sábado, 18 de julho de 2009

O pão saboroso de Pedro Xavier

Pois é Pedro, meu amigo, você vem nos trazer um tema bastante incômodo e “misterioso”, como bem ressaltou. Talvez seja mesmo o tema principal, aquele que deveria ser o centro das nossas preocupações (Lembro do Bruno falando da santidade, como aquela que diariamente nos importuna de manhã quando acordamos e que sempre estamos deixando de lado, como se disséssemos: Hoje não! Por favor! Deixa isso para amanhã!).
Sinto que traz um pão saboroso e sadio à nossa mesa fraterna, pois comungo com você a mesma idéia, a da doença e a do pecado, aquela como uma condição do homem, este como o seu efeito mais indesejado. Outro dia li um texto do Olavo que mencionava um ensinamento da Igreja a respeito dos inimigos da alma que achei bastante interessante e que, talvez, esclareça um pouco mais a questão. Segundo ele, a Igreja ensina que são inimigos da alma: o mundo, o diabo e a carne. O diabo é a estrutura do poder espiritual maligno, que leva o conjunto da humanidade para o mal. A carne, por sua vez, é o pedaço seu que diz que você existe e que faz com que você acredite que exista, afastando-o da experiência de contingência e nulidade de si próprio: sei que sou, mas não sei por que sou (na verdade você só existe em confronto com a infinitude, só existe como uma partícula do fundamento da existência). Finalmente, o mundo, que é aquilo que as pessoas falam, as crenças, as crendices, as tagarelices (aquilo que faz, por exemplo, com que você se contente quando diz algo que as pessoas que você gosta concordam). Todos os três são inimigos da alma, afastando o homem de Deus. Neste sentido, lutar contra o pecado é lutar contra estes três inimigos.
Você fala dos santos... Puxa, conhecer a vida dos santos é algo ainda mais misterioso e instigante. É inacreditável, é vergonhoso, é revelador. Os santos são, em primeiro lugar, grandes pecadores. E este paradoxo terrível é o que mais instiga. A vida desses homens e mulheres, o modo como eles caminharam em direção a Deus, é um ensinamento muito grande para a humanidade. O exemplo é algo muito forte. O que choca não são as palavras ditas por eles, mas a vida que levaram. Para nós que vivemos num mundo tão mundano, é quase impossível vislumbrar que uma pessoa real possa ter vivido deste modo. É difícil para nós aceitarmos valores como a renúncia, a obediência, a resignação, a solidão. É difícil compreender o caminho da santidade. É difícil vislumbrar que todos os homens são chamados a este mesmo caminho, pois basta uma mínima consciência de si mesmo para perceber o quanto longe estamos dele. E, no entanto, estamos todos vocacionados a isto.
Enfim, meu amigo Pedro. Nisto tudo o que mais me instiga é perceber que não vamos jamais conseguir compreender completamente. A vivência da fé é muito mais profunda do que qualquer argumento possa dar conta, do que a nossa mente possa imaginar. Quando lembro que Cristo escolheu simples pescadores, que eram os homens mais pobres e ignorantes do seu tempo, para serem os arautos da boa nova, sinto que devemos deixar de lado a vontade de compreender tudo e cultivar a humildade de obedecer com fé ao ensinamento que nos foi dado e dedicar os nossos dias a vivê-lo realmente. Por alguma razão, que desconhecemos, Deus preferiu ver-nos livres a garantir que fossemos bons apenas pela sua vontade. Ele quis que fossemos livres e o “preço” da liberdade é a possibilidade da escolha pelo mal. Deus quer que escolhamos por nossa vontade seguir o seu caminho. E o nosso dever é este e não outro. Simplesmente porque Ele, na sua bondade, quis assim. E Ele nos ajudará a atingir essa meta, desde que permaneçamos Seus fiéis. A cada tombo, a cada erro, a cada pecado, levantamos de novo e seguimos na mesma direção. Arrependidos, perdoados, vamos pouco a pouco, tornando-nos, misteriosamente, homens melhores. Ainda que sejamos incapazes de compreender como.

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