sexta-feira, 17 de abril de 2009

Conhece-te a ti mesmo

Peço licença aos amigos para fazer uma observação bastante pessoal, o que obrigou-me a criar um novo marcador para textos do blog, que, muito pretensamente, denominei "Divã". Inauguro oficialmente a sessão desabafo deste blog. E o faço para dizer algumas coisas.
A primeira: andei vasculhando o blog "O Indivíduo" e gostei muito. Especialmente o "Domingo com Poesia". Tem muitos comentários sobre o Bruno Tolentino e outros, e acredito que pode ser uma boa influência para o nosso caminho. É evidente a enorme influência do Olavo sobre o autor, inclusive no estilo de escrever. Há textos bem interessantes.
Segundo: No mesmo blog encontrei os textos que coloquei logo abaixo, que entre outras coisas dizem respeito a procura da identidade. Não são nenhuma maravilha da literatura, mas achei interessante a discussão... Achei legal colocá-los aqui, porque tem o estilo "blog" muito semelhante ao nosso, e dizem respeito a algo que tem também nos incomodado bastante: a procura do vocação, do caminho, a nossa caminhança.
E ai vem o meu desabafo mais pessoal. Porque na última vez que trocamos e-mails eu realmente estava muito chateado porque sentia que de algum modo estávamos nos distanciando, de nosso grupo, deste blog, e de tudo que está por trás dele. Tive medo, como ainda tenho, de que nos perdessemos... Tive medo, como ainda tenho, de esquecermos nossas idéias e seguirmos caminhos diversos. Tive medo, insegurança... Depois conversamos e pensei muito a respeito. E queria dividir com vocês a minha reflexão.
Porque percebi que não temos que ter medo. Temos é que ter esperança. Lembrei que não existe caminho, mas apenas o caminhar, a caminhança. Lembrei que temos que viver o momento presente e não nos massacrar mesquinhamente e neuroticamente para atingirmos certos objetivos que muitas vezes impomos para nós mesmo, sem saber se realmente somos capazes deles e se seremos felizes neles. E lembrei novamente da mesma vaidade e orgulho de sempre, sempre encostando ao nosso lado, nos fazendo querer ser mais e mais, numa eterna insatisfação... Juizes, poetas, professores, intelectuais, pais... Sempre mais, mais... Lembrei que precisamos ter calma... Que a vida não vai se resolver amanhã, e não vai se resolver definitivamente nunca. Nem mesmo quando passarmos em algum concurso ou arrumarmos algum emprego. Porque a vida se resolve todo dia. E temos que estar preparados para o erro, para a frustação, para os problemas, assim como para a alegria, a felicidade e a realização. Não podemos exigir demais, cobrar de mais, nem dos outros e nem de nós mesmos... E lembrei-me que Deus, o criador de tudo, ele mesmo, é na mesma medida o Senhor, que nos exige obediência e nos quer santos, e o Pai, que nos acolhe e perdoa. Saibamos também estar de braços abertos para nossa alma e para os nossos irmãos. Que o caminho se faz todo dia, cada passo, na esperança. E vamos sempre juntos. Caminhança...

Seguem os textos do blog "O indivíduo":

Paraibagem Metafísica
Publicado em 16 de abril de 2009 por Pedro Sette CâmaraCultura

Está difícil parar e escrever aqui. Mas vai uma pequena observação.
Os brasileiros que moram fora do Rio e de São Paulo mistificam Rio e São Paulo e tentam mostrar-se atentos ao que se diz nessas cidades.
Os brasileiros que moram no Rio e em São Paulo querem mostrar-se atentos ao que acontece em Nova York, Paris ou Londres.
Até os brasileiros que moram em Nova York, Paris ou Londres querem mostrar-se integrados às suas cidades e à sua nova identidade cosmopolita.
A busca pela identidade é mais forte do que a busca por um objeto, pelas famosas “coisas mesmas”. Mas isso até que é normal. A questão é escolher modelos melhorezinhos. O “parisiense” é uma abstração. É melhor e mais vantajoso querer ser Baudelaire do que querer mostrar-se “parisiense”.
Confundir contumazmente o acidental com o essencial, ler o texto sem contexto - ou, pior ainda, com contexto pequeno - , eis a marca universal da paraibagem.

Sobre a Futilidade de Querer Ser Outro
by Sergio de Biasi - Publicado em 17/04/2009

Escrevo este texto em parte motivado por este texto aqui do Pedro no qual ele diz que
O “parisiense” é uma abstração. É melhor e mais vantajoso querer ser Baudelaire do que querer mostrar-se “parisiense”.
Sobre isso, eu comento o seguinte.
Eu entendo perfeitamente sob que métrica querer ser Baudelaire é melhor do que querer ser parisiense. Qualquer um pode, em princípio, ser parisiense, sem precisar para isso realmente de grandes méritos ou sequer realmente grandes esforços. Mude-se para Paris e fique lá tempo suficiente. Se o sujeito não for uma ostra e um retardado completo (tá, nem todo mundo vai atender a esse pré-requisito, mas se ele for atendido), ele vai aprender francês, e conhecer a cidade, e eventualmente poder com pleno direito ser chamado de parisiense, mesmo que tenha nascido em Novosibirsk. E daí? Se for uma mera questão de “status” ou deslumbramento com sentir-se por osmose identificado com Baudelaire - e é entre muitos outros motivos de pessoas como Baudelaire que vem o status de ser parisiense - então é como achar que se você comprar muitos livros ficará automaticamente culto. Então, em resumo, eu entendo sim a futilidade de querer ser “parisiense” ou similares.
Por outro lado, e é aí que vem a minha observação, querer tornar-se Baudelaire não me parece um objetivo melhor. Note-se, tornar-se parisiense pelo menos é um objetivo atingível (tanto quanto seja possível capturar a abstração do que seja ser parisiense). Mas tornar-se Baudelaire não é. É fisicamente impossível tornar-se, no sentido literal, Baudelaire. (Isso me lembra “Quero Ser John Malkovich“, uma original parábola sobre querer ser o outro.)
Então a única forma coerente de entender essa afirmação é como metáfora. Não é tornar-se Baudelaire, e sim Baudelariano, à altura de Baudelaire, ou como Baudelaire. Mas aí começamos a escorregar para o mesmo tipo de abstração que é a de ser “parisiense”. Quem julga ou como medir se somos suficientemente “como Baudelaire”? E que tipo de similaridades estamos buscando? Certamente não se trata de vestir as mesmas roupas ou ter a mesma aparência. Provavelmente também não se trata de ter o mesmo caráter ou acreditar nas mesmas idéias. Será que é escrever no mesmo estilo? Provavelmente também não. Imagino que seja mais na direção genérica de escrever com a mesma qualidade. Ou ter o mesmo impacto na cultura humana. E a esse ponto já não abstraímos o Baudelaire a ponto de não restar mais do que um fiapo do ser humano Baudelaire? Já não se torna algo tão abstrato quanto, bem, como querer ser parisience? Afinal, quem quer ser “parisiense” no fundo anseia pela identificação genérica com tudo que Paris represente, inclusive Baudelaire. E se nos é permitido argumentar que não é por motivos fúteis sobre Baudelaire, me parece muito razoável que se possa argumentar que não seja por motivos fúteis sobre ser parisiense. Ou será que por acaso o próprio Baudelaire era parisiense pra ficar contando vantagem? Alías, da mesma forma, poderíamos argumentar que Baudelaire era Baudelaire só para poder ficar contando vantagem.
Então, se por um lado dar excessiva importância a poder dizer “eu sou parisiense” me parece fútil, sem dúvida, por outro lado isso é mais ou menos acessório e periférico aos fundamentos mais profundos da personalidade de uma pessoa. Já querer ser Baudelaire me parece que leva a problemas mais graves. Tornar-se Baudelaire exige um comprometimento mais profundo, e um maior grau de cirurgia mental. Tudo isso para atingir um objetivo tão fútil quanto querer ser parisiense.
Diante disso eu digo que não, nós não temos que querer ser parisienses, ou Baudelaire, ou Shakespeare, ou Einstein, ou iguais a quem quer que seja. Embora existam de fato pessoas que podem servir de referência cultural, científica, moral e sob outros aspectos, querermos “ser como elas” é um péssimo caminho. Nós temos que ser é nós mesmos, e o melhor que conseguirmos ser de acordo com nosso julgamento e com nossa consciência. No processo, se formos muito bem sucedidos, é muito provável que acidentalmente nos tornemos parisienses, Baudelarianos, Shakesperianos, Einstenianos e muito mais. Mas isso tudo como acidente e efeito colateral de sermos nós mesmos, de buscarmos ser o melhor que nós mesmos podermos ser.
Querer ser o outro, por outro lado, nos distancia de nossas reais potencialidades e nos coloca perseguindo fantasmas, e buscando frustradamente, esquizofrenicmante, mesquinhamente, futilmente, algo que só só o outro pode ser. Muito melhor é fazer as pazes com quem você é e tentar exercer essa inalienável função da melhor e mais plena forma que você conseguir.

2 comentários:

  1. Curioso como as mesmas questões nos fustigam mesmo estando separados. Distantes fisicamente, mas ligados em pensamentos, meu amigo.

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  2. A propósito, gostei do novo tópico... precisamos reorganizá-los...

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