terça-feira, 19 de abril de 2011

Cupim, térmite, térmita, salalé, muchém.


"(...)
Velho burocrata, meu companheiro aqui presente, ninguém nunca fez com que te evadisses, e não és responsável por isso. Construíste tua paz tapando com cimento, como fazem as térmitas, todas as saídas para a luz. Ficaste enroscado em sua segurança burguesa, em tuas rotinas, nos ritos sufocantes de tua vida provinciana; ergueste essa humilde proteção contra os ventos, e as marés, e as estrelas. Não queres te inquietar com os grandes problemas e fizeste um grande esforço para esquecer a tua condição de homem. Não és o habitante de um planeta errante e não lanças perguntas sem solução: és um pequeno-burguês de Toulouse. Ninguém te sacudiu pelos ombros quando ainda era tempo. Agora a argila de que és feito já secou, e endureceu, e nada mais poderá despertar em ti o músico adormecido, ou o poeta, ou o astrônomo que talvez te habitassem.(...)" Saint-Exupéry, Terra dos Homens.

4 comentários:

  1. Será que queremos mesmo ser despertados? O que faremos depois de ter os ombros sacudidos? Para onde iremos depois senão para este mesmo mundo? Será possível conciliar tributos, declarações de renda, posição social com esta abertura tão grande? Será possível casa, filhos, casamento, profissão, sem a pequena-burguesice? Ou será este o mérito apenas dos heróis, dos santos, dos poetas, dos filósofos? Não será mais conveniente a vida dentro do cupinzeiro? Sobreviveríamos do lado de fora?

    ResponderExcluir
  2. O mundo não é o cupinzeiro, buraco inventado. É mais simples estar fora dele. Dá trabalho a sua construção... É que nem sempre ele aparece assim, como casa de cupim. Às vezes somos convencidos a iniciar esta doida empreitada. Mas nunca é tarde, enquanto a argila estiver molhada... Enquanto dermos ouvidos aos poetas e aos santos, que tem esta especial missão de conservar limpo o caminho.

    ResponderExcluir
  3. Vejam o que se passou comigo. Já tentei alertar muitos cupins, mas não ouvem, sequer olham, continuam em sua obstinação doida, construindo aquelas galerias de barro como se fizessem algo importante, e cada vez a toca estufa mais e mais. Algumas vezes, até fui mais audacioso, furei o cupinzeiro, quem sabe estivesse acontecendo algo interessante lá dentro, e qual a minha surpresa? Não havia nada lá, só dezenas de cupins desesperados, isso mesmo, a presença de uma pessoa os alucina, mas que loucura, não? O mero contato da luz os desespera! Mas não é só isso, pouco tempo depois sempre voltei a tais construções, e sempre, absolutamente sempre, elas estavam reconstruídas de forma mais resistente, a convidar o intruso para que desista... E olha que esses insetos sempre me chamaram a atenção, já contratei descupinizações algumas vejas, há empresas especializadas, normalmente lideradas por um senhor mais velho, o estudioso do assunto, ele conhece muitas teses sobre a praga, acredita em uma espécie de apocalipse das térmites, já que as galerias dos bichos são profundíssimas, estão por toda parte, chegam a dominar bairros inteiros de São Paulo, por exemplo. Há até aqueles que além de devorarem a tradicional madeira, papam de tudo, até o concreto das casas e prédios. Realmente, é um fenômeno pouco estudado modernamente, o cupinzeiro é inofensivo, é somente a ponta do iceberg, se forem a fundo no tema verão que se trata de uma ameça a todo o planeta...

    ResponderExcluir
  4. Entrando na conversa, com vossa licença, Miguel. A santidade é para todos há muito tempo, os santos são pessoas normais, só que sempre lutaram para ouvir a Deus, e empreender o que Ele pedia, certamente Ele não pediu só a construção de um cupinzeiro pra ninguém...hahaha Lembro o chamado universal à santidade: "Sede perfeitos como Meu Pai que está nos céus é perfeito". Claro que somos imperfeitos e frágeis como um cupim, basta um pisão e "splaat"... Mas com a graça podemos! Por fim, também acredito em um chamado universal à poesia, mas essa é uma outra estória que aprendi em grande parte com a Adélia Prado...

    ResponderExcluir