terça-feira, 29 de setembro de 2009

Julgamento

_ Eu protesto, Excelência! Estes homens não são culpados de desídia. Apenas foram engolidos pelos afazeres diários, neste desbravar da selva escura chamada por alguns de concurso público.
_ Excelência, não lhe dê ouvidos. Já se passaram dias desde a última manifestação de vida de tais rapazes, que tudo tem à sua disposição. Antigamente, homens e mulheres eram obrigados a caminhar por longas veredas até ter com os compadres. Faziam sacrifícios de toda ordem para poderem desfrutar da mútua presença. Estes garotos, com toda a tecnologia cibernética, com o poderio interminável dos cabos e dos satélites, com esta avalanche de descobrimentos científicos a tudo facilitar, ousam vacilar e deixar os companheiros à sua própria sorte, presos a um isolamento perverso. Todos são culpados e merecem a condenação. A revelia está configurada e nada mais resta do que lhes sentenciar.
_ Ora, mas Excelência, é preciso compreensão. Há muito o que fazer, folhear livros, rabiscar cadernos, decorar númerosos artigos e recitar conceitos. Não se pode exigir tanto em tais ocasiões...
_ Hahaha, está vendo Excelência? A defesa não passa de justificativas vazias, de ecos do desespero. Quem não tem para si os compromissos, as tarefas? Nada disto pode afastar o dever de comparecer e de compartilhar.
_ Mas não é isto, Excelência. É que...
_ Basta! Já ouvi dos doutores o suficiente. A balança não pende muito para quaisquer dos lados. Sendo assim, que se dê mais tempo para que os réus Antônio Carlos, João Augusto e Miguel Távola venham a esta Corte Suprema. Saem daqui intimados o defensor Pedro Xavier e o acusador Aiatolavo. É como decido.

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