domingo, 30 de outubro de 2011

Labirinto

Para onde?
E agora?

Parece que não tem fim...
Fiz, desfiz...
Montei, desmontei...
Fui e já voltei! Repito: Já voltei!

Não sei, mas acho que o problema é que ultimamente só quero desfazer, desmontar, voltar...
Chego à loucura de desfazer o desfeito, desmontar o desmontado, ficar atordoado.
Já nem sei mais qual a finalidade, só quero ter o prazer de estragar tudo!

Mas será isso mesmo?
Nada me satisfaz! Não, não, não me venha falar que o homem é insaciável e blá, blá, blá... Quero encontrar qualquer coisa que eu faça com liberdade, seja lá o que isso queira dizer... Quero poder fazer, nem que seja só por uma vez, um só gesto, mas totalmente desejado, plenamente consentido, gratuito, inconseqüente e com toda a força do coração! Será possível? Será possível!? Será possível!?

O pássaro continua enjaulado
é o carcará domesticado...
Esqueceu-se que não tem o mapa
não lhe ensinaram o caminho
soltaram-lhe no mundo
com um coração
e mais nada...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bravo, maestro!

Muito se fala e se escreve sobre o pianista e maestro João Carlos Martins. Assim, fica difícil conter expectativas. E a grande expectativa cria o risco de uma frustração que pode ocultar o verdadeiro valor de um acontecimento. Como quando vamos a um livro “clássico” esperando algo que ele não é. Às vezes, ele é até mais do que se esperava, mas a sensação de desapontamento acaba prejudicando a leitura. O presente caso, porém, foi daqueles raros em que uma grande expectativa (inevitável ante a fama do maestro) correspondeu à realidade dos fatos (e até mesmo foi surpreendida pelos fatos).

Foi uma noite bastante especial, afinal não é sempre que uma cidade do interior recebe uma filarmônica com seu famoso maestro. Porém, à parte o “burburinho” do acontecimento cultural e a bela apresentação, foi, talvez, no silêncio que se perfez o grande concerto da noite: nas pausas, no intervalo entre as notas, nos segundos que antecederam a entrada, naqueles logo após o final, para além do sujeito bonachão e de sua biografia incrível, por trás da orquestra, por baixo do piano e das cortinas, no piscar dos olhos do público. Naquele espaço entre mundos em que a graça vagueia e dança, toca a história dos homens e transfigura a música numa grande prece.

Assim fez sua visita, trazendo consigo a lembrança de que a perfeição já é vitoriosa e a força da verdade se impõe por si mesma, submetendo todo orgulho e prepotência, toda ignorância, toda rebeldia. Em meio à barulhenta e confusa realidade fomos conduzidos para muito além da pobre experiência de nossos dias. E a grande arte comoveu, imensamente, a todos. Sob os olhos frustrados dos que subestimam o coração humano e relativizam o absoluto valor da beleza, todos, todos se comoveram. Porque no silêncio se deixaram levar pela inocente esperança que soou das cordas, o seu grito sutil e poderoso, capaz de calar profundamente toda iniqüidade.

O maestro, nesta hora, foi o juiz. De sua batuta veio a ordem. E obedecemos em coro, entoando este hino. Não pelo medo ou pela força bruta, mas porque estávamos completamente tomados pela autoridade da beleza. Sem explicação, sem argumento, sem protesto, simplesmente dissemos sim. E a magnitude deste acontecimento fez migalha de todo resto. Soprou a poeira embolorada dos ruídos, da vergonha, da sujeira. Impôs-se soberana e, num instante, tornou miúda e fraca a violência e a maldade dos homens.

Alegoria da salvação, esta noite de orquestra acontecida na cidade. Raro momento em que pela fresta brilhou a luz intensa. E bastou a fresta (sempre basta...) para que cumprisse o seu milagre. Assim, ao fim da noite, voltamos todos para casa, felizes, inspirados e com coragem para enfrentar a vida. E o maestro-pianista, sob aplausos, despediu-se agradecendo por mais uma vez ter cumprido seu papel.