"Nós perdemos a simplicidade" - talvez seja esta a mais terrível das acusações pronunciadas contra o nosso tempo. Dizer isto não é necessariamente condenar o progresso da ciência e da técnica de que o nosso mundo tanto se orgulha. U, tal progresso em si é admirável. Mas é reconhecer que este progresso não se realizou sem um detrimento considerável no plano humano. O homem, orgulhoso da sua ciência e das suas técnicas, perdeu qualquer coisa da sua candura.
Apressemo-nos a dizer que não havia somente candura e simplicidade nos nossos antepassados. O Cristianismo tinha conquistado a antiga sabedoria nascida do contato do homem com a terra. E havia ainda sem dúvida mais terra do que Cristianismo em bom número dos nossos avós. Mais matéria do que graça. Mas o homem tinha nesse tempo raízes poderosas. Tanto os impulsos da fé, como as fidelidades humanas, apoiavam-se sobre adesões vitais e instintivas particularmente fortes. Estas não se encontravam de modo algum abaladas nem enfraquecidas. o homem participava do mundo com simplicidades.
Perdendo esta simplicidade, perdeu também o segredo de ser feliz. Toda a ciência e todas as suas técnicas o deixam inquieto e sozinho. Sozinho diante da morte. Sozinho perante as suas infidelidades e as dos outros, no meio do grande rebanho humano. Sozinho na luta contra os demônios que o não largam. Em certos momentos de lucidez, o homem compreende que nada, absolutamente nada, poderá dar-lhe uma profunda e alegre confiança na vida senão um regresso às fontes, que seja ao mesmo tempo um retorno ao espírito de infância. A palavra do Evangelho nunca surgiu tão luminosa de humana verdade: " Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus".
(Elói Leclerc, prefácio do livro "Sabedoria dum Pobre")
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