sábado, 3 de julho de 2010

Copa do Mundo: bobagem

Copa do Mundo. Nada tão importante. Um monte de milionários correndo, passando, chutando uma bola, suando e aparecendo em comerciais. A torcida entorpecida, rindo em suas férias na África. Os nativos felizes da vida, aparecendo pela primeira vez no mundo, como que descobertos com atraso.
E corre dinheiro e correm negócios, correm os repórteres atrás dos técnicos – mais do que mal-humorados, desbocados, debochados –, correm as emissoras atrás da audiência e correm os torcedores para frente da televisão. E tudo é exaustivamente analisado, à luz de câmeras de alta definição, com comentários por dezenas de especialistas, opinadores intrometidos e coisa e tal. Nada passa sem que o mundo inteiro tenha que observar nos cinco jornais diários uma vez, duas vezes, três vezes, infinitas vezes...
E eu, candidato à corte de intelectuais, promessa invencível de grande futuro, sucesso certo, pensador já quase histórico, sou arrastado sem qualquer resistência à mágica da Copa do Mundo.
E como vibrei e como torci, e como sorri, pulei e soprei, soprei a maldita vuvuzela, soprei até machucar os lábios, gritei até rouquear a voz. E enfim sofri, quase chorei, sai cabisbaixo e inconsolável, porque do sonho acordei num repente: a gente perde e a gente sente.
Mas que bom que assim vivi, e fui momentaneamente curado da enfermidade da intelectualóidice hipertrofiada, salvo pela mística da bola rolando. Que alegria é esta de uma união verdadeiramente mundial em torno de uma bobagem, em torno do esporte, do futebol.
Perdemos tempo, dinheiro e dias de trabalho – que coisa horrível. Pois é, meu amigo, mas dá licença, que agora é a hora do gol.

2 comentários:

  1. Que coisa a Copa... Uma grande jogada de marketing, uma anestesia coletiva, mas que tem sua graça tem...

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  2. Esse nosso mundo é mesmo esquisito... Tudo vira negócio, esperteza, malícia. E a gente fica sem saber se esta fazendo papel de bobo... A ponto de ter de encontrar justificativas para curtir algo tão interessante e instigante quanto uma competição esportiva. "Eles" estão tentando acabar com a Copa, transformar tudo em dinheiro, em oportunidade, em marketing... Mas por trás de tudo isso sobrevive o instinto competitivo, o sentimento de equipe, o patriotismo, a vontade de vencer, a força de um talento, a beleza de uma jogada bem feita, o gosto de uma guerra sem armas, a magia de brincar a sério... Enfim, a "mística da bola rolando", como bem definiu o Pedro... Põe graça nisso, João, põe graça nisso!

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