quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"Quanto mais revoltado contra o mal no mundo o sujeito está, mais mal ele vai fazer"

“[...] A camada intelectual é constituída de pessoas frágeis, sempre foi assim... Pessoas que, às vezes, não tem uma posição definida na sociedade, muitas ambições e poucos meios de realização e que, portanto, trazem um grande ressentimento dentro de si. Então, o intelectual olha o mundo e vê o que lhe parece ser a vitória dos maus (que nem sempre são tão maus quanto ele imagina...). Diante desta revolta, ele vendo o poder do mal no mundo, ele se impressiona com o poder do mal. E se impressionar diante de um poder já é cultuá-lo, já é cair sobre o domínio dele. Então, o sujeito começa entrar na dialética do mal, ele lê Maquiavel, ele lê Nietzsche, e vai tentando elaborar a sua revolta, sem perceber que com isso está ele próprio se transformando num instrumento do demônio. Quanto mais revoltado contra o mal no mundo o sujeito está, mais mal ele vai fazer, isto é óbvio. De fato, o ser humano não nasceu para corrigir o mundo. A esfera de ação própria do ser humano é muito pequena. E, hoje em dia, todo mundo tem a ambição de criar um mundo melhor. Qualquer garoto de doze anos está criando um mundo melhor. É esta ambição de criar um mundo melhor que faz os camaradas entrarem numa luta pelo poder. Porque se você quer mudar o mundo, você tem que ter o poder de modificá-lo. Então, melhorar o mundo passa a ser o capítulo dois, o capítulo um é conquistar o poder. Então este pessoal cria uma obsessão de poder e todos eles se corrompem até o fundo da alma e se transformam, eles mesmos, em maiores propagadores do mal ainda. Então, isso não é porque o sujeito é um idealista, este papo de que o jovem entra nas lutas sociais porque é um idealista, isto é uma patacoada... Que garoto de quatorze ou quinze anos tem uma visão correta da sociedade, da pobreza etc.? Que garoto de quatorze anos está mais interessado nos outros do que em si mesmo? Isto é impossível... Um garoto de quatorze anos está lutando pela sua auto-realização... E se ele está revoltado com a injustiça no mundo é porque ele se sente injustiçado, embora na maior parte dos casos não o seja. Então, ele projeta este seu sentimento de injustiça nos outros e diz que ele está representando os pobres e oprimidos. Isto é uma mentira. Eu digo isto analisando a minha própria geração e a mim mesmo. O que eu sabia sobre a pobreza e a miséria no Brasil quando pela primeira vez me fascinei pelas idéias de esquerda? Não sabia coisíssima nenhuma... Eu sabia que eu estava me sentindo mal... Eu me sentia mal e oprimido, então odiava qualquer coisa que representasse, aos meus olhos, a autoridade. Então, estava lutando pelos meus próprios interesses, pela minha própria vaidade, como todos daquela época. Eu, inclusive, no partido comunista, se você me perguntar quem eu conheci que fosse uma pessoa piedosa, caridosa, que tivesse realmente piedade pelos pobres, que tentasse ajudá-los diretamente, eu não conheci nem um único. Eram todos corações secos. Todos eles. Então, o sujeito está lutando pela sua própria vaidade, mas como engana a si mesmo achando que ele é o salvador, que está lutando contra o mal, quanto mais ele pensa assim, mais ele se impregna do mal pela via da vaidade.”
(Olavo de Carvalho, programa True Outspeak do dia 23/11/2010: http://www.youtube.com/watch?v=rUp280iEpeI&feature=player_embedded#!)

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