sábado, 7 de julho de 2012

Céu Mineirinho


Sempre a mesma vó, encostada na pia da cozinha, tocando piano no seu fogão. Quintal de acerolas, urubus visitantes, peixe na mina. Primaveras cor maravilha, na garagem de madeira, pé de manguinha fiapenta, folha de loro para molho, goiaba e galinheiro empoeirado, ao lado dos porões. Porão mistério, entre sofás velhos, garrafas de vinho e o estoque do armazém. Esquina, bomba de gasolina, torta doce e o cenário de um beijo, de cujos lábios nasci. Segredos recolhidos sob os paralelepípedos e as pedras portuguesas: sangue, assassinato, fogos de artifício, incêndio, lágrima, escuridão. Festa de São João! Porta de guiana, piso laranja, escadinha de mármore, casa fresca, mesmo em tardes de sol. Vasos de avencas e varas de pescar na lavanderia. O muro é branco e sem nostalgia, pois o amor, como o orvalho, é premente. O portão é verde e o destino é meu. Esta casa de onde um dia parti e para onde regresso. Ouvindo o cheiro quente do café e do bolo de alegria. Na copa as ararutas e as polentas conversam sob a esperança hortelã. A mesma pia, o mesmo fogão cheiroso e a avozinha mineira. Assim me virá o céu: de manhã, saindo do forno e em compotas.    



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