terça-feira, 7 de julho de 2009

D'ele-mesmo

De João Augusto e Miguel Távola
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De repente se dá conta que tudo mudou. As pessoas que o cercam não são mais as mesmas. A cama em que dorme... Quem lhe preenche o coração... Os ideais que lhe guiam a vontade... Será que escolheu tudo isso? Não seria uma imposição sabe-se-lá-de-quem? Talvez das circunstâncias ou do próprio deus com quem luta? Não tem a resposta. Só sabe que tem de se explicar para o mais exigente dos tiranos, ele-mesmo. Mas nada parece ter explicação, ele-mesmo lhe tortura em sonho e nos dias ensolarados. Quer esquecer ele-mesmo, deixar-se seguir. Mas o tirano é insistente e o persegue. Na resignação, grita ele-mesmo: Fraco! Na revolta: Estúpido! Calado: Grita! Fraco! Estúpido! Se obstáculo, protesta ele-mesmo: Intransponível! Se equívoco: Incorrigível! Se cansaço: Preguiça! Intransponível! Incorrigível! Quando a espera, ele-mesmo afoito. Quando a calma, nervoso. O medo, inseguro. Quando a alegria, ele-mesmo triste. Quando a verdade, incerto. A fé, descrente. Só sabe que detesta ele-mesmo, quem seria tão incoerente indivíduo!?

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