domingo, 5 de julho de 2009

A filosofia nacional e o pensamento filosófico estrangeiro

"[...] Nós, brasileiros, pou um espírito de colonialismo passivo, que nos domina até hoje, não cremos em nós mesmos. Só damos valor àquilo que tem origem estrangeira, e não seja de Portugal, porque também esta procedência não goza de nossa admiração. É natural, pois, que falar numa Filosofia Nacional cause manifestações de completa descrença. Não acreditar que ela existe, nem tampouco que possa surgir, é atitude geral. Ainda hoje, "famosos professores de Filosofia" em Portugal dizem que é impossível criar-se uma Filosofia autóctone naquele país. Para o português, o que vale é "Penso, logo não existo" ou "Existo, logo não penso". Podemos dizer que existe uma Filosofia no Brasil, mas se quiséssemos realmente falar numa Filosofia do Brasil, tal afirmação exigiria exame. Não conhecemos obras de criação propriamente peculiar. Se estamos tentando realizar algo nesse sentido, não podemos afirmar, por motivos óbvios, que o seja. Podemos dizer que, pela nossa completa libertação de um passado metafísico, filosófico, histórico, que pese sobre nós e entrave as nossas possibilidades de ação, estamos em condições de criar uma Filosofia Ecumênica, uma Filosofica que seja realmente a Filosofia, por entre os muitos modos de Filosofar.

A heterogeneidade nas modalidades de filosofar surge nos períodos de predominância do empresário utilitário no contexto de uma cultura. Quando esta predomina, prevalece a moda que penetra em todos os setores: na Filosofia, na Arte, etc., como acontece no mundo atual.
Esta variação tremenda de idéias, as quais surgem de todos os lados não revela nenhuma pujança; é, ao contrário, um índice de fraqueza, como a do período final da cultura grega e alexandrina. A Filosofia Positiva (fundada na positividade do ser, que alcança a perenidade, porque atinge as leis eternas) e Concreta, precisamente, porque captando estas leis, relaciona todos os matizes de todos os aspectos formais - para dar-lhes uma unidade superior - é necessariamente Concreta, embora não no sentido vulgar do termo. A Ciência, felizmente, conseguiu libertar-se da moda, como o fez a Matemática; por isso construiu uma Matemática, uma Ciência, também pode se construir uma Filosofia.

Em que o pensamento brasileiro pode beneficiar-se do pensamento filosófico estrangeiro; reunindo o que há de positivo em todas as grandes realizações, provenham de onde provierem, construindo, depois, uma nova concreção e oferecendo-a ao mundo. Esta é a única possibilidade que nos cabe e que estamos em condições de realizar, muito embora a maioria de nossos intelectuais não creia nisto e negue, terminantemente, que tal seja alcançável por nós, açulando-se com sanha contra quem tentar fazê-lo".

Mário Ferreira dos Santos

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