Eu
passei pelo menos vinte anos da minha vida desmontando e remontando a minha
personalidade não no sentido de adquirir uma santidade ou uma perfeição
evangélica, mas de adquirir aquele mínimo de integração sem o qual você não é
você mesmo, sem o qual você é um nada. Note que o advento do cristianismo
aconteceu não num lugar qualquer, numa Zâmbia ou numa tribo da América do sul.
Aconteceu na civilização mais ordenada e integrada que você tinha na época que
era o Império Romano. O império Romano não era um primor de perfeições morais,
mas era sim um primor de integração, de ordem e, portanto, de consciência. A
informação circulava dentro do Império Romano, as partes conheciam o todo e o
todo conhecia as partes. Esta integração da personalidade, então, precede a
conquista de quaisquer virtudes morais.
Porque
qualquer virtude moral colada numa personalidade fragmentada não significa
absolutamente nada. Quer dizer, o sujeito está crente de que está agindo de uma
maneira virtuosa e está fazendo uma baita sacanagem e não percebe, não tem
autoconsciência suficiente para se perceber e se julgar a si mesmo. Então vira
tudo um teatro. Não são virtudes verdadeiras. Quando Deus enviou Jesus Cristo
no Império Romano e não em outro lugar, existe ai uma mensagem formidável, a
que todos nós temos que aprender. Existe certo mínimo de virtude natural que
você tem que ter antes de você receber o influxo do espírito.
Assim
como no ato da criação Deus constituiu o homem com o barro, não com merda, não
com sujeira, mas como barro limpo. Deste barro limpo ele faz o homem e daí ele
insufla no homem o espírito. Não é qualquer coisa que pode receber o espírito.
O barro em si mesmo não tem nada de sacro santo, é apenas uma coisa da
natureza, mas ele tem que estar limpo. Do mesmo modo a personalidade tem que
ter uma integração, um ordem interna, na qual o sujeito quando diz a palavra
“eu” ele diz com plena consciência do que está dizendo. Ele se conhece como
autor de seus atos, autor de seus pensamentos, senhor de seus estados
interiores e responsável por tudo que se passa na alma dele.
[...]
(Neste sentido) o sacramento da confissão não vale nada se você não tem certa
integração pessoal, em que você seja capaz de perceber e julgar os seus
próprios atos. Existe a inspiração do espírito santo, que tem uma função
sobrenatural, mas também uma função usual, que é inspirar a sua inteligência
para que você descubra a verdade. Não a verdade sobre as grandes coisas, mas a
verdade sobre a sua própria conduta, sobre as suas próprias motivações interiores,
seus sentimentos profundos, suas intenções. [...] Eu passei mais de vinte anos
observando as minhas más intenções e até hoje eu tenho que prestar muita
atenção em mim mesmo para eu não fazer uma grossa sacanagem.
[...]
Nosso curso de filosofia começou com a prática de você conhecer a si mesmo,
conhecer as suas motivações e de você ter um padrão para você se julgar. Lembro
o exercício do necrológico, que é a régua para você medir quem você está sendo
no momento. Se você sabe quem você quer ser, você sabe se você está se
aproximando ou se afastando. Às vezes, as forças que nos afastam do nosso ideal
moral são tão tremendas que você precisa de anos, anos, anos para você
conseguir achar uma brecha pela qual você retoma o caminho.
[...]
Ser sincero não é simplesmente dizer o que você pensa na hora. Isto é
simplesmente desempenhar o papel que naquele momento você se atribui no seu
teatro mental. Isto não é sinceridade. Sinceridade é você confrontar os seus
vários pensamentos e emoções diferentes, toda a sua tensão interior e você ter
que arbitrar isto tudo. Por isso é que o grande psiquiatra... chamava o ser
humano de o “construtor de pontes”. Todos nós temos uma gama inteira, um leque
inteiro de impulsos contraditórios e nós temos que arbitrar entre eles, harmonizar,
combinar etc. Isto é a prática de tornar-se gente.
(trecho do programa "true outspeak")
entrego a Olekun!!!
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