sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pedro Xavier: Curupira? Andarilho? Ou miragem?

Ééééé, Sr. Pedro Xavier... Quem te viu, quem te vê! Tardou, tardou, mas não falhou! E veio chegando e trazendo desde curupira e seu enigma de pé-de-trás, até samba, moda de viola, estilo de repente e tudo mais. Chegou em bom estilo! E veio tão empolgado, tão afoito (energia acumulada...), que nem bem foi reconhecido já veio exigindo a explicação, o foguete, a comemoração. Calma, lá, é o que lhe digo. Calma, lá! Preste atenção no que disse o caro João Augusto... Porque é dessa opinião e desse sentimento que eu mesmo compartilho. E digo mais. Da primeira vez que vi a vitrola sozinha, cantando o canto tão alegre do Cartola, eu mesmo me senti um pouco só. Porque meu sentimento não era bem esta alegria toda. Eu estava era muito desconfiado. E ainda estou, se quer mesmo que lhe diga. Porque a tardança foi demais. E os chamados muitos... E o tempo foi criando na gente uma dura carcaça (a contragosto, é bom ressaltar). E não sei se convém, mas eu a custo confesso, que este meu silêncio (não digo pelos outros), esta minha ausência, foi de certo modo planejado. Mas não por pura sede de vingança (uma vingancinha sem maldade ninguém pode evitar...), que não é para isso que inventamos esse nosso blog. Mas para que todos nós tivéssemos a mesma vivência, na pele, no íntimo, facilitando assim a compreensão. Neste intervalo, é verdade, calhou de o acesso ao cibernético ficar prejudicado por uns dias... No fim das contas tudo serviu ao mesmo propósito. Assim explico.
Por isso, chego sem comemorar. Pois pouco se sabe se é de ressurreição ou de último suspiro do cadáver. Quisera eu ter forças para dizer o merecido. Dizer todas as horas na espera, no aguardo, quando o leite derramado da chaleira no fogão restou todo escorrido, escorrendo, sem alma viva para pôr fim à derrama. Não foram poucas as horas, justo nesses tempos de seca desordem. Feito atravessar deserto esperando fonte limpa e vislumbrar o brilho das águas, mas tudo miragens, nada além de miragens. Assim tem sido a caminhança por essas terras. Porque pior que não encontrar é esperar em vão aquilo que promete vir e não vem. Pois entenda que cada linha escrita, não é a esmo tocada. É palavra dedicada, destacada do mais profundo que se pôde cavar. É palavra a custo liberada, aliviada do ser, intimamente posta à prova na mesa da refeição fraterna. Ignoradas as palavras assim postas, melhor tivessem guardadas, doloridas apenas pelo seu valor, não agravadas por um desprezo amigo (pior, muito pior que o desprezo inimigo).
Mas, eh piedade! Quisera ter forças para dizer o merecido. Sim! O merecido! Não venham com esfarrapadas! Sem necessidade! Contento-me com o retorno. E minha piedade não é ventania de fora, é nascida no caro de dentro, do sentimento. Assustam-me as palavras lançadas, o grito que interrompe o réquiem. E, distraidamente, percebo-me perseguindo o curupira e sonhando que a vida fosse como um bonito samba. Não! Porque devo agora compartilhar samba e curupira? Em tempos de outrora, quando se ouviu o pio encantado do passarinho uirapuru, pobre coitado, açoitado feito urubu, justo ele poetinha sagrado, justo ele... Restamos eu e a alegria solitária de ver um canto amanhecer e se perder feito fosse nada, feito um tom de mau gosto que ninguém prefere. Sem contar outros tantos cantos, abandonados já no primeiro sinal de nascença, para evitar o mesmo triste fim trágico do querido e amado uirapuru poetinha.
Mas vão dizer que isso é tempo de passados, que a hora é agora, em novos tempos feita e criada. Pois digo que aguardo, sem grande espera. O tempo, essa sabedoria, há de pôr nas coisas o seu devido tamanho. O que tenho a acrescentar é pouco, muito pouco. Mas não posso ficar calado, quietinho no meu canto, feito o tal Pedro Xavier. Que deste erro basta um ter padecido, assim espero. Porque de fato, no dizer de Jão Augusto, este buraco preto encardido é deveras tentação e dele fiquemos afastados. Quem nunca sucumbiu ao buraco que prove, porque nem pedra atirada há de convencer tamanha resistência. Quanto a Toninho Carlo, este que profetizou a ressurreição do compadre, paralelando, inclusive, com a de nosso senhor, digo cuidado, na espera, no aguardo. Que talvez sejam miragens, só miragem. O tempo, essa sabedoria.
Antes de me despedir, contudo, devo acrescer a minha prosa uma palavrinha sobre a ventura do irmão Pedro. Irmão. Não assuste mais os seus confrades. Devo lembrar, tal qual a raposa ao principezinho: “Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas” (de grande valia esta tamanha simples lição). Quanto a isolar-se, proteger-se... De que? Não, não busque mais o seu sossego se ele é artificial, se ele é de isolamento. Não se iluda. Não há buraco que lhe assegure, porque o perigo lhe persegue, lhe encontra, lhe pega, no escurinho do seu canto, onde você esteja. É preciso, antes, enfrentá-lo! E bem armado! Porque sossego de verdade só nasce é da convivência bem vivida, da amizade cultivada, da doação diária, do ombro presente. A caminhada isolada é seca, é triste e a sede mata. Não o corpo. Esse perambula. Mata a alma. Sorrateira, de emboscada, na tocaia. Pois estar vivo é estar sempre prestes à próxima esquina. Ao chamado de hoje, ao agora. A vida não aceita o depois (e aqui repito o caro João Augusto). Nem a fuga. Sempre se caminha, vivo ou morto, inevitável. A caminhança. Vamos juntos, vivos!, em caravana por este deserto onde a sede é fraterna, pois a água mais pura é o amor.

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