quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Entre uns e outros

É estranho viver por entre as gentes. Talvez fosse mais fácil viver entre os animais. Eu gosto dos animais. Os animais são bons. Não bons como a bondade dos homens. Não, a bondade dos animais é diferente. Sim, os animais caçam, andam furtivamente, se arrastam na savana, espreitam, quem sabe cogitem os planos de ataque, e vão sem titubeio ao pescoço da vítima. Mordem, dão patadas, furam, matam, destroçam e comem. Ninguém diria que um ser humano que fizesse isso é uma boa pessoa. Mas os animais não podem ser boa pessoa, são apenas animais. E eles são bons, são bons animais. E digo isso para além de suas habilidades, para além de suas características tão gostosas de se ver e de se analisar. Realmente, é bom ver um leão deitado na selva, sem preocupações, apenas exercendo o ofício de estar ali, de ser leão: o rei de todos. É interessante ver como o elefante serpenteia sua tromba, como é imensa e ao mesmo tempo tão garboso, de uma elegância lenta, suave. A girafa é igualmente magnífica, desenhando uma corrida teatral, contorcendo os músculos devagar, devagar... que até pensamos estar vendo a Discovery Channel em slow motion. Os rinocerontes e seus chifres perigosos, sua carapaça dura e excessiva, descendo pelas beiradas; os medrosos filhotes dos babuínos, presos às barrigas das mães, de ponta cabeça; o enigma nos movimentos da black mamba, cobra de tamanho risco que nos deixa apreensivos mesmo longe, tudo isso é bom, é prazeroso de ver. Os animais são bons, mas não por isso. Sei lá, talvez eu esteja falando bobagens, pois não tenho exata consciência do por que os animais são bons. Que lhe parece? Os animais são bons? Fico matutando sobre esta impressão, este sentimento de que os seres da natureza são bons, que é agradável sua vida, que é certo que venham ao mundo, que façam o que fazem, enfim. Pode ser que uma reflexão assim seja fruto de um cansaço, de um descontentamento para com a vivência humana. Há momentos em que perdemos a paciência, em que ficamos com o saco cheio dos outros. Nessa horas tenho vontade de sair, de pegar uma trouxinha, juntar o essencial e debandar para o meio do mato. Ficar lá com os animais, tentar esquecer as ansiedades, as angústias, os problemas dos homens, e simplesmente permanecer ali, vivendo o dia-a-dia do acordar, comer, descansar, brincar e dormir. Mas tenho dúvida. Outro dia contaram-me que os animais têm lá seus entreveros. E não estavam falando das caçadas, mas de problemas de relacionamento mesmo. Imagine só! A girafa de pescoço pro lado, o elefante de bico, o rinoceronte grosseirão, o babuíno sacaneando os demais, o leão de cara feia... Que diabos! Não tem saída, não tem jeito, é ficar no mundo cão da humanidade ou na selvageria dos animais. E pensar que passei horas investindo nesse pensamento, para no fim dar zebra! Talvez fosse preciso procurar outro habitat, outras espécies, como os insetos ou os peixes. Os peixes, sim, talvez entre os peixes se tenha alguma paz ou então entre os crustáceos, os moluscos – aaaah, sei lá! Depois de refletir tanto não acho uma solução. Que maçada! Se ao menos eu fumasse, acenderia um cigarro. Mas não, dei para não gostar dessa porcaria e tentar me manter saudável. Vício miserável essa tal saúde! Melhor seria comer uma cenoura ou um pepino. Pepino é refrescante e este calor me dá nos nervos. Bom, mas comi pepino mais cedo. Estou enjoado desses malditos legumes. Ih, lembrei-me, já vem chegando o Natal e talvez minha esposa tenha comprado um panetone. Vamos à cozinha...
Graças ao bom Deus, uma coca-cola e um panetone. De que falava eu mesmo?

Um comentário:

  1. Eis a fase africana do Xavier, passou a lua-de-mel no simba safári...hehe! Você podia aproveitar e falar pra gente sobre suas impressões do povo, da política, da cultura, da economia, da copa, etc. Que tal?

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