segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sem cerimônia

“Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher; e serão uma só carne” (Ef 5:31). O que aconteceu com o casamento? Deus nos disse que somos uma só carne depois deste momento, que nos juntamos para todo o sempre, que criamos um laço para toda a vida, indissolúvel, sagrado.
O que aconteceu com o casamento? Quando vou a uma cerimônia de matrimônio nos dias de hoje, quando depois vou até a festividade dos noivos, nossa, que beleza, que altar mais suntuoso, que flores perfumadas, que vestimentas elegantes, quanta fartura, quanto rebolado, o copo sempre cheio, o bufê sempre ao lado. Que triste...
Triste, porque ninguém mais sabe se portar na igreja. Ninguém parece saber que no altar está Alguém bem mais belo que a noiva. Ninguém sabe responder às preces do padre. E até o padre igualmente demonstra certo descaso, pois o compromisso com a grande festa joga para debaixo do tapete o Senhor do sacramento.
O que aconteceu com o casamento? Reza-se a Ave-Maria cantada, mas quase todos estão cochichando isto sobre o vestido da noiva, aquilo sobre a decoração de flores, sobre a iluminação, sobre a voz do tenor, sobre o melhor caminho para chegar ao salão das bebidas...
O que aconteceu com o casamento? A música sagrada, que fala à alma, foi tirada do trono pelos produtores da Disney. Todos suspiram quando entram as garotinhas vestidas, ao som de A Bela e a Fera, e todos nos esquecemos que o apelo sentimentalista do mundo da fantasia nos leva longe do sentido mais profundo e importante da união sagrada.
Sagrada, união sagrada. Quem ali saberá dizer o que é sagrado? Não, não acreditam em sagrado. Saem correndo para pegar um bom lugar próximo aos comes e bebes, e passam imediatamente à obrigatória cerimônia de intoxicação, cada qual com seu copo, seu pompom e seus apetrechos de carnaval.
Pois é, a união sagrada entre duas pessoas, entre duas almas que se amam e que prometem estar sempre juntas, isso agora virou carnaval. Virou festa de embriaguez com promiscuidade tresloucada, virou joga tudo pro alto e beija muito! Aquele momento único foi seqüestrado para a fila das baladas, onde é proibido não perder a razão.
O que aconteceu com o casamento? Os noivos, ao invés de permanecerem ombreados, com as mãos juntas como no altar, expressando desde já o laço matrimonial, saem cada qual para seu lado, desempenhando o papel de estar ali animando os compadres, fazendo acrobacias, soltando a fraga etc e tal.
De tanta bebida, vez por outra se esquecem do par, não se recordam do que estão comemorando, e dão mais uma golada, afogando aquela voz que incomoda.
Outro dia, inventariando uma livraria, fui surpreendido por um título civilista. A doutora era maluca, isto eu já sabia. Mas não contava com tamanho descalabro na capa de seus livros: Divórcio já! Sim, com exclamação. O tom imperativo e a forma de palavra de ordem me deixaram atônito. A dona estava pregando a separação da união sagrada, desejava romper os laços do amor, queria destruir, com pressa e sem cerimônia, a relação mais bela e fundamental da humanidade.
Testemunho essas coisas e fico sem resposta. Talvez na noite de núpcias, passado o êxtase alcoólico, a noiva, de maquiagem borrada e sem o fatal vestido, saia correndo abaixo pelo hotel, com enxaqueca e em desespero, suplicando aos berros: divórcio já, divórcio já!
E um matuto perceberá que levantaria uma grana brava se inventasse um bufê de separação. Sim, os desquitantes estariam juntos, triunfantes; venceram a sociedade hipócrita, acabaram sem delonga com aquela farsa que lhes impuseram. E virão as divorciadinhas, as sobrinhas lindas, de cabelos cacheados, de vestidinho, trazendo o alicate para rompimento das alianças. Festa, bebida, comida, bebida, música, bebida e cafezinho.
Um casal de namorados, observando tudo, achará aquilo tudo muito brega. E pensará em fazer algo diferente, chocante, para abalar a sociedade. E então selarão o compromisso de ficarem juntos para sempre, sem o clichê da separação...

3 comentários:

  1. Cerimoniosa sem cerimônia. Representadas as formalidades do divórcio já... Chorei de rir... Especialmente na parte da noiva borrada e, quem sabe, sem roupa a gritar pelo divórcio na rua...

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  2. Boa idéia esta do bufê da separação... Não duvido que em breve alguém inventa... Não por acaso, leio este artigo de manhã e quando chego a tarde no escritório me deparo com o tal livro. Acredita? Tive-o nas mãos, infelizmente... Que absurdo! Pior foi ouvir o advogado me dizendo que o livro era escrito por doutora tal, de tal ex função, de tal estado e tal e tal... E eu com vontade de dizer: e eu com isso? Como alguém em sã consciência compra uma merda dessa? Depois o advogado veio dizer do Instituto Brasileiro... e eu completei: do direio da anti-família... Deus salve as criancinhas, alguém já disse... Estas sim é que pagam o preço das maluquices desses pseudo-intelectuais de merda! Fora com a senhora Fulana de tal! Antes que o estrago seja pior... Adianta conversar, adianta?? Com esta gente não tem conversa, não... Vai começar por onde?

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