quarta-feira, 3 de junho de 2009

Andarilho

Meus amigos e meus inimigos,

Lá estava um berrando a este pseudobloguista a morte virtual. O cadáver se desembrulhou do caixão lacrado e foi ter prosa com o acusador, e até – cúmplice do próprio assassinato – numa necropsia verdadeiramente autopsia, dissecou os motivos da ida ao túmulo, em um despertar das trevas esperançoso.

Chegado ao local do encontro, dentessorrindo por alegria do reencontro com vida da amizade, o ex-defunto não compreendeu. Talvez fosse um convencido, desses apaixonados por espelhos, mas realmente construíra uma esperança, confiante de que o evento da ressureição, ainda que estrelado por alma minguada, fosse bem recebido por vivas ou ao menos um tá-bão, sô?

Nem foguetes, nem confete, o salão vazio de sertão. Para quem esperava festa, restou esconder o caixão, com o próprio corpo não – que já estava cansado da solidão subterrânea – mas sem pá nem braço amigo, com as unhas da própria mão.

Limpando o suar das telhas, pensou no som da infância, onde o sertanejo tocava o duelo de reis, ocorrido em Ribeirão. Depois de longa viagem, o peão foi tomar uma pinga e se envolveu em confusão – foi guerreado por um destes senhores da região. Pegou nas armas, então, e amarrou o empina-nariz com os laços de sua boiada.

Salivando o chopp da lenda, versada em moda-viola, o revivido foi interrompido, e aguçando ouvido, viu o batuque de uma cartola. As notas da alegria enviadas do além? Que mistério seria este, onde havia música e mais ninguém?

Quem sabe ao sair da sepultura, violara alguma norma fúnebre, e agora estava sancionado ao sem-sentido? Pensamento excluído, já que o feliz acorde provinha do céu.

Mais provável que fosse uma resposta ao seu enigma de renascimento. Embora nada aparentasse que sua charada dos pés-virados tivesse sido descoberta, poderia estar errado, isto costumava acontecer...

Concluiu que era isto: um diálogo insinuante. Somente meias palavras de cá e de lá. Gestos poucos, conversa nenhuma, bastava o resvalar, o quase-nada.

Matutou e não vingou. Desistia. Impacientou-se e sem pudor lançou a toalha branca.

E agora, vem pedir explicações ao autor do segredo e aos demais asseclas: onde estão as boas-vindas a este companheiro de andanças? Não viajo com tanta postura, nem verso com tanta frescura, mas, pé-ante-pé, sigo o caminho, mal-trajado e cabelo sujo, um peregrino, um andarilho.

2 comentários:

  1. Pedrão meu véio! Me senti ofendido/provocado/homenageado com os versos maravilhosos de sua poesia criptografada! Acho que vossa senhoria acaba de inaugurar um novo estilo, de viés repentista, cujo maior mérito é o de apenas ser compreendido pelos asseclas que mencionaste!
    Saudades, meu caro! Quando tiver tempo, atravesse a rua e venha tomar um vinho com este seu colega aqui.
    Abraços
    Tonhão

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  2. Tonho, meu amigo,

    O vinho é pra já, que a sede vai acumulada. De estilo não conheço nem ouvi dizer, para mim, basta escrever, uma palavra, outra palavra, um acento e não-sei-mais-o-que.

    Mas sabe que a compreensão da prosa, versada assim tresloucada, às vezes demora, demora, eu mesmo não entendi nada.

    Com o abraço cibernético de

    Pedro (e não Chico) Xavier

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