terça-feira, 15 de outubro de 2013
Sobre Caminhança
Bom dia, João Augusto,
Sou obcecada por terminar tudo o que começo. Por isso, comecei a ler seus textos e terminei, mesmo que isso tenha me custado grande parte da noite de sono. Aliás, não só por isso, mas também porque a leitura estava bastante agradável.
Resolvi escrever minhas impressões para que elas não se dispersassem.
Essa leitura apenas ratificou todos os meus pensamentos a seu respeito. Você é uma pessoa tão íntegra, humilde, honesta, culta... e principalmente, você é tão honesto consigo mesmo. Você nem imagina o quanto eu o admiro.
Aliás, acho que essa é a fonte de tantas crises com o Direito e com o concurso para a magistratura: sua honestidade. Você se recusa a se render às fórmulas prontas... a ser um “concurseiro padrão”.
Por outro lado, dessa forma você prolonga os anos de reprovações e, consequentemente, o tempo de estudo e as crises (que você acha que são relacionadas à sua vocação, mas, no meu modo de ver, não são).
Para mim, sua vocação é muito nítida. Acho que você seria um ótimo advogado, você é um servidor exemplar, pelo que tenho acompanhado, mas você nasceu para a magistratura. É evidente também que você tem alma de artista e que seria um escritor fabuloso. Porém, você não precisa optar entre ser juiz ou ser artista. Você tem duas vocações conciliáveis.
Especificamente, em relação ao concurso, você está em um círculo vicioso, na minha opinião: se recusa a ser um “concurseiro padrão”, ainda que, dessa forma, demore mais para ser aprovado, o que, de fato, vem ocorrendo; em razão dessa demora e das sucessivas reprovações, você questiona sua vocação e entra em crise, o que faz com que, momentaneamente, você se distancie de seu objetivo (o concurso, que, por algum tempo, deixa até de ser o objetivo); durante a crise, sua veia artística se aflora e você se aproxima da literatura ou do teatro; mas, por fim, sua outra vocação (a magistratura) te chama à razão e você retoma os estudos com afinco, mas, ainda assim, sem se render às formulas prontas...e assim sucessivamente.
Apesar de concordar com você, apesar de achar medíocre esse estudo “decoreba” que os examinadores normalmente esperam dos candidatos, do jeito que as coisas caminham você só faz com que suas angústias se prolonguem.
Acredite: você tem vocação para ser juiz. Você é uma grande fonte de inspiração para mim. É uma pessoa coerente e com um imenso senso de justiça. Não duvide disso em nenhum momento. As reprovações não devem gerar tal questionamento, até mesmo porque foi você quem escolheu o caminho mais longo conscientemente. E se não o fez conscientemente, tome agora consciência disso.
Você é uma pessoa tão inteligente e erudita. Merece muito ser aprovado. Mas, se você quiser passar logo, vai ter de sacrificar-se por um estudo medíocre. É triste, mas é a realidade...são essas as regras do jogo. Para minimizar essas crises e as dúvidas quanto à sua própria vocação, recomendo que você seja menos honesto consigo mesmo, apenas por algum tempo. Assim, você será provavelmente aprovado mais rapidamente, e essa angústia terminará.
Duvido que você concorde comigo, pois você é uma pessoa fiel aos seus ideais. Nada mudará. Você se recusará a ser uma pessoa medíocre, que faz leituras medíocres...então, só me resta pedir a você que não duvide mais da sua vocação, encare com naturalidade as batalhas perdidas, e espere pacientemente o seu momento.
Vou continuar refletindo sobre o que li. A propósito, suas poesias são lindas e eu adorei os textos sobre os planos para a aposentadoria. Você é genial.
Enfim... quero te ver feliz.
Magistrada amiga, recém-empossada.
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Enfim, gostei muito da epístola e, com certeza, também será de grande valia aos demais caminhantes.
ResponderExcluirGostei! Acho que de fato a magistrada amiga gosta de você. Muito sincera e sensível às suas (nossas) crises. Bela epístola!
ResponderExcluirP.S. Pobre moça apaixonada... precisa conhecer melhor esse caipira-poeta namorador... risos