sexta-feira, 25 de maio de 2012

A Família: o Trabalho e a Festa






Inno ufficiale del VII Incontro Mondiale delle Famiglie
LA TUA FAMIGLIA TI RENDE GRAZIE

  
1.       Noi Ti preghiamo,
Padre dell’uomo,
per ogni famiglia
che tu doni a noi.
Noi contempliamo
la Tua bellezza
in ogni padre
e ogni madre.
R. Em alemão


R. LA TUA FAMIGLIA
TI RENDE GRAZIE
PERTUTTI I DONI
CHE TU LE DAI.
FESTA E LAVORO,
GIOIA E FATICA,
SEI NOSTRA VITA,
SIGNORE GESÙ.


2.      Noi Ti preghiamo,
Cristo Signore.
Sei fonte di gioia
per l’umanità.
Noi Ti chiediamo
per ogni famiglia
un giusto lavoro
ed il pane. 
R. Em inglês

3.      Noi Ti preghiamo,
Spirito Santo:
questa Tua Chiesa
guida sempre.
Noi T’invochiamo:
sei nostra pace,
festa di vita,
gioia piena. 
R. Em francês

4.      Noi Ti preghiamo,
tu nella prova
sei nostro aiuto:
ci sostieni.
Noi supplichiamo
forza e perdono;
per i tuoi figli
sei conforto. 
R. Em espanhol

5.      Noi Ti preghiamo:
venga il Tuo Regno;
l’umana famiglia
già Ti attende.
In Te speriamo,
Figlio amato,
Signore glorioso
nostra Pasqua. 
R. Em italiano          


quarta-feira, 23 de maio de 2012

A ONU e a ameaça aos Direitos Humanos


Entrevista com mons. Michel Schooyans
Por Alexandre Ribeiro

SÃO PAULO, quinta-feira, 25 de dezembro de 2008 (ZENIT.org). - Quando se celebram os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a maior ameaça ao documento e aos princípios ali proclamados vem da própria entidade que deu vida ao texto: a ONU.
Neste mês de aniversário da Declaração de 1948, Zenit entrevistou mons. Michel Schooyans, renomado especialista em filosofia política e demografia.
Mons. Schooyans é membro da Pontifícia Academia para a Vida, da Pontifícia Academia das Ciências Sociais e professor emérito da Universidade de Lovaina (Bélgica).
–Fale-nos, por favor, do surgimento da Declaração de 1948.
–Mons. Michel Schooyans: A ONU foi criada em 1945 com a carta de São Francisco e, de certa forma, consolidada em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi consolidada na base de uma missão essencial que é a promoção dos direitos de todo ser humano. Todo ser humano tem direito à vida, afirma o artigo terceiro da Declaração. O texto convida todos os homens, países, governantes a reconhecer a dignidade de cada ser humano, qualquer que seja a sua força, a cor da sua pele, a sua religião, idade. Todos merecemos ser reconhecidos simplesmente pelo fato de sermos homens. É sobre esta base, diz a Declaração, que vamos poder construir novas relações internacionais, uma sociedade de paz e de fraternidade.
Se houve a Guerra Mundial que terminou em 1945, é porque houve um desconhecimento da realidade desses seres humanos que, todos, têm direitos inalienáveis e imperecíveis. A Declaração situa-se na continuidade de todas as grandes declarações que marcaram a história política e jurídica das nações ocidentais. Por exemplo, a Declaração da Independência dos Estados Unidos, de 1776, a Constituição dos Estados Unidos de 1787, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, da França, em 1789, são as declarações clássicas. A Declaração de 1948 se situa na tradição mais fiel àquelas Declarações que demonstraram a sua eficácia no campo do reconhecimento e da promoção dos direitos humanos. Esses direitos são reconhecidos em decorrência de uma atitude moral e antropológica. Eu reconheço a realidade do meu semelhante. Eu me inclino na sua presença. Reconheço a sua dignidade. Ainda que ele seja doente, esteja no início ou no final da sua vida, ele tem uma dignidade igual à  minha.
–Que tipo de documento é a Declaração de 1948?
–Mons. Michel Schooyans: A Declaração não é um documento de Direito no sentido técnico da palavra. O documento enuncia os direitos básicos. Mas para que esses direitos básicos sejam colocados em prática, eles necessitam de uma tradução em textos legais. Precisam ser codificados. Devem ser prolongados em instrumentos jurídicos apropriados, no que se chama o direito positivo. Isso significa que os direitos proclamados em 1948 devem se exprimir em leis que serão aplicadas pelos governos das nações e controladas pelo poder judicial. São, portanto, duas coisas: primeiro, o reconhecimento da realidade de seres humanos que têm a mesma dignidade e os mesmo direitos básicos, e, por outro lado, instrumentos jurídicos que dão uma forma concreta, exigível, àqueles direitos reconhecidos como fundamentais.
Quando se trata da Declaração de 1948, convém perceber que os mesmos direitos fundamentais podem dar lugar a codificações diferentes de acordo com as diversas tradições jurídicas dos países. As nações podem traduzir diferentemente o mesmo respeito que elas têm aos direitos fundamentais dos homens.
O que acabamos de evocar é o que se chama a tradição realista. Essa tradição se inclina frente à realidade de seres concretos: você, eu e a universalidade dos seres humanos. Essa mesma tradição comanda todo o edifício das nações democráticas, não só o edifício jurídico, mas o edifício político, que também se baseia no reconhecimento da igual dignidade. Agora, hoje em dia, a Declaração de 1948, que se inspira nítida e explicitamente na tradição realista, e que foi redigida com a colaboração de um dos brasileiros mais ilustres da história, Alceu Amoroso de Lima, está sendo contestada.
–Que tipo de contestação?
–Mons. Michel Schooyans: Uma contestação que vem da influência da teoria positivista do Direito, elaborada sobretudo por um autor chamado Kelsen (1881-1973). Sob a influência de Kelsen, propagou-se uma nova concepção do direito e, portanto, dos direitos humanos. Tudo o que a gente explicou a respeito dos direitos inatos do homem que, por ser homem, tem naturalmente direitos, é contestado. Tudo isso é negado, é colocado entre parênteses, é desprezado e esquecido. Só subsistem as normas jurídicas; só subsiste o direito positivo, barrando toda referência aos direitos que os homens têm naturalmente. Nesse contexto, as determinações jurídicas são a única coisa que merecem estudo e respeito. Agora esses ordenamentos jurídicos, essas disposições lavradas nos Códigos, podem mudar ao sabor de quem tem força para defini-las. São puro produto da vontade de quem tem poder, de quem consegue impor a sua visão do que seja tal ou tal direito humano. De modo que, como salta aos olhos, a visão puramente positivista dos direitos humanos depende finalmente do arbítrio de quem tem a possibilidade de impor a sua concepção própria dos  direitos humanos, já que não há mais nenhuma referência à verdade, concernente à realidade do homem.
–Quais as consequências?
–Mons. Michel Schooyans: São trágicas. O positivismo jurídico abriu e abre o caminho para todas as formas de ditadura. Como o próprio Kelsen dizia, na União Soviética de Stalin havia estado de direito, já que havia leis. Era um ditador, mas ele fazia a lei.  Mas que lei? A lei que era a expressão da  vontade dele, da brutalidade dele. Não tinha referência a direitos que seriam naturais, que seriam objeto de uma verdade à qual a gente adere e que se impõe pelo seu fulgor. A lei no tempo de Stalin era reflexo da vontade do mais forte. Hoje em dia, a lei que permite o aborto, que permite a eutanásia, não é outra coisa. É uma lei que permite que vença a força do mais forte, que diz: já que tal é a minha vontade, nós vamos decidir quem pode ser admitido à existência e quem não pode.
Essa mentalidade entrou em várias agências da ONU. E a ONU hoje em dia está se comportando como uma superpotência global, transnacional, na linha exata de Kelsen. Ele mesmo diz que as leis nacionais, as que conhecemos nos nossos Códigos nacionais, devem ser submetidas à aprovação, validação, de um centro  de poder piramidal. A validez das leis nacionais depende da validade outorgada, concedida pelo poder supranacional aos códigos nacionais, particulares. Isso significa que as nações ficam totalmente alienadas da sua soberania e os seres humanos de sua autonomia. A gente observa isso todos os dias, nas discussões parlamentares. Muitos parlamentos são simplesmente teatros de marionetes que executam determinações vindo de fora, cumprem a vontade de quem impõe suas decisões, eventualmente comprando os votos, através da corrupção.
Isso tudo se passa sob o simulacro da globalização, que merece muito a nossa vigilância. É que, na mentalidade de quem adere a essa concepção puramente positivista do direito, a lei não está a serviço dos homens e da comunidade humana; está apenas a serviço deste ou daquele centro de poder. Este pode ser uma nação como os Estados Unidos, mas pode ser sobretudo a trama das vontades que se aglomeram nas Nações Unidas, apoiadas por numerosas ONGs, e também por algumas sociedades secretas, como a maçonaria. Isso mostra que hoje em dia o direito internacional tende a prevalecer sobre os direitos nacionais, a esmagá-los, pois estão sendo aos poucos desativados. É uma coisa terrível! Estamos assistindo à emergência de um direito internacional tirânico porque puramente positivista, ignorando os direitos humanos inalienáveis proclamados em 1948. E a gente não percebe...
–Um novo tipo de totalitarismo?
–Mons. Michel Schooyans: Sim, porque daqui em diante a soberania das nações é pura fachada. Kelsen explica muito bem isso: o direito internacional, que dita sua lei às nações, deve ser ele mesmo validado, aprovado, pelo topo da pirâmide, pela instância suprema. Vejamos um exemplo: no momento em que estamos falando, há uma discussão na sede das Nações Unidas sobre a introdução ou não do aborto como “novo direito humano”. Seria uma nova versão da Declaração de 1948. Uma modificação calamitosa porque introduziria sub-repticiamente um princípio puramente positivo numa declaração que é antropológica e moral. Ali se colocaria também o direito à eutanásia. Restaria às nações particulares ratificar estes “novos direitos humanos” emanando da instância suprema. Isso significa que, como a referência aos direitos naturais dos homens já teria sido desativada, essa nova Declaração se tornaria um documento de direito puramente positivo, que deveria ser aplicado por todas as nações que aderissem ao novo texto da Declaração ou a algum outro documento similar.
É uma coisa pavorosa o que está quase acontecendo. E vai mais longe. A Corte Penal Internacional, que foi instituída há alguns anos, vai ter como área de competência julgar as nações ou as entidades que se recusarem a reconhecer esses “novos direitos” inventados ou a serem inventados. A Igreja Católica é um dos alvos possíveis dessa Corte Internacional. Já houve quem dissesse há anos que o Papa João Paulo II poderia ter sido intimado a comparecer no Tribunal Internacional por se opor a um “novo direito”, o “direito” da mulher ao aborto. Ameaça semelhante paira sobre Bento XVI. E no domínio da educação é a mesma coisa com a ideologia do gênero. Em virtude de um “novo direito humano”, as pessoas escolheriam o seu gênero, poderiam mudar de gênero. Então o gênero deve ser ensinado nas escolas. É doutrinação ideológica em grande escala, a ponto de quem não subscrever a essa ideologia ser passível de punição por uma corte internacional.
–Discute-se então uma alteração do texto da Declaração?
–Mons. Michel Schooyans: A Declaração de 1948 enuncia princípios fundamentais. São verdades primeiras, fundadoras. Nós reconhecemos esse fato, que o ser humano tem naturalmente direito à vida, à liberdade, à propriedade, a se casar, a se associar, a se exprimir livremente e que tudo isso não decorre da vontade arbitrária dos homens. Mesmo antes de entrar numa sociedade política, organizada, o homem já tem direitos humanos fundamentais. E os direitos precedem a lei. Mas o homem precisa que a sociedade se organize para que esses direitos sejam aplicados, respeitados e que, eventualmente, as infrações sejam reprimidas. Tudo isso está sendo questionado atualmente. Circulam abaixo-assinados. Há um abaixo-assinado a favor do aborto e outro contra. Mas os que mais alto gritam são os partidários da introdução de uma modificação da Declaração de 1948 que alteraria a natureza da Declaração, bem como da própria ONU.
–Isso é fruto unicamente da manipulação do poder ou também de um ‘obscurecimento das consciências’, utilizando uma expressão de Bento XVI?
–Mons. Michel Schooyans: Bento XVI tem motivos dos mais sólidos para insistir no papel e na nobreza da razão. Tudo o que acabamos de discutir são problemas de antropologia e de moral natural. Note-se que a defesa do ser humano não é um privilégio da Igreja; faz parte do patrimônio das grandes tradições morais da humanidade. A necessidade de defender o homem, de reconhecer a dignidade do homem é uma coisa à qual a gente tem acesso através do uso correto da razão. Infelizmente estamos assistindo a uma espécie de perversão da própria razão. A razão é utilizada para ser levada a certas armadilhas dela mesma. O homem é capaz de ser manipulado; é capaz de ser dominado. Em português há uma expressão muito bonita, ao que parece usada no candomblé, para dizer isso: a gente pode ‘fazer a cabeça’ de alguém. É exatamente isso. A razão de um indivíduo ou de um povo pode ser desconectada. E você pode encher a cabeça de alguém com idéias completamente malucas. É o caso do aborto e da eutanásia.
Na Bélgica, o aborto foi criminalizado pela lei em 1867. Quem mandou aprovar essa lei não eram os católicos, mas sim os liberais, que, naquela época, eram mais de tendência maçônica, como até hoje, aliás. Foram eles que fizeram essa lei. Os católicos aprovaram, mas a iniciativa veio dos liberais, então maioritários. Quer dizer que a razão funcionava. A razão deles tinha descoberto que era evidente que o ser humano devia ser protegido antes do nascimento. É uma questão de razão. Os tempos mudaram. Pode-se alterar a capacidade de raciocínio. Hoje assistimos a várias manobras que vão nesse sentido. Há os casos de aborto, de eutanásia, do gênero. Há o problema da homossexualidade: há 30 anos, quem teria pensado em promover um “novo direito” à homossexualidade? A razão humana é capaz de genialidade, mas é também uma faculdade delicada, vulnerável, frágil, uma faculdade que pode ser desmobilizada, hibernada. A pior forma de escravidão é a escravidão mental, a escravidão da razão, que comporta um brinde: o naufrágio da fé, porque não há ato de fé que não seja razoável. Então se você entra naquela confusão mental de dizer que o aborto é um direito, a eutanásia é um direito, você entra num processo que acaba corrompendo não só a sua razão, mas também a sua fé.
________
Sobre o assunto:


PODER GLOBAL E RELIGIÃO UNIVERSAL 

Autor: Juan Claudio Sanahuja

Ficha Técnica:

Editora: Ecclesiae
Idioma: Português (Brasil)
ISBN: 978-85-63160-24-9
Dimensões: 14 x 21cm

Descrição: A crise da Igreja é grave. Tenho a impressão de que não se esconde de ninguém que o cataclismo social – que afeta o respeito à vida humana e à família – tem essa triste situação como causa. Michel Schooyans afirma, sem nenhuma dúvida, que a Nova Ordem Mundial, “do ponto de vista cristão, é o maior perigo que ameaça a Igreja desde a crise ariana do século IV”, quando, nas palavras atribuídas a São Jerônimo, “o mundo dormiu cristão e, com um gemido, acordou ariano”.

(...) Soma-se à atitude vacilante de muitos católicos a ditadura do oliticamente correto, muito mais sutil que as anteriores e que reivindica a cumplicidade da religião, uma religião que por sua vez não pode intervir nem na forma de conduta nem no modo de pensar. A nova ditadura corrompe e envenena as
consciências individuais e falsifica quase todas as esferas da existência umana.

A sociedade e o estado excluíram Deus, e “onde Deus é excluído, a lei da organização criminal toma seu lugar, não importa se de forma descarada ou sutil. Isto começa a tornarse evidente ali onde a eliminação organizada de pessoas inocentes – ainda não nascidas – se reveste de uma aparência de direito, por ter a seu favor a proteção do interesse da maioria”.

http://www.ecclesiae.com.br/Temas-Controversos/Poder-Global-e-Religi%C3%A3o-Universal/flypage.tpl.html

terça-feira, 15 de maio de 2012

Degustação Musical III: Os Mestres Cantores de Nuremberg – Prelúdio – Ato 1º, de Richard Wagner

(todos os textos apresentados sob o tópico Degustação Musical não passam de minha pessoal compreensão e explanação do que aprendi com o músico Sérgio Molina em suas aulas, acrescentando-se algumas reflexões, como resultado da impressão que me fica cada vez que deixo, elevado e tocado, a sala São Paulo).



Bem vindos amigos, bem vindos ao fantástico teatro musical de Richard Wagner! Todos nós já ouvimos falar de Wagner, mas na verdade poucos conhecemos sua obra. De minha parte, sabia ser ele o autor da Cavalgada das Valquírias, utilizada como trilha sonora no filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, quando helicópteros americanos chegam em rasante nos campos de guerra no Vietnã. Além disso, tinha a idéia absurdamente equivocada de que Wagner tinha algo a ver com o nazismo, porque era o compositor predileto de Adolf Hitler. Bobagem.
Então, chega de conversa mole e permitam que eu apresente algo deste grande músico: Richard Wagner.
Como poderíamos esperar, Wagner foi bastante influenciado por Beethoven. Nasceu em 1813, em Leipzig, e faleceu em 1883, em Veneza. Para alguns, Richard foi o último romântico, em alusão ao tipo de composição. No texto sobre o Concerto estudado de Beethoven dei uma imagem simplificada da distinção entre classicismo e romantismo. Pois bem, Wagner pode ser considerado um compositor de tipo romântico, porque sua música atinge diretamente nossas emoções de maneira abrupta, tem contrastes claros, é recorrentemente eufórica, eu diria. Seus contemporâneos são Verdi (nosso próximo maestro a ser saboreado), Liszt, Mendelssohn, Brahms e Mahler.
Wagner dedicou sua vida a escrever óperas. As históricas que conta são grandiosas, repletas de heróis, inspirando-se em novelas de cavalaria, em mitos germânicos e coisas do gênero. Suas principais obras são: Rienzi (1842), O Holandês Voador (1843), Tannhauser (1845), Lohengrin (1850), Tristão e Isolda (1859), Os Mestres Cantores de Nuremberg (1868), a tetralogia O Anel do Niebelungo, que agrega O Ouro do Rêno (1869), A Valquíria (1870), Siegfried (1876) e O Crepúsculo dos Deuses (1876), e por fim Parsifal (1882).
Este texto refere-se aos Mestres Cantores de Nuremberg, feito logo antes da famosa tetralogia. Mas, antes de adentrarmos na peça, deixem-me dizer algo mais.
A história de relacionar Wagner ao nazismo é uma grande besteira. De fato, Hitler teve entre seus admiradores Winifred Wagner, que não era descendente de Wagner, mas sim a viúva de seu filho caçula, Siegfried. Wagner viveu muito antes do nazismo. É verdade que o partido nazista utilizou Wagner como propaganda, para afirmar a superioridade da música alemã frente aos judeus, como Mendelssohn. Nesse contexto, alguns enxergam na obra de Wagner anti-semitismo, o que em minha visão é uma leitura ideológica exagerada.
Em primeiro lugar, é possível fazer outra exegese dos personagens ditos representantes do judaísmo. Segundo, quem ousaria acusar Shakespeare de anti-semitismo apenas porque utilizou uma figura judia como vilão na peça O mercador de Veneza? O preconceito é reforçado porque Wagner escreveu ensaios criticando a cultura judia, como parte do debate que tinha contra seus concorrentes, Mendelssohn, por exemplo.
Mas ocorre que Wagner ao longo de sua vida sempre contou com amigos judeus, e muitos de seus colaboradores eram judeus. Um erro muito comum hoje em dia é julgar um personagem antigo com os olhos de hoje. Qualquer pessoa que tenha feito críticas ao povo judeu é visto como contribuinte do nazismo. Bravata! De acordo com tal linha de pensamento, se no futuro algum facínora comandasse um assassinato em massa de argentinos, os torcedores da amarelinha seriam todos taxados de genocidas.
Eu não sou estudioso de Richard Wagner, nem pretendo ser seu biógrafo, mas acredito que a difamação contra sua pessoa é devida em boa parte à ignorância, ao preconceito, e à cegueira ideológica. Deixemos essa acusação ociosa, e reconheçamos o grande artista alemão, que nos deixou um legado de música, de histórias e de valores cantados nas mais finas notas e acordes.
Pois bem, nossa análise não será sobre a ópera inteira, mas apenas do prelúdio.
É procedimento comum entre os compositores trabalhar o prelúdio ao final. O método faz todo o sentido, porque após ter a obra praticamente completa, o artista faz um breve resumo da história que contará, uma síntese para acostumar os ouvidos, um anúncio do que há de vir, enfim, um prelúdio.
Nem sempre é assim. Outras vezes, o músico pode utilizar o prelúdio como peça autônoma, sem repetir ou, melhor dizendo, sem antecipar o conteúdo posterior. Segundo aprendi, em Lohengrin o prelúdio é algo assim, autônomo.
Mas aqui não. Imaginemos a cena. Munique, 1868: estamos chegando a um teatro em nossa carruagem, nossa dama perfeitamente vestida, falando sobre a vida social das outras madames, ambos ansiosos pela estréia da ópera, bem como por encontrar os conviventes do mundo da arte. Entramos no recinto, retiramos nossa casaca, nosso chapéu, talvez tomemos um drink ao bar, fumamos um charuto, e nos dirigimos para os nossos lugares, cumprimentando cordialmente nossos conhecidos ao longo do caminho.
As cortinas permanecem fechadas. Entra a orquestra, seguida pelo maestro Hans von Bülow, todos aplaudidos efusivamente. E assim começa a música, sem descerrar o véu que esconde ainda os atores. É o momento para nos acostumarmos com o novo ambiente, para pouco-a-pouco sermos transportados para aquele universo de fantasia.
Este prelúdio é assim. Vamos ouvir como que o resumo da ópera. Wagner compôs uma peça repleta de trilhas, com uma simultaneidade de assuntos, camadas sobrepostas, com diversas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Por isso, como já aprendemos antes, é preciso que encontremos aquilo a que nos agarrar, um ponto para nos fixarmos, e de onde então seremos capazes de olhar para o restante: o tema.
Ouçamos pela primeira vez. Pode-se seguir o texto com a música tocando (eu aviso quando é necessário repetir ou ouvir uma parte específica).
A abertura é forte, em tutti orquestral (todos os músicos tocam), apresentando o tema A. As cordas tocam Do maior, seguido de três vezes a nota Sol. Trata-se de uma quarta descendente: Do (tempo) – Sol (tempo) – Sol (meio tempo) – Sol. O caráter é predominantemente rítmico. Reparem nos ataques dos tímpanos (uma espécie de tambor).
Ouçam até 0:36, duas vezes seguidas e depois deixem seguir livremente.
Nós embarcamos na melodia facilmente. Não demora nada para sermos levados para o mundo da música. Note-se que aqui temos um motivo musical bem sucinto, que será explorado depois. Ou seja, temos como que uma célula musical sintética, que pode explorada de várias formas.
Do mesmo que na 5ª sinfonia de Beethoven (pam, pam, pam, paaam), temos também poucas notas em conjunto, mas de caráter acentuadamente rítmico, como já assinalamos. Ou seja, aqui a célula musical criada se insinua mais pelo ritmo.
Isto é feito mediante uma técnica: o uso dos intervalos de quarta. Quero dizer que a distância entre uma nota e outra, isto é, o intervalo – como se fala em música – é de quatro, de quatro notas, obviamente. A música está sendo composta como de células com o mesmo tamanho, que se iniciam em um ponto x e que terminam no ponto x+4.
Assim: uma das vozes (um dos grupos de instrumentos) toca notas descendentes de Do até Sol (Do-Re-Mi-Fa-Sol: entre Do e Sol temos um intervalo de quatro notas). Isto é feito com diversos grupos de notas, sempre com intervalos de quarta.
Como já sabem, não vou me aventurar em dar muitos pitacos técnicos, já que estaria abusando do direito de falar sobre o que não sei. Então, vamos para uma abordagem mais artística, onde o direito de errar é maior, já que não é importante assegurarmos nossa visão como a única ou a melhor, bastando que seja possível e que nos ajude a apreciar melhor a beleza do espetáculo.
Esta peça musical tem uma lógica interna tão bem acabada que se sustenta sozinha. É dizer, o prelúdio podia muito bem ser o movimento de uma sinfonia. Tanto é assim que a Osesp tocou apenas trechos da peça, acompanhando o prelúdio, prescindindo de encenar a ópera inteira.
Neste caso, sendo o prelúdio um típico resumo da ópera, vale a pena sintetizarmos a peça.
Os Mestres Cantores contam a história de Walter, o herói que se apaixona por Eva, a princesa querida por todos. O rei organiza um concurso de canto, e quem o vencer se casará com a princesa Eva.
Vamos ouvir mais uma vez o começo do prelúdio.
Para mim a entrada é simplesmente perfeita, trazendo o clima certo para o início de uma história romântica. Podemos imaginar um vassalo do rei lendo em praça pública o anúncio do concurso, a princesa olhando pela janela da torre, o herói sentindo crescer a força necessária para o desafio.
Mas para concorrer, é preciso ser aceito na confraria dos Mestres Cantores. Walter faz sua apresentação, mas é rejeitado! Dizem que ele é demasiado original...
O herói se lamenta com a derrota tão precoce. Porém, um senhor percebe seu valor e ajudará Walter a entrar no concurso.
O concorrente de Walter é Beckmester, que acaba por espionar o herói, para roubar-lhe a composição. Eu não assisti à ópera inteira, então, meu relato pode estar cheio de imprecisões. Mas como aqui o importante é a arte, e não a fidedignidade, não vou conter minha imaginação.
Pensei em Walter nos bosques próximos, fazendo sua canção (aos 4:05 do vídeo). A canção aqui é justamente nosso tema B (para gravarmos bem este tema, ouçamos pelo menos mais duas vezes o trecho entre 4:05 e 4:20, depois, deixem seguir).
Temos a tensão pela presença do bisbilhoteiro, que deseja roubar a música: vejam aos 5:10. A peça, entretanto, tem graça, e ouvimos vários sons cômicos em seguida, contrastando tensão e comédia.
Nestes momentos de comédia, penso em Beckmester, espertalhão, que cria o maquiavélico plano de roubar a melodia alheia, porém é desastrado, e acaba se dando mal. Ele canta a canção, mas sem densidade, sem verdadeira paixão, sem habilidade (ouçam aos 5:22, é o tema B, mas sem brilho, meio brincalhão).
Aos 6:34, temos uma queda brusca, denotando muita tensão, o clímax. As trompas tocam o tema A. Neste trecho, penso na dúvida se o herói realmente conseguirá competir e ganhar a mão de sua amada.
Desembocamos em seguida na canção de Walter, o tema B, mas agora lindamente apresentado, de forma completa, harmonizando a orquestra inteira (início aos 6:52).
Aos 7:41 se iniciam alguns ataques do tema A. Estes ataques acontecem diversas vezes – 7:46, 7:49 etc. –, seguindo esta mesma forma até 8:01, quando os tímpanos voltam a ressoar, trazendo a marcha inicial da peça.
Aos 8:24 já percebemos que o final do prelúdio está próximo (e o começo da ópera, para os que estão no teatro, se avizinha).
Nosso herói é o vencedor. Ganha o concurso, se casa com a princesa, e o resto vocês já sabem...
Aos 9:18, o tema A é repetido de forma mais solene, um clima mais régio, de coroação. E, finalmente, aos 9:23, o ritmo é reduzido, e aos poucos a orquestra termina.
O mundo de Wagner é assim: nos deixa intensamente comovidos, desejando que este prelúdio realmente faça as cortinas abrirem, e que possamos apreciar todos os detalhes desta ópera do mestre dos mestres.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Do livro "Estrela de Alto Mar", de Guy de Larigaudie (1908 - 1940)

"Um funcionário público pode não passar de um pobre burguês, submedíocre, embrutecido pela burocracia e obnubilado pela promoção e pela esperança de aposentadoria. Mas, se tiver coragem para tanto, poderá também, em seu pobre navio sobrecarregado de papelada e de rotina, caminhar para a Estrela." 

"Há muita gente que vive quase sem pecar. A vida lhes transcorre direitinho no quadro normal da profissão, da família. Agem como Deus determina nas grandes, como nas pequenas coisas. No entanto, são existências comuns, apagadas, sem luz; falta-lhes o amor a Deus. São como lareiras bem construídas, mas sem fogo. São pessoas de bem em vez de serem santos."

"Sonhos demasiado grandes para nossas forças nos pesam, por vezes, sobre os ombros, sonhos de conquistador, de santo ou de descobridor de mundos, sonhos que foram os de um Mermoz, de um Gengiscão ou de um Francisco de Assis. Não devemos desanimar por sermos apenas o que somos. A mais prodigiosa das aventuras é a própria vida, e ela está ao alcance de nossas forças. A ventura muito breve: trinta, cinquenta, oitenta anos talvez que devemos transpor entre dificuldades, equipados como um veleiro a singrar para a estrela do alto mar, _ nosso único refúgio, nossa única esperança. Que importam vendavais, tempestades ou calmarias, desde que haja essa estrela! Sem ela nada nos restaria senão vomitar a própria alma, e destruir-se de desespero. Mas lá está a luz da estrela, e a sua busca, a sua procura faz da vida humana uma aventura mais maravilhosa que a conquista de um mundo ou a trajetória de uma nebulosa. Essa aventura não está acima de nossa capacidade. Basta ir de encontro ao nosso Deus para estarmos à altura do infinito, e isto legitima todos os nossos sonhos."

"Andei passeando através do mundo como num jardim cercado de muros. Levei minha aventura de uma ponta a outra dos cinco continentes e realizei um por um todos os sonhos de minha meninice. O parque da antiga vivenda de Périgord, onde dei meus primeiros passos, alargou-se até os limites da terra e realizei sobre o mapa-mundi a bela aventura da minha vida. No entanto, apenas recuei os muros do jardim, e me sinto sempre numa prisão. Mas dia virá em que poderei cantar um cântico de amor e de alegria. Todas as barreiras se romperão. E possuirei o infinito."