quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Teddy

Um gênero muito interessante, que mescla as aventuras, as cores, os signos e a multiplicidade de personagens e possibilidades do romance com a realidade, com aquilo que há de mais concreto e verdadeiro, como a história, é aquele da biografia. Sempre achei surpreendente conhecer a vida de pessoas, que por vezes é tão fantástica que beira o inverossímil.
Estou lendo Lion in the White House – A life of Theodore Roosevelt, de Aida D. Donald. A cada página virada minha admiração pelo espírito americano aumenta e minha vergonha pela política nacional se supera.
Teddy – como é carinhosamente chamado pelos compatriotas esse presidente americano – foi um exemplo de nobreza, coragem, caráter, virtuosidade, força e incontáveis outros adjetivos. Acho bom perceber como seres humanos concretos, em sua singularidade, levaram a história para este ou aquele caminho, o que me vacina contra a tendência racionalista de olhar o passado que reina hoje em dia.
Eu não sabia disso e penso que muitos também não sabem. Teddy ganhou a medalha de honra por liderar um dos regimentos que libertou Cuba dos espanhóis, antes de se tornar presidente ou mesmo de ser governador de Nova York, como sucedeu posteriormente. Curioso, não é? Não somente foram os americanos que livraram a ilha caribenha dos colonizadores, mas também foi um dos membros da elite branca de olhos azuis quem colocou o peito à mostra para o perigo das balas. Naquele tempo, em 1898, a guerra era muito diferente. Foram todos ou a pé ou a cavalo, com pistolas e rifles, alguns poucos canhões. E mais, o comandante não ficava apenas sentadinho atrás da tropa, dando ordens em local seguro. Pelo contrário, Teddy era o primeiro da fila, encorajando todos os soldados.
Quanta coisa podemos esquecer e quanto deixamos de compreender, quando ignoramos nosso passado. Em tempos de nunca antes na história desse país, o esquecimento é coroado. Os mocinhos com a vermelhinha camiseta guevarista acreditam que Cuba libre não passa de um drink da balada, ou de um grito comunista contra o Tio Sam. Barbaridade! – diria meu avô.
Que tal uma espiadinha no que ocorreu naquela guerra?
“Under their aggressive colonel the Rough Riders were the first cavalry forces ashore. The nearsighted Roosevelt, who had twelve pair of eyeglasses sewed into his hat and other places, was on Cuban soil, spoiling for a fight. Neither he nor anyone else saw any Spaniards, and not a shot was fired to impede the landing. The American troops yelled, “Viva Cuba libre”. Their Cuban rebel allies replied, “Viva los Americanos”. The Rough Riders ran up the first American flag over Cuba, and the band played “The Star-Splangled Banner”. It was a picture-perfect beginning to what would become a bloody battle for Cuban freedom and, in Roosevelt’s view, American manhood. For the Spanish, it was the beginning of the end of their 382-year rule over Cuba, the jewek of its western empire”.
Esse foi o começo tranqüilo da sangrenta batalha que esperava por Teddy. Sem comida, com pouca munição, e vestidos por mais de um mês com as mesmas roupas, a tropa seguiu bravamente pela libertação cubana. Quando os soldados estavam famintos, Teddy esvaziou os próprios bolsos para comprar suprimentos. Ao final, foi homenageado:
“In September, Roosevelt’s First Volunteer Cavalry presented their commander with a Frederic Remington sculpture called the Bronco Buster. He responded to the honor by saying that he was proud of his regiment because it was an American troop composed of men of all the different races who had, either by inheritance or adoption, made America their country. He closed with a tribute to the brave black soldiers who fought with the Rough Riders”.
Mas Teddy não foi somente este corajoso guerreiro. Homem de estudos e de talento, foi o criador do Canal do Panamá e pai da marinha moderna americana, escreveu livros e mais livros, com altíssima qualidade literária, como prenunciavam seus escritos na juventude e seu desempenho invejoso na Universidade de Harvard. Desenvolveu estudos sobre a natureza, lançando obras sobre o Wild West, sobre a vida que levavam os rancheiros e cowboys e mais tarde viria a criar os parques nacionais dos EUA. Conta-se que um dia, numa caçada, ele poupou um pequeno urso por piedade, fato que deu origem ao nome Teddy Bear. Não é sem razão que o Museu de História Natural de Nova York tenha dedicatórias e mais dedicatórias a ele.
As crianças de hoje talvez não compreendam como o fraco personagem do filme, interpretado por Robin Williams, foi um grande presidente. É bom lembrar, então, que a Noite no Museu é a ficção, a realidade – ah! – a realidade é muito mais interessante...

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