quarta-feira, 29 de julho de 2009

Voltando ao tema...

Desculpem voltar novamente ao tema (se é que ele já tinha ido embora...), mas, "coincidentemente", estava lendo o blog "o Indivíduo" e encontrei o seguinte texto:

Tentação & maldição
Publicado em 30 de junho de 2009 por Pedro Sette Câmara

Quanto mais tento usar as lentes da teoria mimética de René Girard, mais recordo a frase que a serpente disse a Eva no Paraíso: “Sereis como deuses.” Parece que aí está, com o perdão da pomposidade, todo o problema humano.
Primeiro, o problema de ser. “Ser ou não ser, eis a questão.” A impressão de que a vida dos outros é sempre mais intensa e mais perfeita do que a nossa. De que enquanto mal suportamos a banalidade outras pessoas estão “vivendo”. Olhamos os outros como Fernando Pessoa olha a menina que come chocolates em “Tabacaria”.
Segundo, o problema do “como”. O tempo inevitavelmente à nossa frente parece prestar-se a qualquer uso. E quanto mais o tempo está para trás, mais vemos que certas possibilidades se fecharam. Se o tempo é uma folha em branco, como preenchê-la? Aquelas pessoas que “são” mais intensamente do que nós sugerem um “como”. Mas elas são elas, e nós somos nós. E nós, é claro, temos de ser originais. “Seja você mesmo”.
Terceiro, “deuses”. O plural é de grande ironia. Se há deuses, eles não são absolutos. Se não percebêssemos que a promessa da serpente era furada no “como”, o “deuses” não deixaria dúvidas. Isso, é claro, se estivéssemos prestando atenção. Muito fácil para mim dizer isso agora, e continuar caindo nessa promessa falsa a cada 15 minutos. Mas por que caímos? Porque queremos ser deuses. Ou cada um de nós quer ser um deus e fazer da sua vida a perfeita e maravilhosa sucessão de realizações de desejos puramente espontâneos. Ressentimo-nos da banalidade, de não saber escolher um programa de TV, de tudo. Os deuses “são”. Eu não sou. Há aí outra ironia: “sereis como aqueles que são”, remetendo à maneira como Deus se definiu a Moisés: “Eu sou Aquele que é”.
O contexto ainda sugere outra interpretação. Adão e Eva eram dois. “Sereis como deuses… um para o outro. Tirando o fato de que vocês não são de fato Deus, bem…” E daí vem o inferno dos relacionamentos (de todo tipo). Eu deifico certa pessoa, creio que ela “é”, que ela tem as respostas etc. E obviamente ela não tem. Então eu ainda me sinto heróico por ter derrubado aquele ídolo e parto para deificar outra pessoa. A qual faz isso comigo, e depois derruba o ídolo em que me transformou etc.
Não acaba. O demônio não é o “macaco de Deus”? Querer “ser como deuses” é querer macaquear Deus. A serpente quer transformar o homem nela mesma.

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