terça-feira, 15 de novembro de 2011

José e o labirinto

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,

seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?

Para onde?
E agora?

Parece que não tem fim...
Fiz, desfiz...
Montei, desmontei...
Fui e já voltei! Repito: Já voltei!

Não sei, mas acho que o problema é que ultimamente só quero desfazer, desmontar, voltar...
Chego à loucura de desfazer o desfeito, desmontar o desmontado, ficar atordoado.
Já nem sei mais qual a finalidade, só quero ter o prazer de estragar tudo!

Mas será isso mesmo? E agora, José?
Nada me satisfaz! Não, não, não me venha falar que o homem é insaciável e blá, blá, blá... Quero encontrar qualquer coisa que eu faça com liberdade, seja lá o que isso queira dizer... Quero poder fazer, nem que seja só por uma vez, um só gesto, mas totalmente desejado, plenamente consentido, gratuito, inconseqüente e com toda a força do coração! Será possível? Será possível!? Será possível!? E agora, José?

O pássaro continua enjaulado
é o carcará domesticado...
Esqueceu-se que não tem o mapa
não lhe ensinaram o caminho
soltaram-lhe no mundo
com um coração
e mais nada...

E agora, José?
E agora, você?

Um comentário:

  1. Não é que deu certo o combinado, Sr. José?

    Só pra lembrar a resposta da Adélia...

    "AGORA, Ó JOSÉ"

    É teu destino, ó José
    a esta hora da tarde,
    se encostar na parede,
    as mãos para trás.
    Teu paletó abotoado
    de outro frio de guarda,
    enfeita com três botões
    tua paciência dura.
    A mulher que tens, tão histérica,
    tão histórica, desanima.
    Mas, ó José, o que fazes?
    Passeias no quarteirão
    o teu passeio maneiro
    e olhas assim e pensas,
    o modo de olhar tão pálido.
    Por improvável não conta
    o que tu sentes, José?
    O que te salva da vida
    é a vida mesma, ó José,
    e o que sobre ela está escrito
    a rogo de tua fé:
    "Nomeio do caminho tinha uma pedra",
    "Tu és pedra e sobre esta pedra",
    a pedra, ó José, a pedra.
    Resiste ó José. Deita, José,
    dorme com tua mulher,
    gira a aldraba de ferro pesadíssima.
    O reino do céu é semelhante a um homem
    como você, José.

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