sexta-feira, 16 de novembro de 2012




Doença: antes de mais nada, tudo depende de quem está doente, de quem está louco, epiléptico, paralítico – uma pessoa medianamente tola, em cujo caso a doença prescinde do aspecto intelectual ou cultural, ou um Nietzsche, um Dostoiévski. Em ambos os casos, aquilo que resulta da doença é mais importante e estimulante para a vida e sua evolução do que qualquer normalidade aprovada do ponto de vista médico. A verdade é que a vida nunca prescindiu da doença, e dificilmente haverá uma afirmação mais idiota do que “a doença só pode gerar coisas doentias”. A vida não é suave com as pessoas, e podemos dizer que ela prefere mil vezes a doença criativa, doença que enfrentará os obstáculos a cavalo, saltando de rocha em rocha com audaz embriaguez, à saúde que anda a pé. A vida não é delicada e está longe de querer fazer qualquer distinção moral entre saúde e doença. A vida toma o resultado ousado da doença, ingere-o, digere-o e, da maneira que ela o acolhe, aquilo significa saúde. Toda uma horda e geração de rapazes receptivos e saudáveis se lança sobre a obra do gênio doente, transformado em gênio pela doença, admirando, elogiando, elevando, prosseguindo, transformando, legando-a para a cultura que não vive apenas do pão ordinário da saúde. Todos se declararão fiéis ao nome do grande enfermo, todos eles que, graças à sua insanidade, não precisam mais ficar insanos. De sua insanidade eles haverão de se alimentar, saudáveis, e neles ele haverá de ser saudável." (Thomas Mann, “O escritor e sua missão”, p. 124/125, Ed. Jorge Zahar)



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