domingo, 30 de junho de 2013

Primeiros sinais...


Será a hora? Encerraram-se definitivamente os trabalhos? Estas palavras, esta escrita (derradeira?), com que propósito? Sinto doer as vísceras à procura de um tema ou, mais que isto, de uma forma. Outras vezes já cantamos aqui a ausência Dela. Mas este novo silêncio é morte ou espera? Quando tudo tende ao óbvio, ao trivial e pior, ao lugar-comum, apenas entrego alguns minutos defronte o papel, como se Lhe dedicasse uma oração, implorando Sua visita. Meu pensamento se decanta no discurso pobre e positivo das letras de lei, literalmente. Toda metáfora me escapa, pois estou intoxicado do que se apresenta como o único real. A banalidade da superfície soberba que toma o lugar do todo. Enganadora e meretriz. Ridícula no sorriso bajulador de homens de terno e gravata, trágica no desespero de jovens sedentos de estabilidade. O concurso, o discurso, o recurso. A quem? A quem recorrer da estúpida rima? Quem me salvará desta vez? Adélia, Suassuna, Tolentino? Chagall, Pirandello, Mozart? Que nova descoberta me demoverá desta crua certeza de que as ruas me conduzirão apenas ao corredor abarrotado de homens em busca de sobrevivência? Procuro a pequena fresta, onde se abrirá? Ela que já me salvou tantas vezes... Sem meu coração livre, sei que não será possível. É pequenina, mas necessita de grande espaço. Um espaço infinito de intimidade. Sofro de saudades. Não de nostalgia, que é pura ausência, mas de saudades, que é mistério de presença... Espera... Esperança. 




Fecho os olhos e antevejo surgir dos escombros da cidade de cimento as montanhas de um belo condado. Em uma das varandas das inúmeras casas ricamente ornamentadas, vejo um velho sentado e sua longa barba. Seu cajado, a espada. Este lugar que é uma fortaleza e um verdadeiro castelo murado. O epicentro da resistência contra as largas avenidas automobiliadas e os edifícios de concreto e ferro espelhados. Por si mesmos inocentes, não fosse a alma que os planejou, numa arquitetura de maldição. Sim, é Ela! A imagem do condado, o velho sentado, a anunciada guerra contra a deformidade... São sinais. Respiro consolado. Sob a Sua inspiração? Discreta e delicada se apresenta em alguma fresta ainda não descoberta. Oferece esta pouca alegria, que já me faz seguir em paz. Aceito mais este convite e espero. Ela saberá a hora.