cordas, o seu grito sutil e poderoso, capaz de calar profundamente toda iniqüidade.

O maestro, nesta hora, foi o juiz. De sua batuta veio a ordem. E obedecemos em coro, entoando este hino. Não pelo medo ou pela força bruta, mas porque estávamos completamente tomados pela autoridade da beleza. Sem explicação, sem argumento, sem protesto, simplesmente dissemos sim. E a magnitude deste acontecimento fez migalha de todo resto. Soprou a poeira embolorada dos ruídos, da vergonha, da sujeira. Impôs-se soberana e, num instante, tornou miúda e fraca a violência e a maldade dos homens.

Alegoria da salvação, esta noite de orquestra acontecida na cidade. Raro momento em que pela fresta brilhou a luz intensa. E bastou a fresta (sempre basta...) para que cumprisse o seu milagre. Assim, ao fim da noite, voltamos todos para casa, felizes, inspirados e com coragem para enfrentar a vida. E o maestro-pianista, sob aplausos, despediu-se agradecendo por mais uma vez ter cumprido seu papel.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Apátridas

"Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, esta dezena,
em honra a vossa triunfante ascensão; e vos pedimos,
por este mistério e pela intercessão de vossa Mãe Santíssima,
um ardente desejo do céu, nossa cara pátria. Assim seja."

Mergulhados no caos da imprevisão, vagamos pelo terreno amplo dos acasos, livres da ditadura da coerência. Como porcos farejamos fissurados o chão em busca da saciedade de nossos desejos, enquanto fabricamos a carnificina mais fétida. Bêbados de prazer, atiramos fogo às certezas, às verdades, à razão. Entre gritos de dor e gozo buscamos a loucura rítmica das gargalhadas de um servo sem rei. Enquanto as chamas ridicularizam os pretensiosos das virtudes e o seu desespero ante a destruição. Quando convencidos de nossa natureza suína, adquirimos, finalmente, o nojo de pronunciar o verbete humano. E cinicamente convidamos todos os homens ao banquete. Com seus corpos nus e suas mentes vazias, não se demoram na entrada. Em pouco tempo acostumam-se à pose de quatro e descobrem a superação das convenções vergonhosas que os reprimiam. Deitados confortavelmente na mistura de seus próprios resíduos, pronunciam louvores ao ídolo. E sedentos ao contato da pele úmida, enlaçam-se na confusão feito cobras. Ao som de grunhidos, risos e gemidos, vamos construindo nosso irresistível chiqueiro, esquecendo aquele velho mundo e nos convencendo, pouco a pouco, do valor inesgotável do novo. Quando já não precisaremos de convencimento algum, porque já não teremos passado, lembrança ou razão. No ápice de nossa novíssima conjugação, já não nos comunicaremos sob o risco de retrocesso social. Sem pronunciar palavra, rastejaremos no doce solo da desilusão, a única verdade sobre o nada. E sentiremos orgulho de conformar nossas vidas ao seu absurdo e a sua náusea essenciais, realização máxima de nossa dignidade. Então, despidos dos últimos vestígios da falsa sanidade, ergueremos o troféu da inconsciência e da escuridão. E prepararemos na lama a comemoração da vitória com um eterno festim. Abandonados livres e iguais, como sempre sonhamos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Sol quente, Parati e Enxada

Eu que sempre gostei tanto das letras e me esforcei para ser um erudito, pretensão de um menino de colégio, agora me vejo com desejos de brutalidades. Sofro de admiração pelo peso pesado dos que trabalham com o braço sob o sol quente e que podem compreender mais e melhor a verdadeira massa da vida. Quero trocar minha biblioteca por uma oficina mecânica, carregar caminhão, lavrar a terra, deixar o diploma pela carpintaria. Fico imaginando a cabeça do pescador de Parati quando a cidade se vê inundada de intelectuaizinhos da cidade grande vindos para a festa literária. Envergonho-me quando pretendo dar ares de ensinamento ao bate-papo que travo corriqueiro com a moça que lava, passa e cozinha aqui em casa. Ela me olha tão indiferente e sabichona que fico nu, não sobra nada. Na profissão, perco-me no palavreado rebuscado e técnico das frias jurisprudências, quando o que parece que interessa mesmo é aquele momentozinho que antecede a petição e a audiência, aquele em que estamos sós, eu e meu cliente. O momento raro em que se cruzam duas humanidades, na desumana máquina da Justiça. O que, no final, ainda dá algum sentido ao ofício. Não consigo deixar de pensar que tudo não passa de um grande teatro, em que fingimos uma civilidade que não existe. O que me sustém ainda é a esperança de algo mais visceral, mais definitivo. Na impossibilidade de sê-lo, por minhas próprias forças, inspiro-me nos grandes homens que existem e existiram na história e me fortaleço com suas palavras, suas atitudes, suas vidas. Talvez, o desafio seja justamente este: tornar-se verdadeiramente um homem, no meio de um mundo tão desumano. Sobreviver à imundice, ao cinismo, à hipocrisia, que reinam, é bom dizer, não apenas lá fora, mas, sobretudo, ali dentro, naquela porção mais íntima que cabe a cada um. Não, não vou ficar idealizando o bom selvagem, nem vou cair na idiotice de rimar pobreza com honestidade. Já estamos todos muito fartos da chamada estética da favela, para usar uma expressão bastante intelectual. Apenas quero ressaltar como é patético uma roda de menininhos de universidade discutindo com o burocrático e intitulado professor doutor sobre soluções gerais para o alcance do mundo perfeito. Patético e perigoso, desde que professores e intelectuais resolveram assumir por sua conta e risco a tarefa de salvar o planeta, distorcendo completamente a primeira noção da filosofia, a mãe das humanidades. Desde então o atmosfera intelectual tornou-se vaidosa, prepotente, cansativa, politicamente chata e brega, mas, principalmente, desonesta. Enquanto isso, nas ditas humanidades práticas, a moda é dar a tudo um ar de tecnicismo eficiente. Política tornou-se sinônimo de administração. Hospitais são como supermercados: entrada, saída e o balanço final. A justiça uma questão de negócio: produtividade, eficiência e rapidez. A educação... Bem, melhor deixar a educação de lado para não perder a compostura. Porque, de fato, no caldeirão das vicissitudes morais em que estamos mergulhados, nada, nada mesmo, é poupado. E antes que alguém, revoltado com o gosto amargo que deixei, acuse-me de pessimista e ranzinza, defendo-me. Toda generalização é falsa. Portanto, acredito sim nas pessoas e tenho fé de que matura dentro de muitos a boa safra. Sei que, de tempos em tempos, a humanidade enfrenta algumas baixas, que também passam, e que a vida neste mundo é e sempre será precária. Sei que não devemos ficar simplesmente chorando a perda do mundo perfeito, porque as dificuldades são antes de tudo desafios que nos impulsionam à luta. E, é claro, sei que o fato de a convivência diária com esta atmosfera degradada obrigar-me a buscar meios de me expurgar, não me inclui automaticamente entre aqueles em que deposito minha esperança. Isto seria confessar em público um orgulho sem limites, o que o pudor e o senso de ridículo me impedem de fazer, além de que exigiria uma autoconfiança à beira da loucura e uma total incapacidade de autocrítica. Portanto, sei, por fim, que a grande luta é a que travo todos os dias comigo mesmo e que todo o resto depende essencialmente desta batalha. Mais que isso, podemos muito pouco. Quanto ao problema dos intelectuaizinhos de Parati e da rodinha de universitários (entre os quais me incluo), deixo a sabedoria da minha avó: isto é falta de tanque e uma pilha de roupas pra lavar. Resolve rapidinho...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

As Lágrimas da Criação (Martim Vasques da Cunha)




A árvore da Vida não conhecerá mais primaveras: é madeira seca; com ela se farão ataúdes para nossos ossos, nossos sonhos e nossas dores.
Cioran

And for all this, nature is never spent;
There lives the dearest freshness deep down things;
And though the last lights off the black West went
Oh, morning, at the brown brink eastward, springs —
Because the Holy Ghost over the bent
World broods with warm breast and with ah! bright wings.
Gerald Manley Hopkins, “God´s Grandeur”


Enquanto este texto começa a ser escrito – e, ao mesmo tempo, pensado, refletido e prestes a se transformar em realidade no exato momento em que as palavras deslizam pela página branca e adentram na mente de quem irá lê-las – as pessoas que sairão de suas casas para assistir A árvore da vida (The tree of life, 2011), a obra-prima de Terrence Malick, na vã esperança de se divertirem com um mero entretenimento, terão a mesma reação descrita na sentença de Cioran: a de que nada mais vale a pena já que a alma se tornou muito pequena.
O filme de Malick é a prova de que ainda existe alguém que resolveu andar na contramão da História. No caso da História tal como conheceremos, tudo indica que, em breve, estaremos vivendo em um mundo repleto de ateísmo, de desintegração moral que nos remeterá ao deserto onde o personagem de Sean Penn, Jack O´Brien, caminha como se fosse um peregrino pronto para recitar os versos correspondentes de T.S.Eliot em The Waste Land. Outros detalhes que corresponde o filme com a nossa realidade se avolumam cada vez mais – e o público de cinema parece ser um teste de Rorschach para estas evidências: a incapacidade de se concentrar, de escutar uma simples melodia daquele gênero tão antiquado que agora chamam de “música clássica”, de ouvir o próprio silêncio que emana da tela, de perceber que você não está vendo uma mera obra de arte e sim uma meditação sobre algo que o espectador não consegue mais perceber que perdeu há muito tempo.
Ou não perdeu de forma alguma e estamos aqui apenas reclamando. Terrence Malick fez cinco filmes em mais de quarenta anos de carreira e sequer deu uma única entrevista para explicar sobre o que é a sua obra. Não precisa. A explicação, se existe, está claríssima: toda a sua obra é sobre a presença que emana das águas, também apelidada de ruach em um certo livrinho chamado Gênesis, e que hoje apelidaríamos de “espírito”. O tal do ruach é demasiadamente ambíguo para que, às vezes, se metamorfoseie em destruição – como é exposto no primeiro filme de Malick, Badlands (1973), que conta a odisséia de um casal de jovens assassinos, e também na sua terceira película, o colosso cinematográfico sobre as guerras que travamos dentro e fora de nós, Além da linha vermelha (The thin red line, 1999) – ou nos instantes de criação sempre expostos para quem quiser ver, em especial nas tomadas de natureza que abundam em Dias de Paraíso (Days of Heaven, 1978) e em O Novo Mundo (The New World, 2005).
Se Malick sumiu por vinte anos, supõe-se que a razão era a mesma de que qualquer artista precisa de tempo para fazer a sua função óbvia: a de criar com a maturidade necessária para refletir somente sobre as primeiras e as últimas coisas. O resto é perfumaria. Seus anos de aprendizado como estudante de filosofia – foi responsável por uma tradução de Heidegger, leu assiduamente Wittgenstein e teve como tutor ninguém menos que Stanley Cavell, um dos papas da filosofia analítica na língua inglesa – o ensinaram a se ater somente no essencial, a narrar e a filmar sem firulas, num domínio completo entre forma e conteúdo. Cada corte é preciso tal como um teorema de Guilherme de Ockham: Malick mostra a ação em fragmentos para que o espectador tenha a impressão objetiva do que está acontecendo na cena e faça as justaposições necessárias que depois serão a verdade subjetiva do filme quando ele estará completado na sua memória. O cinema não é apenas um meio de expressão: é a linguagem que Malick encontrou para fazer filosofia e se questionar sobre o que realmente importa na vida de qualquer um.
Só dois diretores conseguiram fazer isso que Malick alcançou em sua filmografia: Stanley Kubrick em 2001 – Uma odisséia no espaço (1968) e F.W. Murnau em Aurora (1929) (Poderíamos citar também Dreyer, Tarkovski e Bresson nessa categoria, mas estes são cineastas que usam mais a pintura do que propriamente as idéias para expressarem suas visões de mundo. São pensadores da luz, não pensadores do logos que, com a falência da palavra neste mundo jogado aos cães, manobram as imagens para dramatizar suas idéias). O primeiro é citado por Malick em A árvore da vida na ambiciosa cena da criação do mundo, com planetas e luas que foram concebidos por ninguém menos que Douglas Trumbull, o mesmo homem que supervisionou os efeitos de 2001, tudo ao som de Lacrimosa, o pungente trecho de Zbigniew Preisner feito em homenagem ao amigo Krzysztof Kieslowski; o segundo pode ser percebido no modo como Malick conduz o trecho central de seu filme, a história da família O´Brien na cidadezinha de Waco, Texas. Sentimos a mão de Murnau guiando a câmera quando ela filma a relação da natureza com as ações do Jack que, pouco a pouco, descobre a maldade dentro do seu coração por meio daqueles momentos que ninguém assiste exceto nossa própria consciência – os atos sem testemunha em que ficamos sozinhos com nós mesmos e, olhe só, com aquela presença que emana das águas e que nos observa sub specie aeternitatis.
Contudo, Malick não cai no perigo da frieza kubrickiana perante a indiferença da natureza, muito menos tende ao kitsch irônico que Murnau poderia resvalar em algumas cenas de seus filmes (é só lembrarmos de A última gargalhada). Há uma doçura próxima de um Marcel Proust na evocação da infância, uma doçura justa e necessária já que fica claro que, para Malick, um cineasta que buscou sempre uma espécie de paraíso perdido (especialmente em Além da linha vermelha e em O novo mundo), a verdadeira utopia é o próprio passado e que só pode ser alcançada mediante uma entrega interior completa com sua própria morte e seus próprios mortos. Ao mesmo tempo, esta entrega é uma libertação porque, afinal, temos de deixar os mortos enterrarem os mortos – os vivos estão mais ocupados vivendo a vida que querem perder a qualquer custo.
A infância é o palco de combate entre a graça – personificada pela mãe de Jack, quieta, resignada e altiva – e a natureza – representada pelo pai, disciplinado, rancoroso e impotente – para que Jack, agora adulto e angustiado por uma ausência de fé que não sabe como perdeu, possa ficar em paz com o mundo, mesmo que tenha de morrer de alguma forma para este último. Ele é um arquiteto, um homem capaz de criar do nada, mas a sua criação é fria, perfeita demais. Falta a ela as lágrimas que acompanham o Gênesis de tudo, as lágrimas que amolecem o barro que é feito o ser humano e que, se não as tiver em algum momento de sua existência, ficará seco e duro se for exposto somente à luz do sol. A natureza (o pai) se rende à graça (a mãe) porque não há outra maneira de viver; e confesso que toda vez que via uma tomada que envolvia o elemento “água” – uma cachoeira, um rio, uma fonte, uma tormenta – não pude deixar de pensar que Malick talvez conversava consigo mesmo sobre um verso de W.H.Auden: Thousands have lived without love, not one without water.
A água não apenas limpa o nosso corpo ou o nosso espírito; ela também nos dá o mínimo de vida necessária para suportarmos a luz feroz da condição humana. Quem viveu tal ferocidade no seu limite foi Jó, o homem justo cujo livro é citado por Malick na epígrafe de abertura do seu filme: Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Quando juntas cantavam as estrelas da manhã, e todos os filhos de Deus bradavam de júbilo? Ao relacionar o momento da criação do mundo com a singela história de uma família texana, fica-se tentado a pensar se não seríamos todos pequenos Jós, precisando da água para vivermos decentemente, derrubados por um vento que não se sabe para onde sopra e incapazes de fazermos o que queremos e sim o que não desejamos. Malick responde afirmativamente a isto tudo. No trecho bíblico usado como epígrafe, Deus pergunta a Jó onde ele estava quando o mundo foi criado e nós fazemos a mesma pergunta a Ele quando sentimos o chão se abrir sob nossos pés. Tal tensão só pode ser resolvida de uma única forma: a reconciliação entre homem e Deus.
Jack O´Brien é o homem que perdeu o contato da presença de Deus em sua vida – e boa parte da humanidade seguiu este caminho. Ele é o nosso everyman, um artista que, como o Stephen Dedalus de James Joyce, vê em sua própria história ecos de um pesadelo que ele desconfia que jamais acordará. Entretanto, Malick age em seu filme como um sensor que capta os movimentos espirituais desta luta interior e assim cada imagem não é mais uma imagem e sim um símbolo que aponta para um invisível que desconfiamos que pode estar lá. É uma obra que, ao falar dos tormentos da criação, se cria conforme o espectador o assiste na sala de cinema e cria-se conforme o seu diretor expõe as imagens à luz da tela (não por acaso, o primeiro e o último frame é uma homenagem às lumia de Thomas Wilfred, que dizia que o material de todo artista deveria ser a luz e nada mais); a criação, quando ela ocorre, é um processo sem fim, que se estende à eternidade, que se recria a todo instante e que, por isso mesmo, só pode ser exprimida pelos gemidos de que São Paulo falava em suas epístolas.
Estes gemidos são ouvidos no grito da mãe que perdeu o filho, na nuvem de pássaros que circula os arranha-céus de forma ameaçadora (um plano que nos assusta pela sua beleza e que nos faz perguntar como Malick conseguiu captar aquilo), na toccata de Bach que o pai desiludido executa a um filho que ainda acredita que ele é seu herói, nos réquiens que Malick faz questão de acompanhar Jack quando este, finalmente, atravessa o pórtico da morte para enfim ter um vislumbre do eterno. O mal é evitado enquanto somos educados como crianças, mas quando nos deparamos com ele no nosso coração, o encontro é terrível e nos dá a sensação de um beco-sem-saída; só o reconhecimento dos nossos erros – como faz o pai de Jack, ao se render à glória da criação que está ao seu redor, mesmo tendo uma vida repleta de fracassos – nos dá a liberdade que perseguimos a tanto custo.
Há um adágio que diz: nex lux sine ombra. Não há luz sem sombra – e vice-versa. Terrence Malick pensa com a luz que vem entre as palavras sussurradas e luta com as sombras com as quais seus personagens tentam impor no mundo. Em pleno 2011, com a História tentando provar que a atitude de Cioran é a mais prudente (e sendo imitada com peculiar estupidez por críticos cinematográficos que sequer sabem reconhecer o que é uma obra-prima quando ela está embaixo dos seus narizes), temos um artista que nos dá de presente uma criação que nos revela nada mais nada menos a grandeza de Deus – da mesma forma que, no século XIX, o poeta Gerald Manley Hopkins fez com seus sonetos e longos poemas. Assim como um sacerdote da luz que necessita dela porque não há mais uma comunicação substancial pela palavra, Malick opta pela “reclusão” (uma forma de ofendê-lo só porque ele não fala com estes prostitutos da linguagem que são os jornalistas) para que as pessoas entendam o que está realmente em jogo: as lágrimas da Criação da qual todos nós fazemos parte, lágrimas que podem ser identificadas também como nossas, porque, afinal, apesar de fazermos o possível para exaurir a natureza e destruir a graça, nosso choro é de júbilo e a nossa pergunta é um grito que ecoa por toda a eternidade, como jamais aconteceu antes ou depois.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mansagem do Papa aos Jovens: convite para ler ouvindo...



Mensagem do Papa Bento XVI para a Jornada Mundial da Juventude em Madrid

«Enraizados e edificados n’Ele... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7).


Queridos amigos!

Penso com frequência na Jornada Mundial da Juventude de Sidney de 2008. Lá vivemos uma grande festa da fé, durante a qual o Espírito de Deus agiu com força, criando uma comunhão intensa entre os participantes, que vieram de todas as partes do mundo. Aquele encontro, assim como os precedentes, deu frutos abundantes na vida de numerosos jovens e de toda a Igreja. Agora, o nosso olhar dirige-se para a próxima Jornada Mundial da Juventude, que terá lugar em Madrid em Agosto de 2011. Já em 1989, poucos meses antes da histórica derrocada do Muro de Berlim, a peregrinação dos jovens fez etapa na Espanha, em Santiago de Compostela. Agora, num momento em que a Europa tem grande necessidade de reencontrar as suas raízes cristãs, marcamos encontro em Madrid, com o tema: «Enraizados e edificados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Por conseguinte, convido-vos para este encontro tão importante para a Igreja na Europa e para a Igreja universal. E gostaria que todos os jovens, quer os que compartilham a nossa fé em Jesus Cristo, quer todos os que hesitam, que estão na dúvida ou não crêem n’Ele, possam viver esta experiência, que pode ser decisiva para a vida: a experiência do Senhor Jesus ressuscitado e vivo e do seu amor por todos nós.

Na nascente das vossas maiores aspirações!

1. Em todas as épocas, também nos nossos dias, numerosos jovens sentem o desejo profundo de que as relações entre as pessoas sejam vividas na verdade e na solidariedade. Muitos manifestam a aspiração por construir relacionamentos de amizade autêntica, por conhecer o verdadeiro amor, por fundar uma família unida, por alcançar uma estabilidade pessoal e uma segurança real, que possam garantir um futuro sereno e feliz. Certamente, recordando a minha juventude, sei que estabilidade e segurança não são as questões que ocupam mais a mente dos jovens. Sim, a procura de um posto de trabalho e com ele poder ter uma certeza é um problema grande e urgente, mas ao mesmo tempo a juventude permanece contudo a idade na qual se está em busca da vida maior. Se penso nos meus anos de então: simplesmente não nos queríamos perder na normalidade da vida burguesa. Queríamos o que é grande, novo. Queríamos encontrar a própria vida na sua vastidão e beleza. Certamente, isto dependia também da nossa situação. Durante a ditadura nacional-socialista e durante a guerra nós fomos, por assim dizer, «aprisionados» pelo poder dominante. Por conseguinte, queríamos sair fora para entrar na amplidão das possibilidades do ser homem. Mas penso que, num certo sentido, todas as gerações sentem este impulso de ir além do habitual. Faz parte do ser jovem desejar algo mais do que a vida quotidiana regular de um emprego seguro e sentir o anseio pelo que é realmente grande. Trata-se apenas de um sonho vazio que esvaece quando nos tornamos adultos? Não, o homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito. Qualquer outra coisa é insuficiente. Santo Agostinho tinha razão: o nosso coração está inquieto enquanto não repousar em Ti. O desejo da vida maior é um sinal do facto que foi Ele quem nos criou, de que temos a Sua «marca». Deus é vida, e por isso todas as criaturas tendem para a vida; de maneira única e especial a pessoa humana, feita à imagem de Deus, aspira pelo amor, pela alegria e pela paz. Compreendemos então que é um contra-senso pretender eliminar Deus para fazer viver o homem! Deus é a fonte da vida; eliminá-lo equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: «De facto, sem o Criador a criatura esvaece» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 36). A cultura actual, nalgumas áreas do mundo, sobretudo no Ocidente, tende a excluir Deus, ou a considerar a fé como um facto privado, sem qualquer relevância para a vida social. Mas o conjunto de valores que estão na base da sociedade provém do Evangelho — como o sentido da dignidade da pessoa, da solidariedade, do trabalho e da família — constata-se uma espécie de «eclipse de Deus», uma certa amnésia, ou até uma verdadeira rejeição do Cristianismo e uma negação do tesouro da fé recebida, com o risco de perder a própria identidade profunda.
Por este motivo, queridos amigos, convido-vos a intensificar o vosso caminho de fé em Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Vós sois o futuro da sociedade e da Igreja! Como escrevia o apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Colossos, é vital ter raízes, bases sólidas! E isto é particularmente verdadeiro hoje, quando muitos não têm pontos de referência estáveis para construir a sua vida, tornando-se assim profundamente inseguros. O relativismo difundido, segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento. Vós jovens tendes direito de receber das gerações que vos precedem pontos firmes para fazer as vossas opções e construir a vossa vida, do mesmo modo como uma jovem planta precisa de um sólido apoio para que as raízes cresçam, para se tornar depois uma árvore robusta, capaz de dar fruto.

Enraizados e fundados em Cristo

2. Para ressaltar a importância da fé na vida dos crentes, gostaria de me deter sobre cada uma das três palavras que São Paulo usa nesta sua expressão: «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). Nela podemos ver três imagens: «enraizado» recorda a árvore e as raízes que a alimentam; «fundado» refere-se à construção de uma casa; «firme» evoca o crescimento da força física e moral. Trata-se de imagens muito eloquentes. Antes de as comentar, deve-se observar simplesmente que no texto original as três palavras, sob o ponto de vista gramatical, estão no passivo: isto significa que é o próprio Cristo quem toma a iniciativa de radicar, fundar e tornar firmes os crentes.
A primeira imagem é a da árvore, firmemente plantada no solo através das raízes, que a tornam estável e a alimentam. Sem raízes, seria arrastada pelo vento e morreria. Quais são as nossas raízes? Naturalmente, os pais, a família e a cultura do nosso país, que são uma componente muito importante da nossa identidade. A Bíblia revela outra. O profeta Jeremias escreve: «Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano; continua a produzir frutos» (Jr 17, 7-8). Estender as raízes, para o profeta, significa ter confiança em Deus. D’Ele obtemos a nossa vida; sem Ele não poderíamos viver verdadeiramente. «Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está em Seu Filho» (1 Jo 5, 11). O próprio Jesus apresenta-se como nossa vida (cf. Jo 14, 6). Por isso a fé cristã não é só crer em verdades, mas é antes de tudo uma relação pessoal com Jesus Cristo, é o encontro com o Filho de Deus, que dá a toda a existência um novo dinamismo. Quando entramos em relação pessoal com Ele, Cristo revela-nos a nossa identidade e, na sua amizade, a vida cresce e realiza-se em plenitude. Há um momento, quando somos jovens, em que cada um de nós se pergunta: que sentido tem a minha vida, que finalidade, que orientação lhe devo dar? É uma fase fundamental, que pode perturbar o ânimo, às vezes também por muito tempo. Pensa-se no tipo de trabalho a empreender, quais relações sociais estabelecer, que afectos desenvolver... Neste contexto, penso de novo na minha juventude. De certa forma muito cedo tive a consciência de que o Senhor me queria sacerdote. Mais tarde, depois da Guerra, quando no seminário e na universidade eu estava a caminho para esta meta, tive que reconquistar esta certeza. Tive que me perguntar: é este verdadeiramente o meu caminho? É deveras esta a vontade do Senhor para mim? Serei capaz de Lhe permanecer fiel e de estar totalmente disponível para Ele, ao Seu serviço? Uma decisão como esta deve ser também sofrida. Não pode ser de outra forma. Mas depois surgiu a certeza: é bem assim! Sim, o Senhor quer-me, por isso também me dará a força. Ao ouvi-Lo, ao caminhar juntamente com Ele torno-me deveras eu mesmo. Não conta a realização dos meus próprios desejos, mas a Sua vontade. Assim a vida torna-se autêntica.
Tal como as raízes da árvore a mantêm firmemente plantada na terra, também os fundamentos dão à casa uma estabilidade duradoura. Mediante a fé, nós somos fundados em Cristo (cf. Cl 2, 7), como uma casa é construída sobre os fundamentos. Na história sagrada temos numerosos exemplos de santos que edificaram a sua vida sobre a Palavra de Deus. O primeiro foi Abraão. O nosso pai na fé obedeceu a Deus que lhe pedia para deixar a casa paterna a fim de se encaminhar para uma terra desconhecida. «Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça e foi chamado amigo de Deus» (Tg 2, 23). Estar fundados em Cristo significa responder concretamente à chamada de Deus, confiando n’Ele e pondo em prática a sua Palavra. O próprio Jesus admoesta os seus discípulos: «Porque me chamais: “Senhor, Senhor” e não fazeis o que Eu digo?» (Lc 6, 46). E, recorrendo à imagem da construção da casa, acrescenta: «todo aquele que vem ter Comigo, escuta as Minhas palavras e as põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa: Cavou, aprofundou e assentou os alicerces sobre a rocha. Sobreveio a inundação, a torrente arremessou-se com violência contra aquela casa e não pôde abalá-la por ter sido bem construída» (Lc 6, 47-48).
Queridos amigos, construí a vossa casa sobre a rocha, como o homem que «cavou muito profundamente». Procurai também vós, todos os dias, seguir a Palavra de Cristo. Senti-O como o verdadeiro Amigo com o qual partilhar o caminho da vossa vida. Com Ele ao vosso lado sereis capazes de enfrentar com coragem e esperança as dificuldades, os problemas, também as desilusões e as derrotas. São-vos apresentadas continuamente propostas mais fáceis, mas vós mesmos vos apercebeis que se revelam enganadoras, que não vos dão serenidade e alegria. Só a Palavra de Deus nos indica o caminho autêntico, só a fé que nos foi transmitida é a luz que ilumina o caminho. Acolhei com gratidão este dom espiritual que recebestes das vossas famílias e comprometei-vos a responder com responsabilidade à chamada de Deus, tornando-vos adultos na fé. Não acrediteis em quantos vos dizem que não tendes necessidade dos outros para construir a vossa vida! Ao contrário, apoiai-vos na fé dos vossos familiares, na fé da Igreja, e agradecei ao Senhor por a ter recebido e feito vossa!

Firmes na fé

3. «Enraizados e fundados em Cristo... firmes na fé» (cf. Cl 2, 7). A Carta da qual é tirado este convite, foi escrita por São Paulo para responder a uma necessidade precisa dos cristãos da cidade de Colossos. Com efeito, aquela comunidade estava ameaçada pela influência de determinadas tendências culturais da época, que afastavam os fiéis do Evangelho. O nosso contexto cultural, queridos jovens, tem numerosas analogias com o tempo dos Colossenses daquela época. De facto, há uma forte corrente de pensamento laicista que pretende marginalizar Deus da vida das pessoas e da sociedade, perspectivando e tentando criar um «paraíso» sem Ele. Mas a experiência ensina que o mundo sem Deus se torna um «inferno»: prevalecem os egoísmos, as divisões nas famílias, o ódio entre as pessoas e entre os povos, a falta de amor, de alegria e de esperança. Ao contrário, onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, o adoram na verdade e ouvem a sua voz, constrói-se concretamente a civilização do amor, na qual todos são respeitados na sua dignidade, cresce a comunhão, com os frutos que ela dá. Contudo existem cristãos que se deixam seduzir pelo modo de pensar laicista, ou são atraídos por correntes religiosas que afastam da fé em Jesus Cristo. Outros, sem aderir a estas chamadas, simplesmente deixaram esmorecer a sua fé, com inevitáveis consequências negativas a nível moral.

Aos irmãos contagiados por ideias alheias ao Evangelho, o apóstolo Paulo recorda o poder de Cristo morto e ressuscitado. Este mistério é o fundamento da nossa vida, o centro da fé cristã. Todas as filosofias que o ignoram, que o consideram «escândalo» (1 Cor 1, 23), mostram os seus limites diante das grandes perguntas que habitam o coração do homem. Por isso também eu, como Sucessor do apóstolo Pedro, desejo confirmar-vos na fé (cf. Lc 22, 32). Nós cremos firmemente que Jesus Cristo se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna. Deste modo fomos libertados do que mais entrava a nossa vida: a escravidão do pecado, e podemos amar a todos, até os inimigos, e partilhar este amor com os irmãos mais pobres e em dificuldade.

Queridos amigos, muitas vezes a Cruz assusta-nos, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o contrário! Ela é o «sim» de Deus ao homem, a expressão máxima do seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. De facto, do coração aberto de Jesus na cruz brotou esta vida divina, sempre disponível para quem aceita erguer os olhos para o Crucificado. Portanto, não posso deixar de vos convidar a aceitar a Cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Fora de Cristo morto e ressuscitado, não há salvação! Só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de justiça, de paz e de amor pelo qual todos aspiram.

Crer em Jesus Cristo sem o ver

4. No Evangelho é-nos descrita a experiência de fé do apóstolo Tomé ao acolher o mistério da Cruz e da Ressurreição de Cristo. Tomé faz parte dos Doze apóstolos; seguiu Jesus; foi testemunha directa das suas curas, dos milagres; ouviu as suas palavras; viveu a desorientação perante a sua morte. Na noite de Páscoa o Senhor apareceu aos discípulos, mas Tomé não estava presente, e quando lhe foi contado que Jesus estava vivo e se mostrou, declarou: «Se eu não vir o sinal dos cravos nas Suas mãos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e não meter a mão no Seu lado, não acreditarei» (Jo 20, 25).
Também nós gostaríamos de poder ver Jesus, de poder falar com Ele, de sentir ainda mais forte a sua presença. Hoje para muitos, o acesso a Jesus tornou-se difícil. Circulam tantas imagens de Jesus que se fazem passar por científicas e O privam da sua grandeza, da singularidade da Sua pessoa. Portanto, durante longos anos de estudo e meditação, maturou em mim o pensamento de transmitir um pouco do meu encontro pessoal com Jesus num livro: quase para ajudar a ver, a ouvir, a tocar o Senhor, no qual Deus veio ao nosso encontro para se dar a conhecer. De facto, o próprio Jesus aparecendo de novo aos discípulos depois de oito dias, diz a Tomé: «Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente» (Jo 20, 27). Também nós temos a possibilidade de ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor: nos Sacramentos Ele torna-se particularmente próximo de nós, doa-se a nós. Queridos jovens, aprendei a «ver», a «encontrar» Jesus na Eucaristia, onde está presente e próximo até se fazer alimento para o nosso caminho; no Sacramento da Penitência, no qual o Senhor manifesta a sua misericórdia ao oferecer-nos sempre o seu perdão. Reconhecei e servi Jesus também nos pobres, nos doentes, nos irmãos que estão em dificuldade e precisam de ajuda.
Abri e cultivai um diálogo pessoal com Jesus Cristo, na fé. Conhecei-o mediante a leitura dos Evangelhos e do Catecismo da Igreja Católica; entrai em diálogo com Ele na oração, dai-lhe a vossa confiança: ele nunca a trairá! «Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus» (Catecismo da Igreja Católica, n. 150). Assim podereis adquirir uma fé madura, sólida, que não estará unicamente fundada num sentimento religioso ou numa vaga recordação da catequese da vossa infância. Podereis conhecer Deus e viver autenticamente d’Ele, como o apóstolo Tomé, quando manifesta com força a sua fé em Jesus: «Meu Senhor e meu Deus!».

Amparados pela fé da Igreja para ser testemunhas

5. Naquele momento Jesus exclama: «Porque Me viste, acreditaste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditaram!» (Jo 20, 29). Ele pensa no caminho da Igreja, fundada sobre a fé das testemunhas oculares: os Apóstolos. Compreendemos então que a nossa fé pessoal em Cristo, nascida do diálogo com Ele, está ligada à fé da Igreja: não somos crentes isolados, mas, pelo Baptismo, somos membros desta grande família, e é a fé professada pela Igreja que dá segurança à nossa fé pessoal. O credo que proclamamos na Missa dominical protege-nos precisamente do perigo de crer num Deus que não é o que Jesus nos revelou: «Cada crente é, assim, um elo na grande cadeia dos crentes. Não posso crer sem ser motivado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para guiar os outros na fé» (Catecismo da Igreja Católica, n. 166). Agradeçamos sempre ao Senhor pelo dom da Igreja; ela faz-nos progredir com segurança na fé, que nos dá a vida verdadeira (cf. Jo 20, 31).
Na história da Igreja, os santos e os mártires hauriram da Cruz gloriosa de Cristo a força para serem fiéis a Deus até à doação de si mesmos; na fé encontraram a força para vencer as próprias debilidades e superar qualquer adversidade. De facto, como diz o apóstolo João, «Quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?» (1 Jo 5, 5). E a vitória que nasce da fé é a do amor. Quantos cristãos foram e são um testemunho vivo da força da fé que se exprime na caridade; foram artífices de paz, promotores de justiça, animadores de um mundo mais humano, um mundo segundo Deus; comprometeram-se nos vários âmbitos da vida social, com competência e profissionalidade, contribuindo de modo eficaz para o bem de todos. A caridade que brota da fé levou-os a dar um testemunho muito concreto, nas acções e nas palavras: Cristo não é um bem só para nós próprios, é o bem mais precioso que temos para partilhar com os outros. Na era da globalização, sede testemunhas da esperança cristã em todo o mundo: são muitos os que desejam receber esta esperança! Diante do sepulcro do amigo Lázaro, morto havia quatro dias, Jesus, antes de o chamar de novo à vida, disse à sua irmã Marta: «Se acreditasses, verias a glória de Deus» (cf. Jo 11, 40). Também vós, se acreditardes, se souberdes viver e testemunhar a vossa fé todos os dias, tornar-vos-eis instrumentos para fazer reencontrar a outros jovens como vós o sentido e a alegria da vida, que nasce do encontro com Cristo!

Rumo à Jornada Mundial de Madrid

6. Queridos amigos, renovo-vos o convite a ir à Jornada Mundial da Juventude a Madrid. É com profunda alegria que espero cada um de vós pessoalmente: Cristo quer tornar-vos firmes na fé através a Igreja. A opção de crer em Cristo e de O seguir não é fácil; é dificultada pelas nossas infidelidades pessoais e por tantas vozes que indicam caminhos mais fáceis. Não vos deixeis desencorajar, procurai antes o apoio da Comunidade cristã, o apoio da Igreja! Ao longo deste ano preparai-vos intensamente para o encontro de Madrid com os vossos Bispos, os vossos sacerdotes e os responsáveis da pastoral juvenil nas dioceses, nas comunidades paroquiais, nas associações e nos movimentos. A qualidade do nosso encontro dependerá sobretudo da preparação espiritual, da oração, da escuta comum da Palavra de Deus e do apoio recíproco.
Amados jovens, a Igreja conta convosco! Precisa da vossa fé viva, da vossa caridade e do dinamismo da vossa esperança. A vossa presença renova a Igreja, rejuvenesce-a e confere-lhe renovado impulso. Por isso as Jornadas Mundiais da Juventude são uma graça não só para vós, mas para todo o Povo de Deus. A Igreja na Espanha está a preparar-se activamente para vos receber e para viver juntos a experiência jubilosa da fé. Agradeço às dioceses, às paróquias, aos santuários, às comunidades religiosas, às associações e aos movimentos eclesiais, que trabalham com generosidade na preparação deste acontecimento. O Senhor não deixará de os abençoar. A Virgem Maria acompanhe este caminho de preparação. Ela, ao anúncio do Anjo, acolheu com fé a Palavra de Deus; com fé consentiu a obra que Deus estava a realizar nela. Pronunciando o seu «fiat», o seu «sim», recebeu o dom de uma caridade imensa, que a levou a doar-se totalmente a Deus. Interceda por cada um e cada uma de vós, para que na próxima Jornada Mundial possais crescer na fé e no amor. Garanto-vos a minha recordação paterna na oração e abençoo-vos de coração.

Vaticano, 6 de Agosto de 2010, Festa da Transfiguração do Senhor.

BENEDICTUS PP. XVI