quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Testemunho, por Louis Lavelle

Há na vida momentos privilegiados nos quais parece que o universo se ilumina, que nossa vida nos revela sua significação, que nós queremos o destino mesmo que nos coube, como se nós próprios o tivéssemos escolhido. Depois o universo volta a fechar-se: tornamo-nos novamente solitários e miseráveis, já não caminhamos senão tateando por um caminho obscuro onde tudo se torna obstáculo a nossos passos. A sabedoria consiste em conservar a lembrança desses momentos fugidios, em saber fazê-los reviver, em fazer deles a trama da nossa existência cotidiana e, por assim dizer, a morada habitual do nosso espírito.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Poesia e Filosofia

Entrevista de Luiz Jean Lauand com Adélia Prado *

O Olhar: Mirandum e theoria

(...)

LJ : Adélia, você poderia retomar aquela frase que disse, há pouco, sobre o Céu?

AP : Você falou que o que há de comum entre o filósofo e o poeta é o mirandum e isso eu traduzo por miração. E eu acho que é isto mesmo: quando a gente está apaixonado, quando a gente experimenta a paixão, você quer segurar a pessoa e falar: "Fica na minha frente para eu te olhar...". Não precisa nem casar, é só olhar, é só olhar...". Tenho um poema em que eu acho que dei conta de falar isso, "A Terceira via":

Meu espírito - que é o alento de Deus em mim - te deseja
pra fazer não sei o que com você.
Não é beijar, nem abraçar, muito menos casar
e ter um monte de filhos.
Quero você na minha frente, extático
- Francisco e o Serafim, abrasados -,
e eu para todo o sempre
olhando, olhando, olhando...

Então eu acho que o Céu..., quando a gente fala em experiência de mística, da alegria inefável dos santos, isso está no olhar, sabe? Então, você chega no Céu: "agora descansa, pára o mundo que eu vou olhar a face divina!".
Então, nem precisa casar mesmo, pode parar aí, que já está no Céu.
Eu acho que a poesia é isto: porque ela é algo que se mostra, eu acho que a poesia é um fenômeno que realmente escapa ao poeta; ele, coitadinho, é um proletário da coisa, um operariozinho, um operário braçal. Então, há uma coisa, algo, algo, algo quer se mostrar...
Sabe que idéia que eu tenho do Espírito Santo? E tem tudo que ver com o que estamos falando... Eu acho que Deus, Ele tem um desejo de ser visto, sabe, Ele deseja, Ele precisa... É como disse Mestre Eckhart: "Ele precisa de mim...", porque Ele me salvou tanto... Ele deseja ser visto e precisa ser visto. E, para mim, a poesia é isto: aquilo que precisa ser visto, se mostra, naquele momento.


Criação Divina, Participação e Poesia


AP: é o que a gente chama de experiência poética ou momento poético. Então, realmente, é estado de graça, não tem jeito. Eu acho que o fundo da experiência religiosa e da experiência poética - à revelia dos poetas ateus, à revelia desse povo que nega isso; é... à revelia deles, à revelia deles... - que o sagrado se mostra.
É um desejo de prostração que dá na gente, um desejo de adoração: Você quer adorar e você sabe que não é mais aquilo que você tá produzindo, não é o rastro, não é mais a pegada como eu achava antes... Com aquela ânsia..., mas é a coisa que se mostra atrás disso.
Eu tenho um poema inédito que fala isso: "Acácias".


ACÁCIAS

Minha alma quer ver a Deus.
Eu não quero morrer.
Quero amar sem limites
E perdoar a ponto de esquecer-me
Radical, quer dizer pela raiz
O perdão radical gera alegria
Exorciza doenças, mata o medo
Dá poder sobre feras e demônios
Falo. E falo é também membro viril,
Todo léxico é pobre,
Idiomas são pecados;
Poemas, culpas antecipadamente perdoadas
Eis, esta acácia florida gera angústia
Para livrar-me, empenho-me
Em esgotar-lhe a beleza
Beleza importuna,
Magnífica insuficiência,
Porque ainda convoca
O poema perfeito.


O poema, minha Nossa Senhora!..., o que está por trás dele é o que interessa, por isso que não dá para adorar a arte (os adoradores da arte...). A arte..., ela remete, ela remete... A única coisa que não remete é Deus. Deus, Ele não remete a mais nada. E o que você quer? Esta acácia aqui, essa benditinha dessa acácia..., o que é uma acácia florida? é uma coisa tão angustiante, uma coisa bela demais, que você quer morrer pra ter sossego, não é? (risos). Aí você faz um poema pra ver se descansa. Mas, é porque a alma, ela quer realmente adorar, ela quer seu fundamento, não é? A gente quer adorar a Deus, essa é a única coisa..., eu acho que a gente nasceu só pra isso...

LJ : E qual o papel da Criação. Você diz, em um dos títulos: "Tudo que sinto esbarra em Deus", seria o conceito de participação em S. Tomás?

AP : Eu acho que é isso sim. Eu acho que dá na mesma, mas eu digo expressão. Porque arte para mim - para mim, não! Que bobagem falar isto! - arte é pura expressão, o discurso dela é só expressivo... Ele não é político, ele não é religioso... (...) Mas o que você estava falando da participação, para mim é assim: algo - esse algo eu vou chamar de Deus - Ele quer se mostrar. Ele quer mostrar-se, Ele quer ser mirado. Então, uma das formas mais perfeitas, eu acho que aí há uma coisa de uma liberdade inaudita, que é o espaço da criação artística (que é onde você põe vaca roxa, põe acácia chorando, sei lá o que...).
Mas, então, é isso: é o terreno, para mim, da fé, que é a coisa mais livre que tem. É o "Curvai-vos!" se você não se curvar, você não fica livre. É aí. É aí, é na poesia, é na arte, mas vamos falar em poesia, porque é o nosso caso...
Então, eu vejo assim, as coisas como manifestação - até a cadeira de plástico (Adélia aponta para uma cadeira de plástico), ela manifesta. Manifesta, manifesta, manifesta, manifesta... E o homem faz o mundo (isso é uma idéia que me ocorreu no outro dia) o homem é criador, mas às avessas... Você veja, eu estava vendo um robô ontem, um robô francês, vendo na televisão, aquela parafernália, quer dizer, é o não-simples. É engraçado, o homem cria, mas é uma não-simplicidade; você fala: "Nossa, que computador complexo!" você fica maravilhado com a complexidade, enquanto que a criação divina é o avesso: é o simples, não é? Mas enfim são formas diversas, eu acho, da divindade e da manifestação: Deus precisa disto para que Ele se manifeste, para que a consciência ecloda em seu nível crença...


Ainda a Criação


LJ : Como pode haver um poeta ateu?

AP : Mas isso é uma contradição em termos, meu Jesus!, não é? é cada tombo que as pessoas levam. Engraçado, que os próprios poetas engajados e que advogam essa autonomia de seu poder sobre a escrita caem numa contradição maravilhosa, através das próprias obras que são melhores que eles. Porque o livro tem que ser melhor do que eu, senão ele não vale nada. O livro tem que ser melhor do que eu, a hora em que ele for igual a mim, eu tenho que ficar caladinha, quer dizer, cheguei à santidade, que é o que a gente, acho, deve querer, né? A gente diz: "Porque o meu livro..., porque o meu livro isso..., porque o meu livro aquilo..." e não é assim, se fosse assim, eu falava: "Hoje eu vou escrever um poema perfeito" e... não é assim... A coisa deseja ser vista, então é uma graça mesmo, é pura visão, é... não-lógica.

LJ : Na verdade um tema constante na sua poesia, constante também em S. Tomás é o de que a criação tem dois pólos: por um lado é participação do ser, do bem, da beleza de Deus; por outro, saiu do nada...

AP : Saiu do nada, sim, sim!

LJ : Por isso, Josef Pieper tem um capítulo fantástico, descrevendo a atitude diante da Criação, intitulado: "Psicose Maníaco-Depressiva".

AP : Sim , concordo plenamente... Porque a coisa mais difícil é achar que eu não sou Deus... Porque na hora que você cai nisso, você diz: ou eu sou criatura ou eu não sou! (...) Isso vai muito dentro de uma coisa que você falou e que me alegrou muito: é uma coisa com relação ao sagrado: eu não faço poesia religiosa, num sentido que muita gente entende equivocadamente. O fato é que é a poesia é que é religiosa, ela é sagrada (é aquilo que a gente estava falando antes), então esses registros de natureza religiosa, confessional, são coisas da história da biografia do autor, que nada tem que ver, não é?
Ela, em si mesma, é sagrada. Eu vi um poema de Alceu, que é pagão, anterior a Cristo e é igualzinho ao poema "No éter", que eu escrevi. Foi uma das maiores emoções que eu tive... O poema "No éter" fala daquela hora da tarde, daquela hora em que as coisas reverberam... Eu fiquei assustadíssima.
Quer dizer, é uma coisa só, o sujeito é pré-cristão, pagão, e está falando a mesma coisa que eu. Então há essa origem sagrada, não é? E com o amor é a mesma coisa, esse amorzinho nosso, essa peleja que é o sexo, porque é uma peleja, é tão discursivo, não é? Tem hora que eu fico...Que canseira... Dormir com outra pessoa é complicado demais... toda a discursividade do corpo, a miserabilidade do corpo, meu Deus! Então, eu vejo assim, quando eu estou falando de amor eu estou falando só de amor e em sua forma humana ele é discursivo, precário, mas é, em sua essência, bodas celestes.

LJ : Que quer dizer com "discursivo"?

AP : Discursivo é aquilo que não se exime de palavras... A poesia não pode ser discurso, ela não fala a respeito de... ou ela é a coisa ou ela não é poesia. Isto é, um poema sobre a rosa tem que ser a rosa, não pode pegar e falar: "Olha tô falando sobre a rosa...": aí não é poesia mais, não! Então o poema, a diferença dele com outro discurso é que ele não é discurso. Ou: é um discurso não-discursivo... Esse amor humano, também ele é discursivo, enquanto processo, mas na sua essência... quando eu amo uma pessoa eu quero só olhar para ela, meu maior desejo é olhar... humanamente até, mas ele exige mais, ele exige uma humildade danada...


Filosofia, poesia e o realismo do cotidiano


LJ : Num projeto de mestrado que dirijo, estamos colocando lado a lado citações de Josef Pieper e de Adélia Prado. Por exemplo, o fato de ambos terem seu ponto de partida na admiração...

AP : O mirandum.

LJ : ...é uma palavra chave...

AP : é, é, é ...

LJ : ... e contemplação, mistério, porque o mundo foi feito pelo Verbo, pelo Logos então ele é "demais para a nossa cabeça"...

AP : "Os céus narram a glória de Deus", é demais, não é?...

LJ : ...e isto tudo em e a partir de uma realidade quotidiana...

AP : Claro... uma graminha pelejando para nascer na greta do muro... que coisa mais absurda e fenomenal!

LJ : Gosto demais de seu verso: "Tudo é Bíblias"

AP : Tudo é grande sertão!

LJ : Realidade quotidiana enquanto maravilhamento?

AP : Eu fui, digamos, classificada, muitas vezes, como uma dona de casa que faz poesia. Quando Bagagem saiu, em 1976, eu ouvia: "O que? uma dona de casa, você faz as coisas em casa mesmo? você tem filhos? Ah é? Que coisa, hein? Pois é...". Então ficou mais ou menos assim: "ela fala do cotidiano, sabe?". Mas, onde é que estão os grandes temas? Para mim, aí é que está o grande equívoco. O grande tema é o real, o real; o real é o grande tema. E onde é que nós temos o real? é na cena quotidiana.
Todo mundo só tem o cotidiano e não tem outra coisa. Eu tenho este corpo que eu carrego (ou ele me carrega... o burro) (1) e a vidinha de todo dia com suas necessidades mais primárias e irreprimíveis. É nisso que a metafísica pisca para mim (risos) e a coisa da transcendência: quer dizer: a transcendência mora, pousa nas coisas... está pousada ou está encarnada nas coisas. Então não há o que dizer: não adianta você querer escolher grandes temas; é o grande tema que escolhe, isso é um lugar comum, todo autor fala disso, mas realmente é assim: você é escolhido... Que que é o grande tema? é o real. E o real configurado no amor, na morte, nas mais diversas paixões que nos habitam e nas virtudes também. Então eu não vejo onde é que eu busco poesia... ela já está - o Reino já está no meio de vós... - é isso aí...

LJ : A inspiração, como vem? Por que essa realidade quotidiana às vezes se mostra como maravilhamento e outras vezes como mera realidade opaca?

AP : Quando ela é realidade opaca é aquilo do meu verso "De vez em quando, Deus me tira a poesia e eu olho pedras e vejo pedra mesmo..." ("Ausência da Poesia"). Outro dia - eu achei fantástico! - um comentarista de futebol fez uma crônica e me citou - eu me senti tão importante... Ele, falando sobre a seleção brasileira (2), disse: "é como diz Adélia Prado: 'Eu olho Dunga e vejo Dunga mesmo'" (risos). Eu achei legal, fez o maior sucesso lá em casa, todos gostaram... Vê-se que ele entendeu o poema...



* Publicada na Revista Eletrônica Videtur, nº 9 - http://www.hottopos.com.br/videtur9/renlaoan.htm [volta]



(1) Alusão a S. Francisco de Assis, que chamava o corpo de "o burro". [volta]

(2) A entrevista ocorreu antes do tetra-campeonato, num momento em que a seleção (e, particularmente, Dunga e Zinho) sofria duras críticas por parte da imprensa futebolística.

A melhor coisa do mundo

_ Diga, Miguelzinho, o que há de melhor neste mundo?
_ A melhor coisa do mundo eu já sei! É comer bolo de fubá com café, uh – rapaz!
_ E você, João – o Augusto, algum palpite?
_ Olha, nada melhor do que uma boa poesia, lida na pescaria.
_ Toninho, sugere algo melhor?
_ Ô, meu amigo, a melhor coisa do mundo é estar com os amigos.
_ (Todos) Agora você, Pedrinho!
_ De tudo que tem no mundo, a melhor coisa é comer bolo de fubá com café, lendo uma boa poesia, junto com vocês, meus amigos.

sábado, 17 de outubro de 2009

Prosa à Riobaldo do Sertão: Veredas da Grande Cidade (com a licença... sem pretensão e sem ofensa)

Essa coisa que a gente sempre está buscando... Sempre se esgotando aquela alegriazinha de viver... Dois tapa dá revolta do mundo de novo. Contrariedades tanta. Não adianta. Ora feliz, na hora seguinte tristeza, neste mundão! Não tem jeito... Em tempos assim, de dificuldade. Não tem como o juntado dinheiro dos outros... O caro do trabalho barato. Coisas sem explicação. Sorte de quem conhece o trabalho que tem mais precisão. Ofício bom é ofício necessitado! Quem não precisa por natural, deixa que alguém inventa de necessitar. E logo sai a cabritada atrás do que se inventou. Inventor safado! Engana necessidades, brinca de coisa séria que não se deve, coisa que só Deus é que é feito de fazer. A verdadeira precisão. E penso e digo que nada não adianta ler trecho de livro sem saber o que veio antes... Depois isso é que dá briga de deuses... Querem que leia só parte da bíblia-o-livro-sagrado, e vem querer colocar idéia na minha cabeça. Discordo. Antes veio muito mais nas páginas. Para se obter de idéias é preciso ler tudo, interpretar segundo inteireza de tudo. Senão coloca qualquer coisa no lugar e se acredita. E tem de pôr cada página no chão, assentar firme na face do real. A verdadeira precisão. Fé burra! Fé sangrenta, sem dó, sem razão alguma! Antes a descrendice. Que tudo leva aos certos de Deus, já dizia a senhora lá das bandas de Divinópolis, a mineira Adélia, fazendo pouco do que-não-se-diga. Pior que não-fé é a fé-inabalável. Insuportável. Tem de deixar vir o natural, tudo descobrindo, o misterioso de tudo. Desconfiado. A vida ajuda, não tem jeito. Nem ninguém foge, nem atalho passo curto na mata. É sempre o igual caminho meu, seu, de qualquer cabra, homem ou mulher. Viver é muito perigoso. Causa disso que eu digo e repito: pai pra filho é asa e raiz!

E tem mais essa mania que agora a gente tem de querer arranjar tudo em leis. É qualquer bobagenzinha, qualquer probleminha à toa, do mais trivial, sempre tem alguém querendo levantar solução escrevendo o proibido e o permitido em letras de jurista. Não que seja de todo equivocado, é bom que se diga, no meu curto entendimento, que se ponha claro e em bom português declarado, o regramento básico do conviver de uma gente de uma terra. Isto é o essencial. Já que o velho costume soprado em berço e prosa se alarga demasiado, não dando conta de todo recado. De modo que cabe bem a existência do texto escrito e do martelo oficial, para quando dois não derem liga por vontade, ao menos se dê a gosto do resto do povo. Que ninguém quer briga se prolongando em duelo e rixa de parentes, desgraça boba e profunda, causadora perpétua de mortes e tristezas. Afinal das contas, tudo é que serve a encontrar um bom jeito de conviver melhor, senão em felicidade plena, ao menos em tragédia compartilhada. Porque tem coisas que regramento nenhum humano dá conta de findar. Viver é muito perigoso.

Mas voltando ao colóquio, a prosa de endireitar. Que mania besta é esta, alguém ache explicação, de pensar o bicho homem que tem cabimento querer tudo controlar, assim escrito em papel e ordem de mandar, tudo ao juiz ordeiro, com caneta e toga, capaz de organizar a bagunça mestra. Eta bobagem! Eta ilusão! Mais vale uma ordem bem dada e obedecida, que cem ordens cantadas ao vento, já dizia meu compadre meu. Vento não cria autoridade. Dá no máximo ventania. E se é certo que passou de três homens (e se ainda houver mulher no meio) já se faz necessário um combinar de regras e um que as faça cumprir, não é menos verdade, nem mais mentira, que homem não é burro (ou não costuma ser) e não vai obedecer ordem dada frouxa.

Porque é evidente, todo mundo vê, todo mundo sabe. Dá vergonha de aceitar. Mas é quando mais um homem precisa de lei é quando mais ele quer estar fora dela, doido para ninguém perceber, ligeiro! Na frouxidão é que ele escapa, e de resto escapa todo regrar. Assim desacreditada é que ninguém mais pega de obedecer. Um contando ao outro um jeitinho atalho de esperteza. A regra o homem faz, a regra o próprio homem quebra. Causa disso é que é preciso criar norma forte, razoável, que não apeia, não apeia... Deixa viver à vontade. Mas quando bate na cerca do limite, age! E nisso é infalível! Nisso ninguém escapa! O resto... O resto a gente deixa para o coração partido, para o arrepender, para a expiação da verdadeira culpa. Deixa para mãe debruçar em berço, para chinelada de pai, pra seio de família. Para olho feio de vizinho, pra bengala de vó, pra conselho de amigo. O resto.

Só talvez, pois sabe lá o certo, quem sabe? Possa dá jeito de existir um gostoso viver. Porque com o homem é assim. Tem necessidade acreditar, desconfiando. Mas não basta só o desconfiar. Nem só acreditando. Dá chance pro menino! Mas põe as rédeas no lugar. Pro puxar necessário, o coice leve e bom. A pequenina força bruta. Com jeito. No corriqueiro, no dia-a-dia, no normal-trivial, uma soltura que dá gosto apreciar! A construção! A caminhança! Eta homem bom! Mundo bom! Vida boa!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Be Yourself!

É preciso que, em primeiro lugar, tudo tenha um tom de divertimento, que tudo sirva, primordialmente, à distração. Das conversas de botequim, aos textos de jornais e revistas, passando por seminários universitários, palestras, congressos ou a mera roda de amigos. A ordem é uma só: é veladamente proibido ser sério ou, pior ainda, ser triste. Nada que diga respeito, é bom destacar, a arte da ironia ou do humor. Não se chega a tal sofisticação. Afinal de contas, isto já seria levar as coisas a sério demais. A vida foi feita para ser gozada, este o lema principal. O importante é ser feliz! Não caia na besteira de desfilar ideais, hoje é o tempo do fim das utopias e para estar na moda é preciso ser cético.
O ceticismo é quase um fetiche. E para ser realmente moderno deve ser acompanhado de uma roupa bem transada, do tipo calças xadrez com cintura baixa, saias indianas, camisas personalizadas, acessórios com ares artesanais, tênis do tipo “all star” e, principalmente, um belo par de óculos, de preferência com armação destacada e escura. Tenha uma variedade de óculos à disposição, é muito bom variar, isto demonstra personalidade e lhe oferece um “quê” intelectual. Ao sentar-se, cruze as pernas, seja homem ou mulher e jamais, jamais, demonstre desconhecimento sobre nenhum assunto. Sempre há um “Interessante...”; um “Curioso...”, para lhe salvar (a dica é utilizá-los juntamente com a mão segurando o queixo e o olhar expressivo). Cinema brasileiro, sertão nordestino, nietzche, pós-modernidade, filosofia grega, complexidade, revolução cultural, sustentabilidade, tudo isso é muito chique. Não deixe de freqüentar feirinhas livres em bairros estratégicos da cidade. Nestes lugares encontrará uma série de dicas de boas maneiras. O rústico combinado com o artesanato fazem qualquer um ficar de quatro.
Mas é claro que tudo isto dependerá da tribo ao qual você pertença. Porque em alguns lugares você pode ser muito mal visto comportando-se assim. É importantíssimo fazer parte de uma tribo e há várias a escolher, ao gosto do freguês. Afinal de contas, numa cidade tão bagunçada, tão múltipla, a gente tem que se encontrar. Piercings e tatuagens podem ser uma boa dica para aproximação, porque são vários os grupos que comungam desta mesma filosofia. Se você é do tipo malhação, por exemplo, uma bela tatuagem sobre o tríceps leva qualquer mulher à loucura. Se for mais fraquinho, do tipo alternativo, faça nas costas, por exemplo. Já para as mulheres, a tradicional tatoo no tornozelo ou na nuca faz qualquer um pirar. Piercing na língua já é mais radical, se for este o seu objetivo. A tradição sugere no umbigo ou no supercílio, e com isto já está garantida a sua participação no que há de mais moderno. Existem também as tribos das bandas de músicas: emos, punks, roqueiros e, claro, os eletrônicos. Tem para todo gosto! Os moderninhos gostam mesmo de samba e bossa nova na vila ou, no máximo, uma musiquinha experimental em algum inferninho da augusta. Os moderníssimos freqüentam raves e se esbaldam com a batida eletrônica. Tudo liberado! Os nostálgicos andam de motos harley em festivais de motoqueiros, regados a muito rock´n roll, jaquetas de couro, barbas compridas e cabelos ao vento. Definitivamente fora de moda, herdeiros da juventude transviada, rebeldes sem causa. Mas deixemos de lado a descrição minuciosa das tribos. O importante é fazer parte de uma delas. Ah! E independentemente da que você escolher: faça academia, seja você mesmo, compre logo um carro (ou moto) e desencane, a vida é para curtir!
Uma dica imprescindível para ser moderno é saber conjugar diálogos em rodas de seres humanos, no denominado jogo social. Numa roda de amigos não pode faltar a tríade carro, mulher e futebol. Use e abuse dos três e será considerado da turma. O coringão, o verdão, o jogão, a seleção, o golaço, o ronaldinho, o robinho, o serginho, o murici. O bundão, que peitão, que tesão, ah lá em casa, gostosa! Que carrão! Na dúvida, reclame do seu time, fale mal do time do outro, elogie a mocinha gostosa da novela das oito e não deixe de comentar o custo/benefício em quilômetros por litro no desempenho do seu automóvel. Isto garante um bom diálogo. Sempre regado a churrasco e muita, muita cerveja! Só alegria!
Na roda feminina, não pode faltar uma boa fofoca, o que exige estar bem informada quanto à vida alheia. Se não estiver, não se arrisque, garanta informações do mundo das celebridades (a televisão a ajudará), o que pode garantir divertimento certo na roda. Comente sempre a roupa das colegas, em geral para criticá-las, uma vez que falar bem nunca gera o mesmo efeito. Saiba elogiar as que estiverem próximas, isso garante algum sossego. Novelas é um assunto bem light, é riso certo! Sempre tenha uma nova dieta em mãos e comente-a em momentos de emergência, é uma arma preciosa. Nem é preciso destacar a necessidade de estar em regime constante, nada é tão moderno no mundo feminino, emagrecer é uma ordem! Cabeleireiras, depiladoras, creminhos, receitas novas, tudo vai bem na descontraída conversa. Seja moderna mulher! Tenha postura, opinião própria, priorize a sua profissão, esteja sempre bela, faça academia, tenha filhos lindos e escolha um maridão. E cuide dos seus peitos, os silicones foram inventados para isso! Mas não se esqueça que é moderníssimo fazer correr o antigo marido, dar uma recalchutada no cirurgião, se o caso, e partir para a conquista da sua independência. Nada é mais excitante do que uma mulher bem resolvida, no seu carrão comprado com a pensão alimentícia, pronta para divertir-se em algum clube de divorciados. A alegria é para todos! Pare de sofrer! Você mulher! Queime o sutiã e dê seu grito de liberdade! A Lei Maria da Penha está junto de você!
Desculpem os homens, excedi-me no universo feminino. Você meu caro, tem tudo a seu favor. Não saia da academia, eu insisto. Esteja sempre queimadão, não esqueça das roupas transadas, é preciso variar. Se for cinquentão, compre o seu conversível, você merece. Se mais novo, contente-se com o seu golzinho. Mas tenha carro, mande flores, freqüente motéis e nunca se esqueça de ter uma amante. Nem que seja de mentirinha, só para contar papo na roda dos amigos. Exagere nos detalhes, nas posições, vibre com a quantidade de gracinhas que você traçou no último verão e seja um homem moderno, por favor!
É bom destacar também, que os modernos de verdade já não enxergam mais a questão de gênero de modo tão simplista. Afinal de contas, em tudo é preciso inserir um terceiro elemento, a terceira via, o “tertio gens”. Devo tomar cuidado para adentrar nesta seaara, porque neste âmbito costuma haver uma radicalidade maior no politicamente correto. É que nos últimos tempos tornou-se muito desejável que se tenha uma postura bastante liberal no quesito opção sexual (a utilização da palavra “opção” é essencial quando o assunto é sexo), a ponto de haver construções do tipo pansexualistas. Hoje já se fala em inúmeros sexos, superando a já ultrapassada teoria dos dois sexos. Portanto, se você é realmente irreverente, contemporâneo e sem preconceitos, assuma uma opção (insisto em “opção”) sexual mais abrangente e navegue pelo maravilhoso mar da diversidade.
Aliás, num mundo tão múltiplo (multiplicidade é uma palavra da moda, assim como minoria, globalização, tendência e outras do gênero, use e abuse!) é importante ter opinião. Nada é tão essencial quanto opinar, e opinar criticamente. Afinal de contas, num mundo democrático todo mundo pode ter opinião e tem o direito de que ela seja levada em consideração (porque tudo é uma questão de opinião, e opinião cada um tem a sua). Usufrua da democracia, ela foi feita para você! Treine em casa técnicas para expor o seu “acho” onde quer que esteja. É preciso ser incisivo, pois muitas vezes é difícil conquistar um espaço num ambiente tão competitivo. Levante os braços, fale mais alto, mais grosso, invente, à sua maneira, um jeito de se impor. Se imponha, mostre personalidade, tenha algumas frases de efeito em mãos, decore frases de autores famosos, de gurus importantes e solte-as na primeira oportunidade. As atenções serão todas voltadas a você, e você será o grande articulador do diálogo. É preciso ter uma postura autônoma para conseguir este proveito, estar com a auto-estima em dia. Faça as pazes com o seu espelho, encontre o seu eu interior, construa a sua felicidade, lute pela vida, não espere nada de ninguém!
Uma característica que cai muito bem na pessoa moderna é estar associada a alguma organização não governamental. Esta é uma “tetéia” que não pode ser deixada de lado. A filiação a alguma entidade deste tipo pode garantir-lhe um futuro promissor. Ao apresentar-se, por exemplo, você em seguida comenta a sua participação em uma ONG (esta é a forma mais íntima com que costumam denominar estas entidades), seja de proteção ambiental, consumo consciente, conscientização sobre qualquer assunto ou defesa de algum direito. Sempre se lembre de falar em cidadania, isto é realmente fundamental. E tenha sempre um discurso sobre a defesa dos direitos em mãos, não importa que direitos sejam, mas defenda-os (juntamente com a conscientização, é claro). Os olhos dos futuros chefes ou mesmo de futuros amantes vão brilhar. Você será visto como alguém solidário, com responsabilidade social, e chique, chique, chique de doer!
Para os mais ousados, funde uma ONG você mesmo! E ao se apresentar, puxe um cartãozinho de visita (cartões de visita são instrumentos essenciais para a construção de sua rede social, o chamado network, imprescindível construir o seu. E comece já! Toda pessoa é uma oportunidade em potencial! Nunca se esqueça disso!). Voltando à apresentação... Puxe o seu cartão, não o profissional, mas o socialmente correto, este abre portas. E nele estará seu nome, central, com o símbolo coloridinho e caprichado que o designer lhe preparou com tanto amor e embaixo do seu nome a designação: “manager”, “chairman” ou CEO. Ah! Eles já são todos seus (o (a) chefe ou a (o) amante).
É importantíssimo aprender a fazer um bom currículo e saber apresentar-se diante do entrevistador. Acompanhe as dicas do headhunter mais próximo, ele pode te ajudar. Sempre sorria, seja dinâmico, criativo, tenha espírito de liderança! São características valorizadas pelo mercado. Você tem que saber se vender. A competição está acirrada, se você não souber fazer isso por você, quem poderá?! Não se esqueça que a propaganda é tudo e o produto é você. Use e abuse de expressões em inglês, o mundo corporativo vai ao delírio com elas. Network, staff, companie, CEO, business, brain storm, e-commerce, trade, delivery, etc. Seja pró-ativo, tenha sempre uma estratégia em mãos, quebre todos os paradigmas, agregue novos valores, esteja comprometido com a qualidade, e nunca, nunca se esqueça: o cliente é o rei! Na reunião da sua equipe, nunca se esqueça de soltar frases de efeito, do tipo: “É fundamental ressaltar que a atual estrutura de organização contribui para a correta determinação do nosso sistema de formação de quadros”. Ou “Não podemos esquecer que o início do programa de formação de atitudes auxilia a preparação e a estruturação das nossas metas financeiras e administrativas”. E outras neste sentido, ainda que nem você mesmo saiba o que quer dizer com elas. O importante é que elas causem impacto e que afinal garantam que você participe do debate. Aqui, mais do que nunca, é preciso ter personalidade e opinião (pró-ativo, lembra?).
Ainda falando do mundo corporativo, mas não restrito a eles, a grande novidade do mundo moderno são as palestras motivacionais. As palestras de modo geral são algo que encantam muito as pessoas e se você quer realmente crescer profissionalmente, torne-se um palestrante. Mas vamos nos ater mais especificamente a um ramo deste mercado. O ramo da auto-ajuda, em palestras e livros. Sempre tenha um vídeo motivacional às suas mãos. Assista-o antes de uma entrevista, antes de uma reunião importante, quando o seu casamento estiver em crise ou se seu filho estiver usando drogas. Ela certamente vai te ajudar! Quantos aos livros, o grande segredo é partir de alguma teoria tradicional e adaptá-la a linguagem e as necessidades atuais. Há clássicos, do tipo “A arte da guerra”, que já foram adaptados para centenas de utilidades. Descubra o seu clássico (definitivamente dê preferência para os orientais!). Livros como “Quem mexeu no meu queijo”, “O Monge e o Executivo”, e tantos outros, fazem a febre mundial e, portanto, é preciso conhecê-los de perto. Infelizmente os norte-americanos levam grande vantagem neste quesito, porque basta o nome estrangeiro para garantir um grande sucesso neste ramo. Mas nada que o empeça, é verdade, de realizar algum curso no exterior e chegando aqui não se esqueça de destacar na capa de seu livro ou na frente do folder da sua palestra: “visiting scholar university of”, isto deve resolver o problema.
Aliás, a última moda no mundo de hoje é viagem internacional (internacional também é uma daquelas palavras que causam frisson. Sempre que puder, já sabe, use e abuse!). Esqueça as viagens pelo Brasil, nada mais old fashioned. Se puder passe mais de um mês fora. Um ano é o delírio geral. Intercâmbio em casa de família é “o que há”! Se for de mochila, então, sucesso garantido em qualquer espaço. Coloque no currículo. Demonstra coragem, espírito esportivo, empreendorismo. Mostra que você é descolado e alternativo. Fantástico! O top do top!, como diria uma tia. Não deixe de fazer uma baladinha de despedida (Se for viajar para os Estados Unidos batize-a de “going away party”, fica muito mais especial), e outra quando chegar, de boas-vindas. E, claro, conte a sua experiência. Putz! Nada é tão valorizado hoje em dia quanto a experiência pessoal. Um homem sem experiência é um homem sem espaço. É necessário vivenciar, aproveitar o momento, ser experiente, para contar tudo depois. Compartilhe as suas experiências! Escreva um livro ou artigos para o jornal da sua cidade. E registre tudo em muitas fotos, mais de mil, faça poses, escolha cenários, é o tempo das máquinas digitais. Qualquer um pode ser um fotógrafo. Seja você também!
Poderia citar, ainda, algumas dicas menores, que isto já está cansando. Por exemplo, faça comentários sobre notícias trágicas, sempre reclame do governo, fale mal do presidente e do senado. Leia jornais, revistas, assista noticiários, assine a CNN, se informe! A informação é a maior ferramenta de poder que se pode ter. Num mundo tão dinâmico, em constante mudança, é preciso manter-se atualizado sobre tudo. Também freqüente shopping centers, para atualizar-se com as novidades do mercado. Nada pode ser tão moderno quanto passar uma tarde peregrinando pelos corredores cheio de lojas e no final do dia pegar um cineminha com um balde de pipoca (se estiver acompanhado compre um só, seja romântico... Pense nos dois dividindo um balde só... Que delícia!). Procure promoções novas para contá-las depois aos amigos, demonstra bastante esperteza e agilidade. Mas é claro, sempre diga que você aproveitou o preço baixo e, principalmente, que era o último dia do saldão. Mas não deixe de comprar coisas caras e exclusivas, isto é que garantirá a sua dignidade diante do grupo. Depois você exibe a sua peça única, aquela que ninguém mais poderá ter. Conte vantagens! Mostre que você saiu na frente, economizou, fez um ótimo negócio! É importantíssimo ser um bom negociante no mundo de hoje.
No mais, seja ecológico, jogue lixo no lixo, fale mal dos Estados Unidos (em nome da América Latina) e namore artistas e jogadores de futebol (já pensou que chique você contar para o seu amigo que está pegando uma artista plástica ou uma atriz de teatro? Eles vão morrer de inveja!). Pense em prestar um concurso público. Ainda não encontrou o seu? Há vários editais disponíveis no mercado. Ache o cursinho preparatório que se encaixe no seu perfil. Tenha perfil! Eles garantirão o seu futuro, a sua estabilidade e a sua conta bancária. O mercado está muito exigente e desumano, arrume um cargo. As profissões liberais são coisas do passado. Com o Estado cada vez mais forte e atuante, mais participativo na vida social, nada melhor que nos aliarmos a ele na construção de um mundo melhor! (mas não sonhe muito, lembre que é preciso manter uma boa dose de ceticismo). Também é sabido que das tetas do governo ninguém te tira. Uma vez mamando, sempre mamando (que ninguém é de ferro!). Depois é só relaxar e curtir as férias prolongadas, com muito churrasco e cerveja, claro! A sua hora vai chegar! Não desista! Seja um brasileiro, que não desiste nunca!
Faça um blog. Orkut, facebook e twitter são para adolecentes mimados que não tem o que fazer, ou para gente barata que quer se promover. Gente grande faz blog, entra para o mundo da blogosfera. É chiquérrimo!, como diria uma madame professora. No blog você se expressa, entendeu? Você é mais você, você se encontra e, claro, dá a sua opinião. Portanto, nada mais moderno do que fazer um blog. Encha-o com frases de famosos, figuras bonitas, paisagens, isto tudo casa muito bem. Seja criativo, demonstre personalidade! O espaço e seu e é gratuito! Se esbalde! Conte para os amigos, troque endereços, a internet é uma maravilha! Moderníssima!
E jamais se esqueça dos tradicionais e-mails, a comunicação mais contemporânea que existe. Mantenha uma constante correspondência virtual. Além dos recados triviais, nunca se esqueça de compartilhar com os seus colegas aqueles lindos e-mails com apresentações de slides no power point, inspiradíssimos e de muito bom gosto. Aliás, seja ousado, faça você mesmo a sua apresentação, com uma mensagem bem especial. Isto alegrará o dia de todos e os fará lembrar que você é um homem (ou uma mulher) espiritualizado, sensível e que se preocupa com o próximo. Mas varie com e-mails de piadinhas, as mais diversas, para que não se torne piegas demais, demonstrando que você também tem bom humor, sabe rir das coisas, é leve e descontraído. Em outras palavras, a sua imagem vai bombar na rede social!
Por fim, procure relaxar, fazer alongamento e cultivar a sua espiritualidade. Esteja em comunhão com o mundo a sua volta, abra os seus chacras para o universo, libere as energias negativas, medite. Nada é tão moderno quanto meditação. Sinta-se leve, imagine-se nas montanhas, feche os olhos, relaxe. Desprenda-se dos bens materiais, nada disso tem valor. Esqueça seus problemas, concentre-se no seu bem estar. Nada é tão importante quanto o bem-estar... Medite... Esteja preparado para a nova era de aquário. Peça a luz inefável dos extraterrestres, eles estão ai, acredite neles! Sinta a terra, o ar, a água, a vibração de todas as coisas. Sinta! Entre em transe. Esteja em sintonia com tudo... Esqueça a modernidade, tudo não passa de futilidades. Encontre o seu eu interior. Faça as pazes consigo mesmo, com o seu espelho, com a sua aura. Siga o seu guia, o seu guru, este alguém pode lhe ajudar nesta jornada. Mas nunca, nunca se esqueça! Quando encontrar o seu caminho relate, escreva um livro, compartilhe, dê a sua opinião! Conte a sua experiência! O mundo precisa conhecer você! Valorize as suas qualidades! Busque a felicidade! Seja você mesmo!
(E tem coisa mais chique que terminar um texto num tom tão triunfante e, ainda, concluindo com o título, jogado assim, de repente, fechando o círculo. Uma linguagem solta, quebrada, bem moderna. O título em inglês! Entendeu a jogada poética? Muito chique! Conversas soltas com o leitor, texto criativo, este final inesperado... Tudo muito moderno, muito up to date!, quase pós-moderno, entendeu?).