segunda-feira, 13 de julho de 2009

Doença ou pecado? O pão, a migalha e o bolor.

Quem sabe a prudência determinasse que antes de a boca se abrir fossemos procurar o verbo mais ajustado, seja em lábio alheio ou nas páginas pintadas. Talvez. Mas também se corre o risco de perder a efusão, o momento de fazer correr. Daí porque, entre uma e outra, escolho o andar, o falar sobre aquilo que ainda me é obscuro. Não tanto para ensinar, informar ou qualquer outra atitude professoresca, mas sim para compartilhar, não sei se pão, ou só migalhas.
O caso é que das palavras de Padre Paulo Ricardo, cheguei a uma distinção interessante. Ignoro se a obra é do próprio pastor, de santo antigo, ou confusão de minha parte, mas ela me apareceu, sei lá como, nem por quem. Sempre me senti (e ainda me sinto, ora bolas!) bastante desorientado quando o assunto é o pecado. Nunca compreendi bem o que isto significava, nem a razão de seu existir. Sim, o sentido da escolha, a queda do maligno, a tentação de Adão, tudo isto é uma luz, embora de luminosidade misteriosa, aquela que dá e tira ao mesmo tempo. Ainda assim, o pecado me atormentava, não só na carne, mas na idéia.
Certo dia Miguel me disse que os mandamentos seriam como nosso manual de instruções. Conclui, então, que o pecado era um defeito de funcionamento. Pois é. Porém, a sensação de desconhecimento persistiu.
Ocorreu-me, num repente, o pensamento: há que separar a doença e o pecado.
A doença nos acompanha desde o começo, herdada de Adão, que dela se infectou no fruto. Já o pecado é efeito daquele mal, que nos debilita as forças e nos faz cair. O pecado está no ato, desaparece rapidamente. A doença, por sua vez, está conosco diariamente, ainda que não gere seu filhote: o pecado.
Estando doentes, somos capazes de pecar. E se pecamos, é porque estamos doentes. A doença é espiritual, mas se utiliza da carne. Somos todos pecadores, pois somos todos doentes.
É possível passar dias e noites sem pecado, mas a doença ainda vive na espreita. Não sei se podemos nos livrar da doença, ao menos neste mundo. Talvez a cura dela, realmente, só venha com o encontro do Pai. Mas enquanto caminhamos neste mundo, lutamos contra os atos do pecado, que é a forma de combate à doença.
Os santos talvez sejam os homens que, embora doentes, como todos nós, estão em boa saúde, pois guerream permanentemente contra as mazelas da doença, não permitindo que dê seus frutos, evitando, desta forma, o pecado.
Enfim, acho que é isto que tinha para dizer. Se a migalha que trago é algum alimento ou já vem embolorada, é algo que os estômagos amigos poderão dizer. De minha parte, tenho ficado com pão na boca, tentando discernir, em seu sabor, se é pra engolir ou cuspir.

Um comentário:

  1. Xavier! Ainda vou responder, camarada! Gostei de você ter compartilhado suas reflexões e angústias.

    Abração do João.

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