sábado, 13 de junho de 2009

Considerações sobre a “Pescada” de Miguel Távola

O simples verso de Miguel Távola, nomeado de produto da pescaria, não deve ser lido de forma que simplórias referências às coisas mais corriqueiras da vida levem a transcender os pesados fardos vitais. A primeira leitura certamente é esta, até por certo induzimento da ordem com que a construção do texto está feita – o primeiro verso, que guia todos os demais, é inequívoco: “Viver fosse feito”. Mas o autor quer mais, pretende brindar-nos com lições das mesmas que foram dadas por Pessoa, em suas dores diante das loucuras produzidas pela modernidade, ou alertar-nos como Eça, em “As cidades e as serras”, para os verdadeiros benefícios trazidos pela vida nos grandes centros urbanos. Seja de modo deliberado ou não, a verdade é que é indeclinável sua tendência a seguir os modernos autores lusitanos, especialmente àqueles que choram por um passado ainda preso em seu íntimo, sempre procurando resgatar, para não perder, suas mais profundas raízes. Quem conhece os textos de Miguel sabe da inegável influência que a literatura portuguesa produziu em seu espírito e da nostalgia que sente por uma vida de menos avareza (“E um dedo de prosa.”; “E mais dois dedinhos de prosa.”; “E o resto do dia só prosear.”). O que quer o autor, senão o diálogo com qualquer leitor que seja capaz de se desprender da mesquinhez dos falsos ideais insuflados pela vida moderna? Espero de coração que nosso poeta encontre interlocutores sedentos por travar essa necessária boa prosa.

Um comentário:

  1. Agradeço as considerações tão caprichadas. É muito bom prosear com quem generosamente nos compreende.
    Quanto aos interlocutores sedentos pela boa prosa... Acredito que encontrei, pelo menos três.

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