quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"O homem tem de se horrorizar consigo mesmo para chegar ao bom caminho"

"Pois assim como todos os dias precisamos respirar, assim como todos os dias precisamos de luz e de alimento, assim como, também todos os dias, precisamos de amizade e, na realidade, precisamos de determinadas pessoas, a relação com Deus pertence aos elementos que sustentam absolutamente a vida. Se, de repente, Deus não estivesse presente, eu não poderia respirar bem espiritualmente".

"A menor força de amor já é maior do que o maior potencial de destruição".

"Eu creio! E no próprio ato de fé está incluído que isso vem d’Aquele que é a própria razão. Ao começar por me submeter com fé Àquele que não compreendo, sei que é precisamente assim que abro a porta para a verdadeira compreensão".

"Cada ser humano vive interiormente uma tensão entre múltiplos pólos [...]. Porque também os interesses que se tem, os talentos e a ausência deles, os conhecimentos e os desconhecimentos, a fé da Igreja no seu todo, não coincidem simplesmente de modo automático. Há, pois, em cada ser humano, também em mim, uma tensão interior. Mas não lhe chamaria dilaceração. Crer com a Igreja e o fato de saber que posso confiar neste saber, que os conhecimentos restantes recebem luz dele e, por outro lado, podem aprofundá-lo, isso é consistente. Sobretudo acontece que o ato fundamental de fé em Cristo e a tentativa de, a partir dele, dar unidade à vida harmonizam as tensões, de modo que não se tornem uma dilaceração, uma ruptura".

"Nessa medida, precisamos outra vez dessa confiança originária, que, em última análise, só a fé pode dar: que, no fundo, o mundo é bom, que Deus está presente e é bom. Que é bom viver e ser humano. Daí vem também a coragem para alegria, que, por sua vez, leva a que outros se alegrem e possam receber a Boa Nova".

"Creio firmemente que Deus de fato nos vê e nos deixa a liberdade – e, contudo, também nos conduz. [...] Isso significa que a minha vida não é composta de acasos, mas que Alguém prevê e anda, por assim dizer, na minha dianteira, antecipa-se ao meu pensamento e prepara a minha vida. [...] No entanto, isso não significa que o Homem seja completamente determinado, mas sim que esse destino é precisamente um desafio à sua liberdade. [...] Em todo caso, cada um tem a sua missão, o seu dom especial, ninguém é supérfluo, ninguém existe em vão. Cada um tem de procurar perceber qual é a sua vocação, e como responder melhor ao apelo que lhe é feito".

"A arte é fundamental. A razão sozinha, como se exprime na ciência, não pode ser toda a resposta do Homem à realidade e não é capaz de expressar tudo o que o Homem pode, quer e deve exprimir. Penso que Deus pôs isso no Homem. A arte é, com a ciência, o maior dom que Deus deu ao Homem".

"O Homem perde a própria dignidade quando não é capaz de conhecer a verdade; quando tudo não passa do produto de uma decisão individual ou coletiva".

"Digamos que a vida não é feita de contradições, mas de paradoxos. Uma alegria baseada num fechar de olhos perante os horrores da história acabaria por ser uma mentira ou uma ficção, uma maneira de fugir à realidade. Por outro lado, quem já não é capaz de ver que o Criador também transparece num mundo mau acaba por deixar de poder existir, torna-se cínico, ou então tem de se despedir da vida. [...] Precisamente quando se quer resistir ao mal, é tanto mais importante não cair num moralismo obscuro, que já não pode alegrar, mas que se veja realmente quanto há de belo, e que assim também se possa resistir ao que destrói a alegria".

"[...] o homem é um ser moral, responsável por si mesmo e pela humanidade, mas também é um ser que só pode receber de Deus os recursos para avançar".

"Mas é precisamente na arbitrariedade que a vida se torna vazia. A vida é séria demais para um mero jogo, em que somos confrontados com a morte e com o sofrimento. O Homem pode perder a própria identidade, mas não pode desfazer-se da própria responsabilidade, e, com ela, o seu passado sempre o alcança".

"Porque se não existe disponibilidade para uma subordinação a um todo conhecido e para se colocar a si mesmo a seu serviço, não pode haver uma liberdade comum; a liberdade do Homem é sempre liberdade partilhada. Tem de ser levada em conjunto e exige, por isso, o serviço. Claro que essas virtudes (o dever, a obediência e o serviço), se quisermos chamá-las assim, também podem ser mal empregadas, quando são atribuídas a um sistema errado. De um ponto de vista formal, não podem ser boas em si, senão quando ligadas ao fim para o qual estão orientadas. Esse fim, no meu caso, é a fé, é Deus, é Cristo, e assim tenho, em consciência, a certeza de que estão no lugar certo".

Sobre o casamento: "[...] encontramos a questão de uma decisão de vida definitiva no centro da própria personalidade: posso dispor já hoje, digamos, aos vinte e cinco anos, de toda a minha vida? É algo que se amolda ao Homem? Será possível agüentar isso e crescer vivamente e amadurecer _ ou não tenho antes de me manter constantemente aberto a novas possibilidades? No fundo a questão é a seguinte: faz parte do Homem a possibilidade do definitivo no âmbito central da sua existência? Pode suportar uma ligação definitiva, precisamente na decisão relacionada com o seu modo de vida? Diria duas coisas: Ele só pode isso quando se encontra realmente num grande enraizamento de fé; e, segundo, só então ele chega à forma plena do amor humano e da maturidade humana. Tudo o que não é casamento monogâmico é de menos para o Homem".

Sobre o sacerdócio: "Em Santo Agostinho pode-se ver isso muito bem. [...] que, na realidade, estava constantemente ocupado com as coisas do dia-a-dia, a lavar os pés ao próximo, e que estava disposto a desperdiçar, por assim dizer, a sua grande vida no que é pequeno, mas sabendo que desse modo não a desperdiçava. [...] Quando é corretamente vivido, não pode significar que se chega, finalmente, aos lugares de decisão do poder, mas que se renuncia a projetos de vida próprios e se põe ao serviço".
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(Papa Bento XVI, trechos do livro "O Sal da Terra")

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