quarta-feira, 29 de junho de 2011

O Senhor dos Anéis: a Sociedade do Anel



Hoje, por volta da hora do almoço, terminei a primeira parte da trilogia do Um Anel.
Está sendo bastante difícil acostumar-me a esta terra daqui, onde máquinas soltando fumaça e fazendo algazarra nos impedem de enxergar bem as árvores e as montanhas, sem contar o escurecer dos rios, doravante malcheirosos, afastando as sagradas melodias dos elfos.
São muitas as diferenças entre a produção de Hollywood e os relatos do livro vermelho.
No filme, Frodo deixa o Condado logo após a partida de Bilbo, e segue para a estalagem do Ponei Saltitante rapidamente, escapando dos Cavaleiros negros pela presteza com que alcançaram uma balsa.
Bem ao contrário do que nos dizem as páginas pintadas, contando passarem-se anos, trinta ou mais, até a partida de Frodo, e os percalços longos e dramáticos até a cidadela de Bri. Achei particularmente curiosa a passagem pela Floresta Velha, onde os Hobbits encontraram o magnífico Tom Bombadil, personagem fantástica, que simplesmente não aparece no filme, ser antigo, mais do que todos que conhecemos, anterior até mesmo ao Senhor do Escuro.
Igualmente, na tela nos foi contado que o descuido dos pequenos, ao acenderem uma fogueira, entregou-lhes a posição aos Reis Adormecidos. Mas não foi assim. Passolargo pediu que fosse acendido fogo, após perceber a iminente chegada dos Negros Cavaleiros, pois não gostavam daquelas chamas.
E a linda Arwen não foi responsável pelo salvamento de Frodo, que foi carregado, na verdade, por um cavalo de Glorfindel, um elfo muito bom, enviado para auxiliá-los. E o Hobbit escapou sozinho, montado ao eqüino dos elfos, que sabia bem o caminho para a Floresta, ficando protegido após passar o rio, que já estava enfeitiçado contra as forças malignas.
Pelo menos no primeiro livro, muitas coisas ditas na película simplesmente não são relatadas. O ataque da Montanha de Caradhras não foi colocado à conta de Saruman, o qual também é delineado de forma mais misteriosa e ambiciosa, pois mantinha em segredo o plano de destronar Sauron posteriormente, e pegar para si o Um Anel. E a criação dos guerreiros negros também não existe na Sociedade do Anel.
Por último, a luta final que encerra heroicamente o primeiro filme não acontece no livro, não neste livro.
Diversas dessemelhanças, ora acréscimos, ora omissões, tudo isto era esperado, mas pelo que vi até aqui, concluo que o filme foi muito bem feito, já que nada do que difere é suficiente para descaracterizar o mundo da Terra Média, retratado de forma fidedigna, ainda que em linguagem e técnica discrepantes.
Cresce em mim a vontade de uma aventura, de relações mais cordiais e respeitosas, solenes até, de testar minhas percepções do bem e do mal, de contemplar os segredos do mundo, e apaziguar os desejos que infestam o coração, para seqüestra-lo às sombras.
Queria ter comigo a Sociedade do Caminho: João, o Augusto, filho da Terra Grande, senhor da calmaria e das águas serenas, com seu porte esguio e sua barba em fogo; Antonio Carlos, guerreiro austero e destemido, mestre do longínquo Oriente, dono dos diversos saberes e guardião da Cidade dos Livros; e Miguel Távola, rei das terras distantes, das canções e dos feitiços, chefe dos ventos que vão e vem à sua voz, comandante da beleza antiga, que se insinua pelos corações e guarda a cabeça dos homens.
O fardo é pesado e longa a jornada. Fico escondido dos vigilantes do Inimigo, esperando chegar a hora da batalha, e sonhando com a amizade dos demais combatentes, rezando para que me encontrem no caminho.

2 comentários:

  1. Pedro inaugura um novo estilo no blog, de degustações... Este é um belo convite à leitura. Deu vontade de também me embrenhar nesta floresta de eufos, feitiços, hobbits, heróis, bem mais interessante que a vida urbana... Uma história que é uma bonita alegoria da vida. Porque por trás dos prédios e dos asfaltos se esconde sempre esta perigosa e misteriosa floresta... Por trás dos papéis e do jeito que inventamos de fazer tudo parecer mais humano... Gostei especialmente de um parágrafo, que é quase um poema, que leio e releio e tem sempre algo mais para apreender: "Cresce em mim a vontade de uma aventura, de relações mais cordiais e respeitosas, solenes até, de testar minhas percepções do bem e do mal, de contemplar os segredos do mundo, e apaziguar os desejos que infestam o coração, para seqüestra-lo às sombras". Além da "Sociedade do Caminho", é claro.

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  2. Maravilhoso o texto! Realmente estou motivado a ler o livro. Pena que ultimamente estou mais para o senhor dos processos.

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